Com a prisão preventiva dos presidentes e executivos das duas maiores empreiteiras do país (faturamento de R$ 15 bilhões no ano passado) na esteira da Operação Lava Jato, é de se perguntar: e agora?
Escândalos de corrupção se apresentam ao público como narrativas. No caso da Lava Jato, cuja investigação policial começou em março de 2014, o seu primeiro pico de audiência ocorreu durante as eleições, quando pouco antes do segundo turno foi vazado o depoimento (ou parte dele) do doleiro. A caminho da urna, ainda lembro de encontrar uma conhecida que desesperada me disse no meio da calçada: mataram o doleiro!, mataram o doleiro!, em boato, é claro, inverídico.
De toda forma, aos olhos da opinião pública (tão crucial para promotores, policiais e juiz envolvidos na novela), o escândalo se desenrola em uma espiral ascendente. Ou seja: delações vindas de escalões mais baixos que vão atingindo, camada a camada, as esferas hierárquicas (políticas e econômicas) mais elevadas. Do ponto de vista desta narrativa, que é também o roteiro natural da própria investigação, é desejável que se chegue ao topo ou àquilo que a maioria irá reconhecer como tal.
Nestes termos, após prisões preventivas e (não tão) temporárias de diretores da Petrobras, de executivos e donos de empresas, agora chegou a vez dos maiores. Quem vai pagar?
É claro que, antes disso, será necessário juntar as provas, dar voz à defesa, se julgar, enfim (o que envolverá diferentes instâncias e tudo o mais). OK. Mas do ponto de vista da chamada opinião pública – que se move em meio à indignação e à capacidade de os fatos tem de gerar ibope – nada disso importa muito. Como a audiência de um circo romano em pleno século XXI, a plateia vive de clamores e dedos indicadores para baixo ou para cima, decidindo se gladiadores vivem ou morrem conforme as circunstâncias, e segundo vemos nos filmes americanos.
Nestes termos, encarcerado (provisoriamente) um dos homens mais ricos do país, em seus termos políticos a Operação Lava Janto vai tentando se aproximar de Lula. Se não a Operação em si, certamente o relato que a imprensa faz dela, que, via vazamentos e paralelismos de fatos, busca, nos últimos dias com mais intensidade, colar o ex-presidente no escândalo, como se diz no jargão jornalístico.
Imaginar aonde tudo isso vai dar é coisa, no momento atual, para a ficção. Não se sabe. Para Lula, o governo e o PT a conjuntura é, evidentemente, muito ruim. Muitas vezes o desenrolar de escândalos de corrupção segue não tanto a lógica das investigações, mas da correlação de forças na política. Muitas vezes seus desfechos costuram-se em pactos (a própria lógica da delação é sugestiva disso), traduzidos em sentenças depois definidas como “históricas”. Quem pagará para que a caravana prossiga a viagem? A novela está longe do fim.
23 de junho de 2015
Robério Jordão
Escândalos de corrupção se apresentam ao público como narrativas. No caso da Lava Jato, cuja investigação policial começou em março de 2014, o seu primeiro pico de audiência ocorreu durante as eleições, quando pouco antes do segundo turno foi vazado o depoimento (ou parte dele) do doleiro. A caminho da urna, ainda lembro de encontrar uma conhecida que desesperada me disse no meio da calçada: mataram o doleiro!, mataram o doleiro!, em boato, é claro, inverídico.
De toda forma, aos olhos da opinião pública (tão crucial para promotores, policiais e juiz envolvidos na novela), o escândalo se desenrola em uma espiral ascendente. Ou seja: delações vindas de escalões mais baixos que vão atingindo, camada a camada, as esferas hierárquicas (políticas e econômicas) mais elevadas. Do ponto de vista desta narrativa, que é também o roteiro natural da própria investigação, é desejável que se chegue ao topo ou àquilo que a maioria irá reconhecer como tal.
Nestes termos, após prisões preventivas e (não tão) temporárias de diretores da Petrobras, de executivos e donos de empresas, agora chegou a vez dos maiores. Quem vai pagar?
É claro que, antes disso, será necessário juntar as provas, dar voz à defesa, se julgar, enfim (o que envolverá diferentes instâncias e tudo o mais). OK. Mas do ponto de vista da chamada opinião pública – que se move em meio à indignação e à capacidade de os fatos tem de gerar ibope – nada disso importa muito. Como a audiência de um circo romano em pleno século XXI, a plateia vive de clamores e dedos indicadores para baixo ou para cima, decidindo se gladiadores vivem ou morrem conforme as circunstâncias, e segundo vemos nos filmes americanos.
Nestes termos, encarcerado (provisoriamente) um dos homens mais ricos do país, em seus termos políticos a Operação Lava Janto vai tentando se aproximar de Lula. Se não a Operação em si, certamente o relato que a imprensa faz dela, que, via vazamentos e paralelismos de fatos, busca, nos últimos dias com mais intensidade, colar o ex-presidente no escândalo, como se diz no jargão jornalístico.
Imaginar aonde tudo isso vai dar é coisa, no momento atual, para a ficção. Não se sabe. Para Lula, o governo e o PT a conjuntura é, evidentemente, muito ruim. Muitas vezes o desenrolar de escândalos de corrupção segue não tanto a lógica das investigações, mas da correlação de forças na política. Muitas vezes seus desfechos costuram-se em pactos (a própria lógica da delação é sugestiva disso), traduzidos em sentenças depois definidas como “históricas”. Quem pagará para que a caravana prossiga a viagem? A novela está longe do fim.
23 de junho de 2015
Robério Jordão
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