"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 23 de março de 2015

CID GOMES FOI HERÓI POR UM DIA, PARA DIREITA E PARA A ESQUERDA

Trazemos hoje para a Coluna do Leitor um artigo enviado por Fernando Henrique. Ele fala sobre a passagem ruidosa de Cid Gomes na Câmara Federal essa semana:
Cid Gomes foi herói por um dia, para direita e para a esquerda


Cid Gomes conseguiu nessa semana um feito digno da Família Gomes. Ciro, seu irmão mais velho, deve estar orgulhoso. E para tal Cid não precisou de muito: emulou a arrogância do irmão, quase tão bem quanto o próprio, e, fingindo-se de rogado, acusou os deputados da nação, veja só!, daquilo que muitos deles realmente são: achacadores. E usou ainda outros adjetivos piores.

E para enobrecer ainda mais seu ato, fez isso na Câmara, numa das tribunas da Câmara, com seus alvos a sua frente e ao seu lado.

Lá, em certo momento, quando dizia que deputados da base aliada deveriam sempre votar com o Governo, o exasperado Cid disse que aqueles que não o fizerem deveriam “largar o osso”! Para ele, muitos deputados aliados (300? 400?) são oportunistas que apreciam o enfraquecimento do Governo, pois assim fica mais fácil a barganha, fica mais fácil acharcar, sugar, obter cargos e tudo o mais que se faz, sabemos, nos bastidores da política brasileira – não sem a leniência do Executivo, claro, que enfraquecido ou não é partícipe de quaisquer maracutaias que ocorram, como bem evidencia os escândalos de corrupção investigados pelo Polícia Federal recentemente.

Louco? Corajoso? Se tratando de um Gomes, do Ceará, os donos do Ceará, prefiro acreditar nalgum tipo de cálculo político. Daqueles que não funcionam tão bem e só Ciro Gomes poderia arquitetar. Mas, antes de aventar as motivações para o inusitado fato, e ainda imaginar os resultados que podem trazer, para os Gomes, para o PT e para a nação, voltemos ao fato em si, e como ele se deu.

O até então ministro da educação do governo Dilma, Cid Gomes, havia ido ao plenário da Câmara, convocado por uma Comissão Geral, exatamente para esclarecer uma fala anterior, que vazou, proferida numa palestra para estudantes na Universidade Federal do Pará, onde havia dito que 300, 400 deputados da república não passam de achacadores. A ideia da convocação era esfriar os ânimos, quem sabe ele não se desculpava. Ledo engano.

Ora, foi uma participação inusitada porque não é toda dia, nem todo ano, quiçá década, que se vê alguém ir a Câmara dos Deputados apontar o dedo para o presidente da Câmera dos Deputados. Ainda mais sendo este Eduardo Cunha. Ainda mais sendo Cunha do PMDB. Líder do PMDB. 

Ainda que o acusador seja um ministro, ex-governador e o escambau, e muitos deputados sejam mesmo achacadores, é uma coisa que não se faz – até se pensa, mas não se faz, não se diz. Cid fez. Cid disse. E o Plenário caiu na sua cabeça. Lembraram de seus podres – alugou jato particular para viajar e se divertir pela Europa, com a esposa e a sogra, às custas do governo do Ceará; suposto superfaturamento de um show de Ivete Sangalo, na inauguração de um Hospital -, de como ele era também, como não?, um achacador. E não se contentaram apenas em respondê-lo a altura, quiseram a sua pele.

Antes mesmo do fim da sessão, Cunha, que havia contemplado o dedo em riste de Cid, e sido xingado nominalmente de achacador, através da “cúpula do PMDB” comunicou a um auxiliar da presidente Dilma que Cid deveria cair. Ou caía o ministro, ou o PMDB saía do Governo. Esse foi o recado. Caiu o ministro, claro. Numa clara demonstração de força, Cunha (e o PMDB) ameaçou a presidente e expôs sua fraqueza, indigna não para um presidente, mas para um gestor ou líder qualquer. Com isso, a relação entre Legislativo e Executivo acirrou-se de vez.

Pulou a esquerda, pulou a direita. A esquerda não petista, diga-se, aquela que pensa no PT como um traidor da causa revolucionaria-comunista-socialista por ter se aliado aos burgueses e não ter acirrado a luta de classes e avançado rumo a um regime (mais) socialista – é, este mesmo pessoal desinformado que não entendeu como sobrevive o “comunismo moderno”, aos moldes chineses. 
E também a esquerda “Tico Santa Cruz”, que odeia o PMDB e vê no partido todo o mal da política brasileira. Pois bem, estes saudaram o socialista, ou social-democrata, dá no mesmo, Cid Gomes como herói, antes mesmo dele ter descido da tribuna. Românticos, viram no ato suicida do ministro, que expôs a presidente e animou a direita que pede seu impeachment, um ato de bravura. Só poderia ser bravo aquele adentra um antro de ladrões e os chama do que são. Ou burro.


Ministro da Educação vai ao Congresso e é demitido em seguida

Burro Cid não é, mas talvez o sejam aqueles que, estando à esquerda, aplaudiram seu ato. É um problema da visão romântica e idealizada, sempre descompromissada com o mundo real. Mais corretos foram os direitistas, aquele pessoal que saiu às ruas de verde e amarelo outra dia e gritou “Fora Dilma!”, ao comemorar o salseiro. A atitude do ex-ministro da educação serviu de motivo para apontarem a incompetência do governo, que escolhe mal seus ministros, através de acordos políticos (Cid é hoje do PROS), e sua instabilidade.

É mesmo um feito agradar com um mesmo ato grupos tão heterogêneos. Teria sido o acaso, ou o destempero, capaz de produzi-lo? Saberemos ao observar os Irmãos Gomes daqui por diante. 
Veremos se esta não foi uma maneira de saírem de um governo que consideram falido, ou um ato em nome de Lula – de quem sempre foram próximos -, que segundo algumas interessantes teorias, deseja fritar Dilma para se apresentar como oposição em 2018 – o PT bom que se opôs ao PT mau, que governou mal e agora precisa dar vez ao PT bom, este sim, que muito fez pelo Brasil; não duvido de mais nada. 
O tom que empregará Ciro, mestre em retórica como bem sabe Rodrigo Constantino, daqui por diante, contra o governo, será a medida para escolhermos algumas das vias citadas ou nos certificarmos de que realmente Cid não tem o mesmo talento do irmão, tendo feito uma burrada sem propósito algum.

23 de março de 2015
in reaçonaria

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