Há um massacre silencioso dos empregos nas grandes metrópoles do país. Desde que os dados permitem comparações, faz uma dúzia de anos, não se via coisa assim. Em um ano, o número de desempregados cresceu 56% —antes, o pior número fora de 22%, em 2003. São mais 670 mil pessoas que não conseguem emprego, segundo se soube ontem pelos dados do IBGE relativos a setembro.
Ante setembro de 2014, o pessoal empregado caiu 1,8%, jamais registrado na série de dados nova do IBGE. O total dos rendimentos caiu mais de 6%. O rendimento familiar per capita, 4,8%. A degradação vem sendo acelerada desde junho.
A taxa de desemprego está em 7,6%. Na média de 2015, deve ficar perto de 7%. Para o ano que vem, as previsões ficam entre 9% e 10%. O desemprego médio do ano passado ficou perto de 5%.
"A incerteza do cenário doméstico se mantém elevada e inibe os investimentos. A retração na atividade deve ser mais longa —profunda— do que antecipávamos. Os indicadores antecedentes e coincidentes mostram que a tendência de contração da economia deve estender-se pelo menos até o fim deste ano", lê-se no "Orange Book" dos economistas do banco Itaú, uma avaliação qualitativa da economia, baseada em conversas e avaliações com empresas, relato publicado faz uma semana.
Pelo relato de dois outros bancos, também baseados em conversas com clientes e setor "real" da economia, setembro e outubro estão sendo muito ruins para o crédito, termômetro antecipado de problemas. A demanda de novos empréstimos caiu mais. Os bancos reforçam a retranca, pois o balanço das empresas piora, dado faturamento minguante e endividamento maior, bem maior, para algumas firmas grandes, com compromissos em dólar.
Por que massacre "silencioso"? Em parte, porque as notícias do desemprego são abafadas pela conversa sobre a ruína progressiva das contas do governo e pelo debate político mefítico. Em parte porque, apesar da degradação rápida do trabalho, o nível médio dos rendimentos ainda seja o melhor em muito tempo, embora já tenha regredido para o que era em 2012.
Também importante, é possível que a situação no restante do Brasil, além das seis maiores metrópoles, ainda não seja tão ruim. Vamos saber disso apenas na semana que vem, quando saem os dados nacionais de desemprego.
Os dados mais recentes da pesquisa nacional são do trimestre encerrado em junho. Então, a população ocupada aumentava ainda 0,2%. A desocupada, crescia bem, 23,5%, mas abaixo da taxa de 38,7% das grandes metrópoles. O rendimento médio nacional crescia 1,4%; nas maiores cidades, caía 3,6%. Todas as comparações são anuais.
O motivo da discrepância não é muito claro. Obviamente, o massacre do emprego industrial afeta cidades maiores. O caso é menos incerto no que diz respeito à construção civil, outro setor em que a razia do trabalho é horrenda. Pode ser ainda que regiões mais pobres do país contem com um colchão relativamente mais alto para a crise, dada a dependência relativamente maior do dinheiro de transferências do governo (benefícios sociais).
Mas a situação já é bastante ruim; como o emprego tende a piorar mais tarde nas crises, a crise social deve gritar em breve.
23 de outubro de 2015
Vinicius Torres Freire
Ante setembro de 2014, o pessoal empregado caiu 1,8%, jamais registrado na série de dados nova do IBGE. O total dos rendimentos caiu mais de 6%. O rendimento familiar per capita, 4,8%. A degradação vem sendo acelerada desde junho.
A taxa de desemprego está em 7,6%. Na média de 2015, deve ficar perto de 7%. Para o ano que vem, as previsões ficam entre 9% e 10%. O desemprego médio do ano passado ficou perto de 5%.
"A incerteza do cenário doméstico se mantém elevada e inibe os investimentos. A retração na atividade deve ser mais longa —profunda— do que antecipávamos. Os indicadores antecedentes e coincidentes mostram que a tendência de contração da economia deve estender-se pelo menos até o fim deste ano", lê-se no "Orange Book" dos economistas do banco Itaú, uma avaliação qualitativa da economia, baseada em conversas e avaliações com empresas, relato publicado faz uma semana.
Pelo relato de dois outros bancos, também baseados em conversas com clientes e setor "real" da economia, setembro e outubro estão sendo muito ruins para o crédito, termômetro antecipado de problemas. A demanda de novos empréstimos caiu mais. Os bancos reforçam a retranca, pois o balanço das empresas piora, dado faturamento minguante e endividamento maior, bem maior, para algumas firmas grandes, com compromissos em dólar.
Por que massacre "silencioso"? Em parte, porque as notícias do desemprego são abafadas pela conversa sobre a ruína progressiva das contas do governo e pelo debate político mefítico. Em parte porque, apesar da degradação rápida do trabalho, o nível médio dos rendimentos ainda seja o melhor em muito tempo, embora já tenha regredido para o que era em 2012.
Também importante, é possível que a situação no restante do Brasil, além das seis maiores metrópoles, ainda não seja tão ruim. Vamos saber disso apenas na semana que vem, quando saem os dados nacionais de desemprego.
Os dados mais recentes da pesquisa nacional são do trimestre encerrado em junho. Então, a população ocupada aumentava ainda 0,2%. A desocupada, crescia bem, 23,5%, mas abaixo da taxa de 38,7% das grandes metrópoles. O rendimento médio nacional crescia 1,4%; nas maiores cidades, caía 3,6%. Todas as comparações são anuais.
O motivo da discrepância não é muito claro. Obviamente, o massacre do emprego industrial afeta cidades maiores. O caso é menos incerto no que diz respeito à construção civil, outro setor em que a razia do trabalho é horrenda. Pode ser ainda que regiões mais pobres do país contem com um colchão relativamente mais alto para a crise, dada a dependência relativamente maior do dinheiro de transferências do governo (benefícios sociais).
Mas a situação já é bastante ruim; como o emprego tende a piorar mais tarde nas crises, a crise social deve gritar em breve.
23 de outubro de 2015
Vinicius Torres Freire
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