Alguém devia pedir à psicóloga para, com jeito, comunicar ao técnico o que de fato aconteceu, não na sua cabeça pós-choque traumático, mas na realidade
Espero que nossos hermanos alemães vençam amanhã, eles que foram tão solidários conosco na adversidade, quase se desculpando pelo massacre e preocupados apenas em “jogar um futebol sério, decente”, como disse Muller. Imagina se os argentinos seriam capazes de um nobre gesto como esse. Até sobre nossa derrota estão tripudiando como se a vitória fosse deles. Sei que contam com a torcida do Papa, mas Deus é brasileiro e vai compensar de alguma maneira o abandono a que nos relegou em Belo Horizonte. Continuo elaborando o nosso luto, já que a ficha ainda não caiu totalmente. Nem a do Felipão. Ao fazer um balanço do seu trabalho, ele parecia estar sob efeito do apagão que tomou conta dos jogadores. Foi patética aquela dupla de contentes que formou com Parreira, tentando tapar o sol com elogios ao passado, como se isso bastasse para apagar o presente. Enquanto a imprensa do Brasil e do mundo classificava de humilhante e vergonhosa a nossa derrota, o treinador lamentava os “seis minutos de pane geral”, mas comemorava o fato de termos chegado à semifinal. Alguém devia pedir à psicóloga para, com jeito, comunicar ao técnico o que de fato aconteceu, não na sua cabeça pós-choque traumático, mas na realidade.
Foi preciso Neymar para corrigir o autoengano de Scolari. Ao retornar à concentração, o garoto de 22 anos deu uma entrevista em que revelou um nível de maturidade que faltou aos dirigentes. Elogiou os companheiros, chorou ao lembrar que por dois centímetros poderia ter ficado para sempre numa cadeira de rodas, se disse orgulhoso de participar da equipe, mas não deixou de admitir com todas as letras o que Felipão não viu: o fracasso geral. “Erramos, deixamos a desejar, não fizemos uma boa campanha. Não demonstramos nosso melhor futebol. Apresentamos um futebol regular, por isso chegamos às semifinais, mas não mostramos o futebol brasileiro, que é superior.”
Hoje, a seleção se despede da Copa. Em várias ocasiões, os jogadores reconheceram o apoio que sempre receberam da torcida. David Luiz resumiu esse sentimento quando depois da derrota lamentou aos prantos a decepção causada ao povo brasileiro. Foi muito bonito, mas acho que a melhor maneira de transformar a gratidão em ação é seguir o exemplo dos argelinos, que doaram o prêmio de R$ 20 milhões às crianças pobres de Gaza. “Elas precisam mais do que nós”, justificou o capitão do time. Se os nossos craques resolvessem distribuir os R$ 48 milhões que vão receber para instituições que cuidam da infância carente, a torcida com certeza iria aplaudir. E até, quem sabe, perdoar o vexame.
Espero que nossos hermanos alemães vençam amanhã, eles que foram tão solidários conosco na adversidade, quase se desculpando pelo massacre e preocupados apenas em “jogar um futebol sério, decente”, como disse Muller. Imagina se os argentinos seriam capazes de um nobre gesto como esse. Até sobre nossa derrota estão tripudiando como se a vitória fosse deles. Sei que contam com a torcida do Papa, mas Deus é brasileiro e vai compensar de alguma maneira o abandono a que nos relegou em Belo Horizonte. Continuo elaborando o nosso luto, já que a ficha ainda não caiu totalmente. Nem a do Felipão. Ao fazer um balanço do seu trabalho, ele parecia estar sob efeito do apagão que tomou conta dos jogadores. Foi patética aquela dupla de contentes que formou com Parreira, tentando tapar o sol com elogios ao passado, como se isso bastasse para apagar o presente. Enquanto a imprensa do Brasil e do mundo classificava de humilhante e vergonhosa a nossa derrota, o treinador lamentava os “seis minutos de pane geral”, mas comemorava o fato de termos chegado à semifinal. Alguém devia pedir à psicóloga para, com jeito, comunicar ao técnico o que de fato aconteceu, não na sua cabeça pós-choque traumático, mas na realidade.
Foi preciso Neymar para corrigir o autoengano de Scolari. Ao retornar à concentração, o garoto de 22 anos deu uma entrevista em que revelou um nível de maturidade que faltou aos dirigentes. Elogiou os companheiros, chorou ao lembrar que por dois centímetros poderia ter ficado para sempre numa cadeira de rodas, se disse orgulhoso de participar da equipe, mas não deixou de admitir com todas as letras o que Felipão não viu: o fracasso geral. “Erramos, deixamos a desejar, não fizemos uma boa campanha. Não demonstramos nosso melhor futebol. Apresentamos um futebol regular, por isso chegamos às semifinais, mas não mostramos o futebol brasileiro, que é superior.”
Hoje, a seleção se despede da Copa. Em várias ocasiões, os jogadores reconheceram o apoio que sempre receberam da torcida. David Luiz resumiu esse sentimento quando depois da derrota lamentou aos prantos a decepção causada ao povo brasileiro. Foi muito bonito, mas acho que a melhor maneira de transformar a gratidão em ação é seguir o exemplo dos argelinos, que doaram o prêmio de R$ 20 milhões às crianças pobres de Gaza. “Elas precisam mais do que nós”, justificou o capitão do time. Se os nossos craques resolvessem distribuir os R$ 48 milhões que vão receber para instituições que cuidam da infância carente, a torcida com certeza iria aplaudir. E até, quem sabe, perdoar o vexame.
13 de julho de 2014
Zuenir Ventura, O Globo
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