"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 23 de junho de 2015

NOVELA DA LAVA JATO: É LULA O ALVO?

Com a prisão preventiva dos presidentes e executivos das duas maiores empreiteiras do país (faturamento de R$ 15 bilhões no ano passado) na esteira da Operação Lava Jato, é de se perguntar: e agora?

Escândalos de corrupção se apresentam ao público como narrativas. No caso da Lava Jato, cuja investigação policial começou em março de 2014, o seu primeiro pico de audiência ocorreu durante as eleições, quando pouco antes do segundo turno foi vazado o depoimento (ou parte dele) do doleiro. A caminho da urna, ainda lembro de encontrar uma conhecida que desesperada me disse no meio da calçada: mataram o doleiro!, mataram o doleiro!, em boato, é claro, inverídico.

De toda forma, aos olhos da opinião pública (tão crucial para promotores, policiais e juiz envolvidos na novela), o escândalo se desenrola em uma espiral ascendente. Ou seja: delações vindas de escalões mais baixos que vão atingindo, camada a camada, as esferas hierárquicas (políticas e econômicas) mais elevadas. Do ponto de vista desta narrativa, que é também o roteiro natural da própria investigação, é desejável que se chegue ao topo ou àquilo que a maioria irá reconhecer como tal.
Nestes termos, após prisões preventivas e (não tão) temporárias de diretores da Petrobras, de executivos e donos de empresas, agora chegou a vez dos maiores. Quem vai pagar?

É claro que, antes disso, será necessário juntar as provas, dar voz à defesa, se julgar, enfim (o que envolverá diferentes instâncias e tudo o mais). OK. Mas do ponto de vista da chamada opinião pública – que se move em meio à indignação e à capacidade de os fatos tem de gerar ibope – nada disso importa muito. Como a audiência de um circo romano em pleno século XXI, a plateia vive de clamores e dedos indicadores para baixo ou para cima, decidindo se gladiadores vivem ou morrem conforme as circunstâncias, e segundo vemos nos filmes americanos.

Nestes termos, encarcerado (provisoriamente) um dos homens mais ricos do país, em seus termos políticos a Operação Lava Janto vai tentando se aproximar de Lula. Se não a Operação em si, certamente o relato que a imprensa faz dela, que, via vazamentos e paralelismos de fatos, busca, nos últimos dias com mais intensidade, colar o ex-presidente no escândalo, como se diz no jargão jornalístico.

Imaginar aonde tudo isso vai dar é coisa, no momento atual, para a ficção. Não se sabe. Para Lula, o governo e o PT a conjuntura é, evidentemente, muito ruim. Muitas vezes o desenrolar de escândalos de corrupção segue não tanto a lógica das investigações, mas da correlação de forças na política. Muitas vezes seus desfechos costuram-se em pactos (a própria lógica da delação é sugestiva disso), traduzidos em sentenças depois definidas como “históricas”. Quem pagará para que a caravana prossiga a viagem? A novela está longe do fim.



23 de junho de 2015
Robério Jordão

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