As bolas de cristal do mercado financeiro continuam errando para menos nas projeções de inflação. Se há algum jogo especulativo nessas previsões, deve estar funcionando ao contrário - e isso já ocorre há um bom tempo. Com 6,52% até junho, a alta de preços acumulada em 12 meses furou com um mês de antecedência o limite da margem de tolerância, de 6,5%. Pelas contas oficiais, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,4% no mês passado, pouco acima da mediana das projeções do mercado, de 0,33%. Por essas estimativas, ainda haverá um recuo neste mês, para 0,25%, e em seguida uma nova aceleração - de 0,30%, em agosto, até 0,64%, em dezembro. Esses números integram a série coletada na sexta-feira 27 de junho, antes de conhecido, portanto, o último dado. O resultado final do ano será de 6,48%, de acordo com a mesma série, atualizada semanalmente pelo Banco Central (BC). Na avaliação do governo, complacente com a alta de preços e com a própria política, a inflação ainda estará dentro da meta - embora a meta oficial, em sentido próprio, seja de 4,5%.
De acordo com aquelas projeções, a inflação acumulada em 12 meses ficará sempre acima do limite até novembro. O pico, de 6,80%, está previsto para setembro. Apesar do recuo dos preços por atacado e, especialmente, da acomodação dos preços dos alimentos, economistas do mercado têm mantido a expectativa de recrudescimento da inflação a partir de agosto. Pode parecer estranho, até porque uma parte dos aumentos de junho foi classificada como "inflação da Copa". Esse é o caso das tarifas aéreas e das diárias de hotéis. Esses aumentos serão provavelmente anulados nos próximos meses, ou, como se diz no jargão obviamente impreciso dos especialistas, "devolvidos".
Para o pessoal das instituições financeiras e das consultorias, o recuo das taxas mensais, iniciado há algumas semanas, é, portanto, apenas uma trégua. Essa trégua talvez seja explicável, em parte, pelas nove altas de juros a partir de abril do ano passado. Mas nem o BC aposta com muita firmeza em efeitos a curto prazo. Por isso, mantém projeções de inflação acima de 5% ao ano até junho de 2016. Suas projeções conhecidas publicamente acabam aí.
Há mais de uma razão para projetar uma nova intensificação da alta geral de preços nos próximos meses. Uma delas é o reajuste previsto de vários preços administrados ou meramente controlados pelo governo, como o da energia elétrica. Também tarifas de transporte coletivo e preços de combustíveis poderão subir. As contas de eletricidade já começaram a subir, mas as companhias do setor continuam à espera de mais aumentos. A presidente da Petrobrás, Graça Foster, insiste em cobrar reajustes, até porque a empresa precisará de caixa para pagar pelos novos campos de petróleo recebidos do governo sem licitação. A estatal precisará, de fato, de muito mais dinheiro para enfrentar os investimentos previstos - ou prometidos - para os próximos anos.
Mas há razões bem mais importantes para a expectativa de muito desarranjo nos preços, tanto no segundo semestre quanto no próximo ano. A mais importante é o mau estado das contas públicas. O governo poderá maquiar seu balanço e tentar disfarçar o fracasso em relação à meta fiscal definida para o ano, mas isso de nenhum modo reduzirá as pressões inflacionárias. A gastança continuará, reforçada pelos interesses eleitorais, e incentivos setoriais financiados pelo Tesouro serão mantidos - sem efeito duradouro sobre a economia. Algumas indústrias poderão elevar ou manter suas vendas. Será muito otimismo, no entanto, esperar maiores investimentos como consequência dessa política.
Além disso, nada indica, pelo menos até o fim do ano, novas altas de juros, mesmo com o recrudescimento da inflação. Alguns analistas já duvidam até de um aperto fiscal e monetário mais sério no próximo ano. Um ajuste mais forte na fase inicial poderá facilitar nos anos seguintes o trabalho do governo eleito, mas falta saber, em primeiro lugar, se haverá disposição - ou condições políticas - para uma política severa em 2015. Tudo parece reforçar, portanto, a expectativa de inflação elevada ainda por muito tempo.
De acordo com aquelas projeções, a inflação acumulada em 12 meses ficará sempre acima do limite até novembro. O pico, de 6,80%, está previsto para setembro. Apesar do recuo dos preços por atacado e, especialmente, da acomodação dos preços dos alimentos, economistas do mercado têm mantido a expectativa de recrudescimento da inflação a partir de agosto. Pode parecer estranho, até porque uma parte dos aumentos de junho foi classificada como "inflação da Copa". Esse é o caso das tarifas aéreas e das diárias de hotéis. Esses aumentos serão provavelmente anulados nos próximos meses, ou, como se diz no jargão obviamente impreciso dos especialistas, "devolvidos".
Para o pessoal das instituições financeiras e das consultorias, o recuo das taxas mensais, iniciado há algumas semanas, é, portanto, apenas uma trégua. Essa trégua talvez seja explicável, em parte, pelas nove altas de juros a partir de abril do ano passado. Mas nem o BC aposta com muita firmeza em efeitos a curto prazo. Por isso, mantém projeções de inflação acima de 5% ao ano até junho de 2016. Suas projeções conhecidas publicamente acabam aí.
Há mais de uma razão para projetar uma nova intensificação da alta geral de preços nos próximos meses. Uma delas é o reajuste previsto de vários preços administrados ou meramente controlados pelo governo, como o da energia elétrica. Também tarifas de transporte coletivo e preços de combustíveis poderão subir. As contas de eletricidade já começaram a subir, mas as companhias do setor continuam à espera de mais aumentos. A presidente da Petrobrás, Graça Foster, insiste em cobrar reajustes, até porque a empresa precisará de caixa para pagar pelos novos campos de petróleo recebidos do governo sem licitação. A estatal precisará, de fato, de muito mais dinheiro para enfrentar os investimentos previstos - ou prometidos - para os próximos anos.
Mas há razões bem mais importantes para a expectativa de muito desarranjo nos preços, tanto no segundo semestre quanto no próximo ano. A mais importante é o mau estado das contas públicas. O governo poderá maquiar seu balanço e tentar disfarçar o fracasso em relação à meta fiscal definida para o ano, mas isso de nenhum modo reduzirá as pressões inflacionárias. A gastança continuará, reforçada pelos interesses eleitorais, e incentivos setoriais financiados pelo Tesouro serão mantidos - sem efeito duradouro sobre a economia. Algumas indústrias poderão elevar ou manter suas vendas. Será muito otimismo, no entanto, esperar maiores investimentos como consequência dessa política.
Além disso, nada indica, pelo menos até o fim do ano, novas altas de juros, mesmo com o recrudescimento da inflação. Alguns analistas já duvidam até de um aperto fiscal e monetário mais sério no próximo ano. Um ajuste mais forte na fase inicial poderá facilitar nos anos seguintes o trabalho do governo eleito, mas falta saber, em primeiro lugar, se haverá disposição - ou condições políticas - para uma política severa em 2015. Tudo parece reforçar, portanto, a expectativa de inflação elevada ainda por muito tempo.
13 de julho de 2014
Editorial O Estadão
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