A instabilidade que atinge o governo mudou de lugar. Mudou também de motivação, de forma e de intensidade.
O impeachment calou, por pressão dos mais lúcidos do PSDB contra o rock pauleira de Aécio e sua banda. Enquanto soou, Dilma Rousseff pôde ter noção do volume e da natureza do adversário. Joaquim Levy não tem como fazê-lo: a seu respeito, tudo se passa em sussurros.
Em áreas que esperavam regozijar-se com a nova política econômica do governo, aumentam muito os sinais confiáveis de uma inquietação já vista em ocasiões um tanto distantes, quase esquecidas, mas de fins conhecidos. Foram as fases em que movimentações sub-reptícias corroíam o chão de Delfim Netto, Dilson Funaro, Bresser-Pereira, e tantos outros a quem estiveram atribuídos apoios amplos e a imagem de representatividade de fortes setores empresariais. O capítulo final dessas movimentações foi sempre o mesmo.
Distante de percepções públicas, dissemina-se entre empresários importantes a desconfiança –se não mais– de que Joaquim Levy não é o homem certo no lugar certo. Não falta nem a opinião de que não o é apenas na situação atual de agravamento, mas já não era ao ser escolhido –o que se teria mostrado na ausência de efusividade empresarial quando apresentado por Dilma para a Fazenda.
A aceleração dos indicadores negativos está vista, na inquietação, como evidência de que nada se passa conforme o previsto e dito por Levy, faltando-lhe portanto controle sobre o fundamental. Dessa visão decorrem vários temores, dos quais um dos maiores ainda não teve, por cautela, nem simples menção: o temor de que não se esteja longe de uma quebradeira, que se insinua nas demissões em massa, na redução dos turnos de trabalho e já no encerramento de comércios e indústrias.
O desemprego crescente traz consigo o temor empresarial de reativação do movimento sindicalista, com agitações mais propensas às violências hoje comuns à maioria das manifestações reivindicatórias. Com as próprias previsões da Fazenda, do Planejamento e do Banco Central adiando para o final de 2016 o que Levy anunciava para este ano, tudo já fora de controle –como o desemprego e a inflação– só pode agravar-se e agravar os riscos temidos. E nem ao menos o grande objetivo do "ajuste fiscal" foge à regra da falta de controle, já reduzida a previsão de superávit à metade daquele mínimo que justificou toda a nova política econômica. E a nomeação do próprio Levy.
Não se notam sinais de que o mal-estar com a condução do "ajuste" esteja percebido na Presidência. Se já está, Dilma, ainda que possa querer, não tem muito o que fazer em proteção a Joaquim Levy, por falta de condições políticas e de quaisquer outros possíveis apoios.
Situações como a atual são, às vezes, como jogo de paciência. Às vezes.
23 de junho de 2015
Jânio de Freitas
O impeachment calou, por pressão dos mais lúcidos do PSDB contra o rock pauleira de Aécio e sua banda. Enquanto soou, Dilma Rousseff pôde ter noção do volume e da natureza do adversário. Joaquim Levy não tem como fazê-lo: a seu respeito, tudo se passa em sussurros.
Em áreas que esperavam regozijar-se com a nova política econômica do governo, aumentam muito os sinais confiáveis de uma inquietação já vista em ocasiões um tanto distantes, quase esquecidas, mas de fins conhecidos. Foram as fases em que movimentações sub-reptícias corroíam o chão de Delfim Netto, Dilson Funaro, Bresser-Pereira, e tantos outros a quem estiveram atribuídos apoios amplos e a imagem de representatividade de fortes setores empresariais. O capítulo final dessas movimentações foi sempre o mesmo.
Distante de percepções públicas, dissemina-se entre empresários importantes a desconfiança –se não mais– de que Joaquim Levy não é o homem certo no lugar certo. Não falta nem a opinião de que não o é apenas na situação atual de agravamento, mas já não era ao ser escolhido –o que se teria mostrado na ausência de efusividade empresarial quando apresentado por Dilma para a Fazenda.
A aceleração dos indicadores negativos está vista, na inquietação, como evidência de que nada se passa conforme o previsto e dito por Levy, faltando-lhe portanto controle sobre o fundamental. Dessa visão decorrem vários temores, dos quais um dos maiores ainda não teve, por cautela, nem simples menção: o temor de que não se esteja longe de uma quebradeira, que se insinua nas demissões em massa, na redução dos turnos de trabalho e já no encerramento de comércios e indústrias.
O desemprego crescente traz consigo o temor empresarial de reativação do movimento sindicalista, com agitações mais propensas às violências hoje comuns à maioria das manifestações reivindicatórias. Com as próprias previsões da Fazenda, do Planejamento e do Banco Central adiando para o final de 2016 o que Levy anunciava para este ano, tudo já fora de controle –como o desemprego e a inflação– só pode agravar-se e agravar os riscos temidos. E nem ao menos o grande objetivo do "ajuste fiscal" foge à regra da falta de controle, já reduzida a previsão de superávit à metade daquele mínimo que justificou toda a nova política econômica. E a nomeação do próprio Levy.
Não se notam sinais de que o mal-estar com a condução do "ajuste" esteja percebido na Presidência. Se já está, Dilma, ainda que possa querer, não tem muito o que fazer em proteção a Joaquim Levy, por falta de condições políticas e de quaisquer outros possíveis apoios.
Situações como a atual são, às vezes, como jogo de paciência. Às vezes.
23 de junho de 2015
Jânio de Freitas
Nenhum comentário:
Postar um comentário