"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 13 de julho de 2014

NOTÍCIAS DO METEORITO AMERICANO

Em tempos de calmaria e alegre especulação global, fala-se de novo de alta dos juros, um risco para nós

EM ALGUM DIA, um meteorito causará grande estrago ao cair na Terra, nos dizem aqueles documentários de ciência "pop" ou ficção científica das madrugadas da TV. Em algum dia, as taxas de juros subirão nos Estados Unidos. Esse filme voltou a passar na mídia financeira mundial. Talvez até por falta do que fazer ou de notícia, economistas e publicistas da área voltaram a tratar do assunto neste início de julho.

Os juros norte-americanos não vão alterar o clima ou dizimar dinossauros, mas estima-se que a coisa venha a ser "tensa", como dizem os adolescentes. Pode haver inversões do curso dos rios de dinheiro pelo mundo, enchentes e secas financeiras, não se sabe em qual escala. Isso vai nos afetar de algum modo e em algum grau entre 2015 e 2016, os quais já não seriam anos fáceis.

Como se recorda, a ameaça de tais mudanças causou as tempestades de junho-agosto de 2013; a especulação a respeito causou a pororoca de janeiro-fevereiro de 2014. Aqui no Brasil, esses fenômenos apareceram de modo mais evidente como altas do dólar, que foi além de R$ 2,40 nesses paniquitos.

O que houve recentemente?

Alguns economistas de grandes bancos do mundo passaram a estimar que os meteoritos americanos, ainda pedrinhas, começarão a cair mais cedo do que o imaginado. Isto é, não mais entre o final de 2015 e o início de 2016, mas, sim, a partir da metade de 2015. Ou até no segundo trimestre do ano que vem.

Por quê?

Porque os indicadores de emprego e inflação nos Estados Unidos começariam a apontar, enfim, a recuperação duradoura da economia, que cresceu espantosamente pouco no início do ano, menos ainda que seria previsível devido aos efeitos de um inverno duro.

Pode ser. Ainda assim, em vez de uns 3%, a economia americana deve crescer uns 2% neste 2014. Os salários reais não sobem, menos gente trabalha (apesar da baixa firme do desemprego), há muito emprego precário etc. Enfim, a previsão de retomada americana foi frustrada em todos os inícios de ano depois da explosão de 2008.

Há sinais de que os juros vão se mover?

Hum. Pode parecer que há. Um aficionado de filmes catástrofe "B" poderia lembrar daquelas cenas em que técnicos de um laboratório de terremotos notam um tremor mínimo no sismógrafo, temem o fim do mundo e são ignorados pelo chefe displicente.

Houve algumas balançadas mínimas nos sismógrafos dos juros de empréstimos entre bancos nos Estados Unidos e nas taxas de juros de títulos de dois anos de prazo.

No entanto, quando não parecem quase aleatórias, são reações pontuais, microespeculações do dia a dia. Entenda-se: caso os donos do dinheiro grosso imaginem uma alta de juros (ou imaginem que seus pares vão imaginar), vai haver algum sururu na praça.

Mas na quarta-feira saiu a exposição de motivos do comitê de política de juros deles, o Fomc, que pareceu liberar a turma para ainda chutar para perto da Lua o preço dos ativos financeiros, como ações. Nem mesmo a estrela cadente do grupo financeiro português Espírito Santo fez estrago maior.

Ainda assim. Um meteorito vai cair por aí até 2016.


13 de julho de 2014
Vinicius Torres Freire, Folha de SP

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