"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 13 de julho de 2014

SELEÇÃO É A CARA DO PT - MARAVILHOSO ARTIGO DO REINALDO AZEVEDO



 
 
Aos 17 minutos do primeiro tempo, no desastre de terça-feira (8), a seleção brasileira já perdia para a alemã por um a zero, quando Marcelo, atendendo a um chamado do atavismo macunaímico, caiu na área, simulando um pênalti.

O zagueiro alemão Jérôme Boateng, cujo pai é ganês, se zangou. Deu-lhe uma bronca humilhante. Os alemães execram esse teatro ridículo e têm uma palavra para defini-lo – na verdade, uma metáfora: "Schwalbe", que quer dizer "andorinha".

É um pássaro de asas curtas em relação ao corpo e que voa rente ao solo, lembrando o atleta que agita, desajeitado, os braços ao encenar uma falta que não existiu.
Boateng chegou a imitar com as mãos o voo da "Schwalbe".

Naquele pênalti patético cavado por Fred contra a Croácia, a imprensa alemã o chamou de "Schwalbinho", acrescentando à palavra o sufixo do diminutivo que costuma vir colado a nomes de alguns de nossos craquinhos.
Apesar da humilhação dos 7 a 1, nunca foi tão civilizado perder. Os alemães vieram dispostos a conquistar também o coração dos brasileiros. Jogaram um futebol bonito, honesto, respeitoso.


Quando os canarinhos estavam sem ânimo até para imitar andorinhas, os adversários não começaram a dar toquinhos de lado, a fazer firulas ou gracejos destinados a humilhar quem já não tinha mais nada.
Ao contrário: um deles aplaudiu o gol de honra de Oscarzinho.

Nas redes sociais, deram a dimensão da própria vitória ao cobrir a nossa seleção e o nosso país de elogios. "Respeite a amarelinha com sua história e tradição", recomendou Lukas Podolski. "Vocês têm um país lindo, pessoas maravilhosas e jogadores incríveis –esta partida não pode destruir o seu orgulho", escreveu Mesut Özil.

Os alemães vieram para reverenciar uma tradição. Por isso Boateng se zangou com Marcelo. Era como se dissesse: "Levante-se daí, cara! Honre a sua história para me dar a glória de vencê-lo".


Marcelo, no entanto, parecia antever que aquele Brasil que estava em campo não sabia vencer porque, antes de tudo, não sabia perder – daí o voo da "Schwalbe".

Se o futebol é metáfora da guerra, é preciso lembrar que a guerra também pode ter uma ética – não quando se é Gêngis Khan.

Depois de se vingar de Heitor – e como! –, Aquiles entrega o corpo do oponente para ser honrado pelo pai.
Só os vitoriosos mesquinhos – e, pois, derrotados moralmente pela própria arrogância – tripudiam sobre o vencido.

A vitória final é ser humilde no triunfo para que o outro possa ser digno na derrota, enobrecendo, então, aquele que conquistou o galardão.
Só existe honra quando se vence um forte. Nesse sentido, o confronto, inclusive a guerra com regras, é uma forma de apuro ético. E, obviamente, é possível ser indigno na paz.

Também a minha "andorinha" é metáfora. A simulação da falta é um vício nacional. No futebol, na vida, na política. Acusar o adversário de uma transgressão que ele não cometeu é uma falha moral grave.

Trata-se de reivindicar a licença para reagir àquilo que não aconteceu, tentando fazer com que o outro pague uma conta indevida.

Um dia antes da partida fatídica, a presidente Dilma Rousseff, demonstrando que anda com pouco serviço – e só gente muito ocupada tem tempo de fazer direito o seu trabalho –, resolveu participar de um bate-papo numa rede social.
Exaltou o heroísmo de Neymar, discorreu sobre a garra do povo brasileiro e, ora vejam!, censurou os "urubus do pessimismo".

Desde o início do torneio, a presidente e seu partido acusam a oposição e críticos do governo de faltas que não cometeram: teriam antevisto o caos na Copa e estariam torcendo contra o sucesso do evento.


Simulação! "Schwalbe!" Dilma sonhou esmagá-los no próximo domingo, passando a taça para as mãos de Thiago Silva. No pior dos cenários, Lionel Messi beijará o troféu, hipótese em que se cumprirá uma predição de Lula, que anunciou (is.gd/kTXWkN), em 2007, que o Brasil faria uma Copa "para argentino nenhum botar defeito".

Ouça o que diz Boateng, presidente! Levante-se da área! Jogue limpo! É muito melhor vencer com honra. Ou honrar o vencedor.


13 de julho de 2014
in graça no país das maravilhas

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