"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 23 de março de 2015

RECEITA DO CAOS BRASILEIRO NO ÂMBITO INTERNACIONAL



O governo está tentando de todas as formas convencer as agências de classificação de risco a manterem o grau de investimentos do Brasil, mas o país já foi rebaixado pelo mercado financeiro. Usado como referência pelos agentes privados para medir o grau de confiança de uma economia, o Credit Default Swap (CDS) brasileiro atingiu quinta-feira 306 pontos, acumulando alta de 51% no ano. De longe, foi a maior arrancada entre os países que têm esses papéis listados no mercado.
Para os investidores que recorrem a esse seguro contra calote, a capacidade de a presidente Dilma Rousseff manter o controle do governo está próxima do limite. A cada dia, um fato novo mostra que a petista está refém do PMDB, que já anuncia demissão de ministro antes do Palácio do Planalto, e não tem o menor apoio de seu partido, o PT. Diante dessa fragilidade política, diminui a confiança na capacidade do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de entregar o ajuste fiscal que pode tirar o país do atoleiro econômico no qual afundou.
O desânimo é geral. E a falta de credibilidade do governo está provocando estragos imensos na economia real. Por falta de parâmetro para a formação dos juros, os bancos têm restringido a concessão de crédito. As instituições usam o mercado futuro para definir as taxas que cobrarão da clientela nos empréstimos e financiamentos, mas, como esses índices vêm oscilando muito, a ordem foi suspender operações até que o horizonte fique menos nebuloso.
A INFLAÇÃO E A META
Esperava-se que as recentes declarações do presidente do BC, Alexandre Tombini, assegurando que a instituição levará a inflação para o centro da meta no fim de 2016, acalmassem os ânimos. Mas os erros sucessivos da autoridade monetária na condução da política de juros e no combate à carestia parecem ter exaurido o capital de Tombini para retomar o controle das expectativas. Para reverter esse quadro, serão necessárias declarações diárias, com números consistentes, mostrando que o país tem capacidade para reduzir quase à metade a inflação, que está raspando os 8%.
Na verdade, nada do que o governo diz está sendo capaz de reverter o pessimismo. Do lado dos consumidores, a intenção de compras desabou para o nível mais baixo da história, conforme levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Na indústria, com os estoques elevados, tornou-se rotina desligar fábricas. A Confederação Nacional do setor (CNI) assegura que, na média, as empresas operam com 34% de ociosidade. Ou seja, um terço do parque produtivo do país está parado.
Diante desse quadro, está se consolidando a percepção de que o tombo do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano será mesmo superior a 1%, com aumento do desemprego. A recessão que se desenha parece ser brutal. É por isso que os investidores estão empurrando tanto a taxa do CDS do Brasil para cima. O risco de México, por exemplo, está em 132, com alta de 27% no ano. O da África do Sul, em 205 pontos, em elevação de 8%.
EMERGENTES EM BAIXA
Como bem lembrou um técnico do governo, todos os países emergentes vêm sofrendo neste momento, em que as fragilidades se acentuaram por causa das perspectivas de aumento das taxas de juros nos Estados Unidos. Mas, entre as grandes economias em desenvolvimento, nenhuma combina um quadro tão assustador quanto a brasileira. O país está em recessão, com inflação de quase o dobro da meta perseguida pelo BC (4,5%), déficit fiscal de 7% do PIB e rombo nas contas externas superior a 4% do PIB. Tudo isso com uma presidente que não completou o terceiro mês do segundo mandato e desfruta de rejeição de 62%. É a receita do caos.
Recessão, inflação nas alturas, presidente com 62% de rejeição e base política esfacelada. Diante dessa combinação, o mercado já rebaixou o Brasil

23 de março de 2015
Vicente Nunes
Correio Braziliense

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