A reação dos líderes políticos de Dilma Rousseff à notícia do Datafolha de que o governo é detestado por dois terços dos eleitores mostra o quanto essas pessoas estão desnorteadas. Estão sendo tomadas "medidas para reverter a situação", dizem: financiamento da agricultura (Plano Safra), concessões de infraestrutura, Minha Casa Minha Vida 3 e, agora, um "grande plano" de reforma agrária.
Parece alguém a dizer "sim, a casa está pegando fogo, mas vamos instalar uma torneira e colocar uns móveis novos no incêndio". Não cola nem como propaganda.
Compare-se essa conversa com a discussão econômica mais básica do momento: 1) A inflação e o arrocho de juros; 2) O fracasso parcial do reequilíbrio das contas do governo e a situação fiscal sombria dos próximos dois anos.
A "agenda positiva" do governo, para empregar essa expressão sebosa, não faz coceira nesses problemas. Está claro que o governo precisa ter planos além de arrochos, sem o que, aliás, nem os arrochos vão prestar. Mas reforma agrária, seja lá o que ainda for isso, e casa popular não têm nada a ver com tal programa econômico maior. De resto, nem vai haver dinheiro para tanto. Enfim, se o governo conseguir dar sentido prático à parte razoável do plano de concessões, seu efeito começará lá pela metade de 2016.
Pelas estimativas atuais, a regressão econômica que começou em 2014 vai além de 2016 (haverá redução do PIB, da renda ou produção média por cabeça). Se tudo der certo, zeram-se as perdas ao final de 2017. Ou seja, em 2018, teremos voltado a 2013, correndo o risco de estagnação crônica. Esse é o tamanho do problema, não a agenda de relações públicas da presidente.
Voltando à vaca fria no brejo de agora, considere-se a inflação.
A estimativa de inflação para este 2015 aumenta desde o início do ano: foi de 6,6% para 9%. A inflação prevista para 2016 continua no entanto mais ou menos na mesma desde janeiro. Era então de 5,7% e está em 5,5% desde o início de maio.
Portanto, a máquina de cuspir números dos economistas e suas calibragens arbitrárias diz pelo menos que a barriga de inflação deste ano será queimada na esteira do aumento de juros e pela recessão musculosa. Ou seja, o aumento de 2,4 pontos na expectativa de inflação para 2015 não será repassado para a inflação de 2016 graças a arrochos e crenças menos degradadas sobre o futuro.
Mas tudo isso quer dizer também que haverá ainda arrocho e recessão maiores ou duradouros para levar a inflação à meta. Muito mais arrocho para chegar à meta em 2016 (plano do BC); arrocho ainda para fazê-lo em 2017.
Quanto ao plano modesto de reequilibrar as contas do governo, ele faz água, pois a receita não sobe e Dilma 1 deixou despesas horríveis. Isso quer dizer que o arrocho de gastos e a derrama de impostos ainda vão longe.
Esses consertos rudimentares seriam facilitados se houvesse medidas extremas e imediatas (alta forte de impostos, privatizações, desvalorização extra do real) e um plano maior e de prazo mais longo (revisão duradoura de gastos, metas menores de inflação, mudanças institucionais em vários mercados). Em suma, o que os governos do PT, Dilma 1 em particular, não fizeram ou prejudicaram nos últimos sete anos, por aí.
23 de junho de 2015
Vinicius Torres Freire
Parece alguém a dizer "sim, a casa está pegando fogo, mas vamos instalar uma torneira e colocar uns móveis novos no incêndio". Não cola nem como propaganda.
Compare-se essa conversa com a discussão econômica mais básica do momento: 1) A inflação e o arrocho de juros; 2) O fracasso parcial do reequilíbrio das contas do governo e a situação fiscal sombria dos próximos dois anos.
A "agenda positiva" do governo, para empregar essa expressão sebosa, não faz coceira nesses problemas. Está claro que o governo precisa ter planos além de arrochos, sem o que, aliás, nem os arrochos vão prestar. Mas reforma agrária, seja lá o que ainda for isso, e casa popular não têm nada a ver com tal programa econômico maior. De resto, nem vai haver dinheiro para tanto. Enfim, se o governo conseguir dar sentido prático à parte razoável do plano de concessões, seu efeito começará lá pela metade de 2016.
Pelas estimativas atuais, a regressão econômica que começou em 2014 vai além de 2016 (haverá redução do PIB, da renda ou produção média por cabeça). Se tudo der certo, zeram-se as perdas ao final de 2017. Ou seja, em 2018, teremos voltado a 2013, correndo o risco de estagnação crônica. Esse é o tamanho do problema, não a agenda de relações públicas da presidente.
Voltando à vaca fria no brejo de agora, considere-se a inflação.
A estimativa de inflação para este 2015 aumenta desde o início do ano: foi de 6,6% para 9%. A inflação prevista para 2016 continua no entanto mais ou menos na mesma desde janeiro. Era então de 5,7% e está em 5,5% desde o início de maio.
Portanto, a máquina de cuspir números dos economistas e suas calibragens arbitrárias diz pelo menos que a barriga de inflação deste ano será queimada na esteira do aumento de juros e pela recessão musculosa. Ou seja, o aumento de 2,4 pontos na expectativa de inflação para 2015 não será repassado para a inflação de 2016 graças a arrochos e crenças menos degradadas sobre o futuro.
Mas tudo isso quer dizer também que haverá ainda arrocho e recessão maiores ou duradouros para levar a inflação à meta. Muito mais arrocho para chegar à meta em 2016 (plano do BC); arrocho ainda para fazê-lo em 2017.
Quanto ao plano modesto de reequilibrar as contas do governo, ele faz água, pois a receita não sobe e Dilma 1 deixou despesas horríveis. Isso quer dizer que o arrocho de gastos e a derrama de impostos ainda vão longe.
Esses consertos rudimentares seriam facilitados se houvesse medidas extremas e imediatas (alta forte de impostos, privatizações, desvalorização extra do real) e um plano maior e de prazo mais longo (revisão duradoura de gastos, metas menores de inflação, mudanças institucionais em vários mercados). Em suma, o que os governos do PT, Dilma 1 em particular, não fizeram ou prejudicaram nos últimos sete anos, por aí.
23 de junho de 2015
Vinicius Torres Freire
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