O episódio do tríplex do Guarujá, pelo capítulo atual, deixou o ex-presidente Lula em situação muito difícil diante da opinião pública, já que sua versão derradeira colide fortemente com aquela que a antecedeu de poucos dias. Basta ler a reportagem de O Globo e a de O Estado de São Paulo, ambas publicadas nas edições de segunda-feira, 01, para que se destaque uma e outra. A reportagem de O Estado de São Paulo é de Letícia Soro e Eduardo Kattah. A de O Globo não foi assinada. Não tem importância.
A primeira versão, a veiculada pelo advogado do ex-presidente é ridícula. Pois como o comprador opcional de um apartamento tríplex resolve resgatar a quota de 47 mil reais que lhe cabia no empreendimento para resgatar tal valor e desistir da transação? Não vale a pena sequer opinar sobre as sombras que tornam nada nítido o desencontro de vontades. O advogado, certamente, deverá se demitir da função que aceitou ou então dela ser demitido.
As datas, inclusive, são discrepantes. Pela nova explicação de Lula, veiculada pelo Instituto que leva seu nome, portanto de fonte insuspeita para o antecessor de Dilma Rousseff, está menos distante da verdade: a desistência foi firmada em novembro de 2015, há pouco mais de dois meses. Nela, a explicação, Luis Inácio da Silva confirma a informação do zelador do prédio, que visitou a obra em companhia da Sra. Marisa Letícia, e do empresário Léo Pinheiro, então presidente da OAS. A OAS encontra-se envolvida no assalto aos contratos da Petrobrás. E Léo Pinheiro, condenado por corrupção, está preso no Paraná.
LACERDA E JUSCELINO
A embriaguez do sucesso é um dos maiores perigos que ameaçam os que ocupam o poder e podem acionar a caneta mágica que os fascina, tanto quanto os empresários que deles conseguem se aproximar, lançando na mesa os dados da sorte e dos prazeres aparentes e tocáveis da realidade. Os empresários sabem como agradar, aproximarem-se e até se tornarem íntimos. Executivos preparados e especialistas em em tais tarefas, que são múltiplas, não faltam. E são bem remunerados de acordo com os reflexos que são capazes de produzir.
Mas falei no fascínio, pode-se dizer hipnótico dos tríplex. O que seria destinado a Lula, ao qual a repercussão pública o levou a recuar, não foi o único da história. Não foi o primeiro e, ao que os sintomas indicam, tampouco será o último. Carlos Lacerda, quando governador da antiga Guanabara, de 60 a 65, morava na Praia do Flamengo quase esquina com Conde Baependi. Tinha um duplex. Resolveu ingressar no clube dos que possuíam um tríplex. Executou uma obra para concretizar seu objetivo. O arquiteto chamava-se Alberto Pucheu, pai de um amigo de quase 60 anos.
O presidente Juscelino Kubitschek, que governou o país de 56 a janeiro de 61, no final de seu mandato foi morar num tríplex na Avenida Vieira Souto, quase ao lado da Casa de Cultura Laura Alvim. O clube seleto deve ter maior número de integrantes, mas há uma diferença em relação a Lula. Não foram construídos por empresas envolvidas em escândalos, tampouco os empresários estavam na cadeia. Conheci o de JK, ao entrevista-lo para o Correio da Manhã, em 63. Ele falou sobre o projeto de vencer as eleições de 65. Infelizmente ele não voltou. Começava a ditadura militar.
03 de fevereiro de 2016
Pedro do Coutto
03 de fevereiro de 2016
Pedro do Coutto
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