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O banco britânico HSBC anunciou nesta terça-feira que vai encerrar as suas atividades no Brasil e na Turquia. A decisão faz parte do plano de reestruturação da instituição financeira, que quer reduzir os seus ativos em 25%, gerando, assim, uma economia de 5 bilhões de dólares e um retorno sobre o patrimônio líquido de mais de 10% até 2017.
O banco também informou que cortará 50.000 postos de trabalho, sendo a metade deles das filiais do Brasil e da Turquia, e a outra metade de outras agências espalhadas pelo mundo. O objetivo da companhia agora é concentrar as atenções em operações na China, Índia e México.
No país, o banco mantém 853 agências, com 21.479 funcionários – alguns deles trabalham trabalham no Brasil para outras agências da América Latina. A filial brasileira ainda não informou o total de quantos serão demitidos no país. Entre 2011 e 2014, o banco já havia fechado cerca de 37.000 vagas de trabalho em agências distribuídas pelo mundo.
Em apresentação aos investidores nesta madrugada, a instituição explicou que a saída do mercado brasileiro ocorre porque, para ser um dos três maiores no país, teria de multiplicar o total de ativos por seis. Outro argumento é que as exportações do Brasil (225 bilhões de dólares) são comparativamente menores que em outros mercados em que a casa seguirá com as portas abertas, como México (398 bilhões de dólares), Emirados Árabes Unidos (373 bilhões de dólares) e Índia (324 bilhões de dólares).
O redimensionamento do banco, que também atinge outros mercados e áreas de negócios, permitirá à casa estar “alinhada com as maiores zonas econômicas e de comércio do mundo”, conforme diz o comunicado divulgado aos investidores em Londres. A saída do mercado brasileiro, porém, não será completa, restringindo-se a uma pequena operação para atender grandes empresas. “Planejamos manter presença no Brasil para atender grandes clientes corporativos com respeito às necessidades internacionais”, informa a nota.
Enquanto arruma as malas no Brasil e Turquia, o HSBC anuncia que pretende “reconstruir a lucratividade no México”. Uma das intenções na segunda maior economia latino-americana é aproveitar as oportunidades criadas com o Acordo de Livre Comércio da América do Norte, o Nafta.
A principal aposta do HSBC, porém, está na Ásia. “O HSBC planeja desenvolver negócios no delta do Rio das Pérolas, na província de Guangdong (áreas da China) e na região da ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático”, diz o comunicado. Entre as áreas que serão mais exploradas na região, estão a gestão de ativos e os seguros. Além disso, o banco quer aproveitar as oportunidades criadas pela internacionalização da moeda chinesa.
Em evento de apresentação do cenário para investidores, o executivo-chefe do banco, Stuart Gulliver, explicou com naturalidade a decisão de sair do país. “Os negócios têm gerado resultado abaixo do esperado no Brasil, Turquia, México e Estados Unidos. O que vamos fazer é vender o Brasil e a Turquia e mudar no México e Estados Unidos”, afirmou. Em relação à segunda maior economia da América Latina, o tom foi diferente. “O quadro é diferente no México, onde a economia é aberta e há 11 reformas em curso”, disse o executivo que destacou que a participação das exportações no PIB mexicano supera até a da China.
Com cerca de 168 bilhões de reais em ativos, o HSBC é o sétimo maior banco do país, de acordo com dados do Banco Central (BC). Mundialmente, o banco está envolvido em uma série de escândalos e tem apresentado fracos resultados financeiros. Em 2014, a filial brasileira do banco teve prejuízo de 247 milhões de dólares, o pior resultado entre todas as operações na América Latina. Em 2013, a instituição havia lucrado 351 milhões de dólares no Brasil e no ano de 2012 o resultado positivo havia somado 1,12 bilhão de dólares.
Swissleaks – A saída do HSBC do Brasil acontece após um escândaldo de fraude fiscal, que desgastou sua imagem no mundo todo. A filial suíça da instituição é suspeita de ter acobertado mais de 100.000 contas bancárias de brasileiros e estrangeiros, eximindo-os de comprovar a origem dos recursos ou de pagar obrigações fiscais.
A denúncia surgiu a partir das revelações do especialista em informática do HSBC Hervé Falciani, que tornou pública a atuação irregular do banco. De acordo com ele, entre as milhares de contas suspeitas da instituição financeira, 6.606 delas são controladas por brasileiros e movimentaram cerca de 7 bilhões de dólares entre 2006 e 2007, segundo investigação batizada de Swiss Leaks.
Recentemente, o banco pagou 43 milhões de dólares à Justiça suíça para encerrar uma investigação sobre crimes de lavagem de dinheiro. Como consequência, foi arquivada uma ação criminal contra a instituição. No Brasil, a Receita Federal e a Polícia Federal (PF) estão apurando as operações realizadas por cidadãos do país em contas secretas mantidas pelo HSBC na Suíça.
09 de junho de 2015
Reinaldo Azevedo
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