Gravíssima a denúncia feita pelos oito senadores que foram e voltaram da Venezuela sem sair das proximidades do aeroporto de Caracas: o ministro da Relações Exteriores, Mauro Vieira, teria instruído o embaixador do Brasil naquele país, Rui Pereira, a não acompanhar a comitiva, que apenas cumprimentou na chegada e na saída, inclusive sem deixar nenhum diplomata à disposição deles. A ordem teria partido do palácio do Planalto, com a presidente Dilma irritada pela intervenção de parlamentares oposicionistas nos negócios internos de um país nosso limítrofe.
Aécio Neves, Aloísio Nunes Ferreira, Ronaldo Caiado, Cassio Cunha Lima, Ricardo Ferraço e outros adversários do governo estavam dispostos a visitar o líder Leopoldo Lopes, da oposição venezuelana, preso há um ano e em greve de fome. Viajaram em avião da Força Aérea, ou seja, em missão oficial do Legislativo, mas foram sabotados pelas autoridades locais, com o ônibus contratado para transportá-los preso em misterioso engarrafamento e atacado a pedradas por bem organizado grupo de baderneiros.
Para os senadores, tudo foi tramado pelo governo do presidente Maduro, com conhecimento do Itamaraty e do governo brasileiro. Assim, convocaram o chanceler para dar explicações na quinta-feira, na Comissão de Relações Exteriores. Estavam em missão humanitária, para visitar os diversos presos políticos isolados numa penitenciária perto de Caracas e tentar convencer um deles a interromper a greve de fome, que já dura 25 dias.
Essa é a versão dos senadores. Para o Itamaraty, não houve qualquer entendimento com autoridades venezuelanas a respeito da viagem dos senadores. Assim que soube do constrangimento por que passaram os senadores brasileiros, o ministro Mauro Vieira telefonou para a ministra do Exterior da Venezuela, Delcy Rodrigues, pedindo explicações, ao tempo em que o secretário-geral, Sergio Danese, com a mesma finalidade, convocou a embaixadora Maria de Loudes Urbanejas. Nenhuma operação foi combinada entre as duas chancelarias, rebate o Itamaraty. Marco Aurélio Garcia, assessor internacional da presidente Dilma, criticou os senadores, acusando-os de criar problemas para o governo brasileiro, intrometendo-se nos negócios internos de um país amigo.
INVENÇÃO NÃO FOI
Não pode ter sido invenção de jornal ou de jornalistas o desabafo feito pelo Lula a um grupo de religiosos, quinta-feira, no instituto que leva o nome dele. Certamente tratou-se de um conversa descontraída, que alguém gravou. O ex-presidente é conhecido pela língua solta, mas, dessa vez, exagerou nas críticas à presidente Dilma, ao governo e ao PT. Queixou-se de que a sucessora não fala e não viaja, acontecendo o mesmo com seus ministros.
Exemplares do jornal O Globo, que publicou a demorada conversa do Lula com os padres, eram ontem disputados a tapa, em Brasília e fora de Brasília. Em qualquer país sério as considerações do ex-presidente gerariam rompimento imediato e explosivo por parte de Madame.
23 de junho de 2015
Carlos Chagas
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