A semana foi reveladora para o mundo que mistura política e futebol. “Vivemos em um mundo cheio de problemas, mas o futebol consegue passar por eles”. Essa declaração de Pelé, após a primeira partida de um time profissional dos Estados Unidos em Cuba após o presidente Barack Obama e o ditador Raúl Castro reatarem as relações diplomáticas, coloca em lados opostos glamour e realidade.
A quilômetros de Havana, no mesmo dia em que o “rei” dizia que o “futebol sempre une as pessoas”, Joseph Blatter renunciava ao cargo de presidente da Fifa após os rápidos quatro dias de sua reeleição, disparando uma rede enorme de intrigas e disputas internas. Corrupção da pesada derrubou o suíço e colocou cartolas de todo o mundo com o coração na mão. Corrupção da pesada vai definir quem será o próximo “bode”.
Pelé se referia, no entanto, ao fato nem tão histórico assim de ver o New York Cosmos, seu antigo clube, ser aplaudido por mais de 20 mil cubanos após golear a seleção da ilha caribenha por 4 a 1. Não se referia à saída de Blatter, o que, de fato, pode ser considerada uma notícia de relevância histórica. Porém, como alerta Kfouri, a saída de Blatter “deve ser comemorada apenas por um dia”.
LONGE DE UNIR NAÇÕES
O futebol, infelizmente, está longe de unir nações em prol de um bem nobre como é o esporte. Pelo que se vê, os mandachuvas até conseguem unir nações, mas com o objetivo maior de estabelecer uma cúpula (ou quadrilha) multinacional capaz de persuadir, manipular e usufruir de benesses retiradas de torcedores fanáticos e bem-intencionados, além de contribuintes, a maioria de nações pobres.
Ao contrário do que diz o ex-jogador brasileiro, o futebol também não consegue, nem de longe, livrar-se de seus “problemas”. Aliás, em seu estágio atual, ele nem quer se livrar deles. Os seus “problemas” são as soluções para larápios de toda espécie. Tudo bem. Sai o suíço que foi apadrinhado pelo brasileiro. Mas entra quem?
A corrupção que levou uma Copa a ser disputada no meio do deserto em um mês de dezembro está enraizada. É bobagem pensar que um príncipe árabe ou um ex-jogador francês, que usa a própria entidade para empregar o filho, tenha alguma coisa que os diferencia de Blatter ou de seu antecessor e também mentor, João Havelange.
A CBF LADEIRA ABAIXO
O momento, pelo bem do esporte, é mais drasticamente real do que a confraternização que envolveu um ditador, alguns craques de futebol, outros cartolas milionários e um público alheio a todas essas bizarrices em uma Cuba em frangalhos. Pelo menos no Brasil, graças ao escândalo internacional, começam a surgir pistas de que a CBF pode passar pelo mesmo inferno astral que sua federação-mor.
Após uma Copa do Mundo onde rolou de tudo, imagina-se que não vão faltar casos de corrupção. Uma CPI está prestes a sair. Provavelmente, não vai dar em nada, mesmo porque seu maior incentivador, o senador e ex-jogador Romário, não é lá uma grande referência.
Alguma coisa boa, porém, é possível tirar. Quem sabe seja a hora de os clubes tomarem vergonha na cara e partirem para a criação de uma liga independente, que seja capaz de ajudá-los a administrar suas oportunidades e deveres?
09 de junho de 2015
Heron Guimarães
O Tempo
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