Presidente da Câmara dos Deputados, Paes de Andrade foi à Alemanha participar de uma celebração internacional sobre o fim da II Guerra Mundial. Sentado ao lado do embaixador do Brasil, estava em um banquete, em Bonn, oferecido pelo Parlamento alemão, quando um secretário da embaixada brasileira aproximou-se do embaixador e lhe cochichou uma notícia ao ouvido.
O embaixador ficou perplexo, excitado e feliz. Automaticamente, pegou o copo de vinho, em frente, fez um brinde ao infinito, sorriu e não disse nada. Paes percebeu o estranho gesto, perguntou o que tinha havido.
– Nada demais, deputado. O Filinto Muller acaba de morrer em Paris, em um desastre de avião. Morreu como devia ter morrido: o avião se transformou numa câmara de gás. Os assassinos públicos devem morrer mesmo em câmeras, como cães danados.
Paes, cearense e cristão de alma generosa, que tinha se encontrado com Filinto na véspera, no Congresso, em Brasília, levou um susto:
– Por que esse ódio todo, embaixador?
– Ele torturou meu pai. Os verdugos de todos os tempos são iguais. Mais dia menos dia acabam pagando seus crimes.
E tomou gostosamente um gole de vinho, bebendo o gás de Filinto.
Dias depois, em Paris, Paes de Andrade me contou a historia:
– Nery, os pecados dos homens deixemos para Deus julgá-los. Mas os torturadores jamais terão o perdão da Historia.
NÃO À DITADURA
Vitorioso o golpe militar de 1964, Juscelino Kubitschek comandou o PSD e encontrou-se com o general Castelo Branco na casa do deputado Joaquim Ramos (PSD-SC). Falso de alma, Castelo jurou que, escolhido presidente da Republica, garantiria as eleições já convocadas para 1865.
JK levou o PSD a votar em Castelo e indicou José Maria Alkmin para vice. Só dois não foram na conversa de Castelo: Tancredo Neves e Paes de Andrade. Do plenário gritaram “nãos” que todo o Congresso ouviu. Ajudaram a fundar o MDB e resistiram à ditadura até o fim.
Nessa semana deixou-nos o queridíssimo Paes de Andrade. O Ceará tem o direito e o dever de chorar seu grande filho.
JARBAS
Em junho de 1971, o bravo Jarbas Vasconcelos, deputado estadual e presidente do MDB de Pernambuco, convocou um Seminário em Recife. Pedroso Horta, líder do partido na Câmara, mandou preparar um documento, redigido por Francisco Pinto (MDB-BA) e Paes de Andrade (MDB-CE) propondo Anistia e Assembleia Constituinte,
O Seminário quase termina em pancadaria. Clemens Sampaio, do MDB da Bahia, chamou Chico Pinto de “chefe dos comunistas”. Aprovado o documento dos “Autênticos”, Pedroso deu a Freitas Nobre para ler na Câmara. E pediu a Chico Pinto para falar pelo partido no Dia do Soldado.
O Diário Oficial ficou uma semana sem rodar, mas teve que publicar.
TESTAMENTO DE LULA
Desta vez Lula não vai poder desmentir o que falou, como faz sempre. No seu “Instituto Lula”, em São Paulo, reuniu bispos, padres, frades, freiras e seu assessor religioso o ex-ministro Gilberto Carvalho, para uma conversa sobre a situação nacional. E Lula falou e a imprensa deu:
- – “Dilma está no volume morto, o PT está abaixo do volume morto eu estou no volume morto. Todos estamos numa situação muito ruim”
- – “Acabamos de fazer uma pesquisa em Santo André e São Bernardo, e a nossa rejeição chega a 75%. Entreguei a pesquisa para Dilma, em que nós só temos 7% de bom e ótimo”.
- – “Aquele gabinete (presidencial) é uma desgraça. Não entra ninguém para dar uma notícia boa. Os caras só entram para pedir alguma coisa.”
- “- Os ministros têm de falar. Parece um governo de mudos. Os ministros que viajam são os que não são do PT. Kassab já visitou 23 estados, não sei quem já visitou não sei quantos.”
- – “Estamos há seis meses discutindo ajuste. Ajuste não é programa de governo. Depois de ajuste vem o quê?”
Nesse momento, Lula lembrou as promessas não cumpridas por Dilma durante a última campanha eleitoral.
– “ Tem uma frase da companheira Dilma que é sagrada: “Eu não mexo no direito dos trabalhadores nem que a vaca tussa”.
– “E mexeu. Tem outra frase, que é marcante, que é a frase que diz o seguinte: “Eu não vou fazer ajuste, ajuste é coisa de tucano”.
– “E fez . E os tucanos sabiamente colocaram Dilma falando isso (no programa de TV do partido) e dizendo que ela mente. Era uma coisa muito forte. E fiquei muito preocupado”.
Isso não é uma confissão. É um testamento. Para o “Lava-Jato”de Lula.
23 de junho de 2015
Sebastião Nery
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