"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 9 de junho de 2015

DILMA PRECISA VOLTAR A COMANDAR O GOVERNO - DIZ DELFIM


Numa entrevista à repórter Raquel Landim, Folha de São Paulo, edição de domingo, o ex-ministro Delfim Netto afirmou ter saudades de Lula e que Dilma Rousseff precisa voltar a comandar a agenda do país. Ela se escondeu, o que colide com a noção básica de governo. O governo precisa dizer que existe, propor programas factíveis que devolvam confiança a sociedade. O homem que dirigiu a Fazenda nos governos militares de Costa e Silva e Médici acrescentou: economia é expectativa; desenvolvimento é um estado de espírito. Nós vamos voltar a crescer, mas é preciso dar a população um pouco mais de tranquilidade. Essa era a vantagem de Lula, que é um promoter.

Ao acentuar que Dilma Rousseff “se escondeu e precisa voltar a comandar a agenda do país”, indiretamente Delfim Netto sustentou que ela não se encontra no comando do governo, porque uma coisa leva a outra: só pode voltar a governar, dentro da lógica delfiniana, quem não está governando. A crítica é forte sob o ângulo político, sobretudo no momento atual em que o Executivo encontra-se dependente do ajuste das contas públicas.

ESTELIONATO ELEITORAL


Mas o ajuste fiscal, disse ele, é apenas uma ponte, uma vez que no ano passado ocorreu uma deterioração fiscal muito profunda, e o desequilíbrio de 2014 foi deliberadamente produzido para reeleição e atingiu seu objetivo. Porém, não se pode negar, seria um absurdo, que houve um estelionato eleitoral. Para Delfim Neto, Dilma Rousseff fez uma mudança na política econômica “equivalente à conversão de São Paulo ao cristianismo na viagem de Jerusalém a Damasco”. Essa mudança de Dilma Rousseff abalou a credibilidade do governo. Mas o importante agora é consertar.

Entretanto, houve um equívoco na concessão de desconto das empresas para a Previdência Social, favorecia principalmente o setor exportador. Agora, contudo, será difícil voltar atrás. Depois de concedida a flexibilidade, digo eu, na realidade uma vantagem financeira, politicamente é difícil retroceder e retirá-la. O debate continua no Congresso.

DEFENDENDO MANTEGA


Delfim Netto defendeu Guido Mantega, dizendo que ele propôs as mudanças agora em foco no decorrer de sua gestão em 2014. Não foi ouvido e até, como se sabe, foi um ministro demitido a permanecer no cargo, inclusive com seu sucessor já escolhido, assim não tinha a mínima autoridade. Delfim Netto, de forma indireta, compara aquela situação que envolveu Guido Mantega a que envolve agora o presidente da Fifa Joseph Blatter: Blatter renunciou na semana passada, mas pretende permanecer no posto até que eleições definam seu sucessor. Quando serão essas eleições? Ainda não estão marcadas. Estão para ser.

Mas voltando às observações de Delfim Neto, ele sustenta que a recessão em que nos encontramos vai durar o tempo que for necessário para recuperar a indústria. Na sua opinião a indústria sofreu o efeito dramático da política cambial em vigor, porque todos os estímulos concedidos foram incapazes de compensar o prejuízo causado pela variação cambial destinada para controlar a inflação. Nunca faltou demanda para Os produtos industriais. Com o câmbio, o que faltou foi demanda para os produtos industriais feitos no Brasil. As importações, favorecidas pelo dólar, aumentaram substituindo produtos brasileiros. Na sequência as exportações caíram. Tal processo começa a ser revertido com o novo patamar fixado para o câmbio. De qualquer forma Delfim Neto sustenta: sem resolver o problema da indústria não vamos voltar a crescer.

O impacto da entrevista na área política pensante e interpretativa deverá ser grande, na medida em que o ex-ministro da Fazenda deixou no ar sua confiança maior em Lula do que em Dilma Rousseff. Um sinal praticamente de aceitação da candidatura do ex-presidente para um novo mandato a ser disputado nas urnas de 2018. Delfim Neto contribuiu para iluminar a dissidência que ocorre nos bastidores entre a atual presidência da República e seu antecessor e grande eleitor. Não se pode esquecer, sob o aspecto histórico que Lula foi o único candidato a disputar e participar ativamente de 7 eleições presidenciais. Perdeu 3. Venceu 4. Seu prestígio não é mais aquele de 2010. No entanto não existe no PT ninguém capaz de impedir sua nova candidatura.


09 de junho de 2015
Pedro do Coutto

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