Brasileiros ficaram atônitos como franceses assistindo à entrada das tropas alemãs em Paris
Bem sei, leitor, que a seleção é a “pátria de calção e chuteiras, dando botinadas em todas as direções”. E que o jogo de terça-feira foi um desastre de proporções inimagináveis. Se estivesse vivo, Nelson Rodrigues escreveria páginas de Dickens sobre a tragédia que se abateu sobre o escrete brasileiro.
Mas não vamos cultivar o fracasso. Todo grande país sofre grandes derrotas. Os Estados Unidos tiveram o seu Vietnã. A França teve o seu verão de 1940, quando as forças alemãs desmontaram a defesa francesa em questão de semanas, na mais impressionante das Blitzkriege (guerras-relâmpago) que os alemães fizeram na Segunda Guerra Mundial. O que sofremos terça-feira foi nada mais nada menos do que uma “guerra-relâmpago”. Os brasileiros ficaram tão atônitos quanto os franceses assistindo estarrecidos à entrada das tropas alemãs em Paris.
Acabou. Vamos em frente. A disputa pelo terceiro lugar com a Holanda será uma oportunidade de mostrar que o jogo de terça foi um acidente grotesco, um ponto totalmente fora da curva para a grande seleção brasileira.
O próximo evento internacional no Brasil depois da Copa será a Cúpula dos líderes do Brics, em Fortaleza, na semana que vem. Virão ao Brasil os presidentes de Rússia, China, África do Sul e o primeiro-ministro da Índia. Trata-se da sexta cúpula anual do Brics, presidida desta vez pela presidente do Brasil.
O brasileiro tende, de modo geral, a subestimar a importância do Brics. Alguns porque dão pouca importância a temas internacionais — países continentais tendem à introversão. Outros preferem ver o Brasil como parte do “mundo ocidental”, um sócio menor de um sistema de governança internacional dominado pelas potências tradicionais — Europa e, principalmente, Estados Unidos.
As potências tradicionais não nos dão, entretanto, o espaço que legitimamente pretendemos ter nas instituições e foros internacionais, tais como as Nações Unidas, o FMI, o Banco Mundial. Americanos e europeus estão agarrados ao status quo e não pretendem ceder espaço aos emergentes.
Isso cria enorme descompasso entre a arquitetura institucional e a realidade da economia mundial. Foram divulgadas há pouco novas estimativas de PIB, calculadas por paridade de compra. Os países emergentes e em desenvolvimento respondem agora por 56,4% da economia mundial; os desenvolvidos por 43,6%.
A participação do Brics na economia mundial alcança 29,7% do PIB mundial. A China, com 15,9%, já é quase do tamanho dos EUA, cuja participação caiu para 16,5%. A participação da área do euro é 12,2%, não chegando nem à metade da do Brics.
Se tudo correr bem nesta reta final, serão assinados na cúpula da semana que vem os tratados que criam um Banco de Desenvolvimento e um Fundo Monetário do Brics. E Fortaleza ficará para o Brics como Bretton Woods para o Banco Mundial e o FMI.
Bem sei, leitor, que a seleção é a “pátria de calção e chuteiras, dando botinadas em todas as direções”. E que o jogo de terça-feira foi um desastre de proporções inimagináveis. Se estivesse vivo, Nelson Rodrigues escreveria páginas de Dickens sobre a tragédia que se abateu sobre o escrete brasileiro.
Mas não vamos cultivar o fracasso. Todo grande país sofre grandes derrotas. Os Estados Unidos tiveram o seu Vietnã. A França teve o seu verão de 1940, quando as forças alemãs desmontaram a defesa francesa em questão de semanas, na mais impressionante das Blitzkriege (guerras-relâmpago) que os alemães fizeram na Segunda Guerra Mundial. O que sofremos terça-feira foi nada mais nada menos do que uma “guerra-relâmpago”. Os brasileiros ficaram tão atônitos quanto os franceses assistindo estarrecidos à entrada das tropas alemãs em Paris.
Acabou. Vamos em frente. A disputa pelo terceiro lugar com a Holanda será uma oportunidade de mostrar que o jogo de terça foi um acidente grotesco, um ponto totalmente fora da curva para a grande seleção brasileira.
O próximo evento internacional no Brasil depois da Copa será a Cúpula dos líderes do Brics, em Fortaleza, na semana que vem. Virão ao Brasil os presidentes de Rússia, China, África do Sul e o primeiro-ministro da Índia. Trata-se da sexta cúpula anual do Brics, presidida desta vez pela presidente do Brasil.
O brasileiro tende, de modo geral, a subestimar a importância do Brics. Alguns porque dão pouca importância a temas internacionais — países continentais tendem à introversão. Outros preferem ver o Brasil como parte do “mundo ocidental”, um sócio menor de um sistema de governança internacional dominado pelas potências tradicionais — Europa e, principalmente, Estados Unidos.
As potências tradicionais não nos dão, entretanto, o espaço que legitimamente pretendemos ter nas instituições e foros internacionais, tais como as Nações Unidas, o FMI, o Banco Mundial. Americanos e europeus estão agarrados ao status quo e não pretendem ceder espaço aos emergentes.
Isso cria enorme descompasso entre a arquitetura institucional e a realidade da economia mundial. Foram divulgadas há pouco novas estimativas de PIB, calculadas por paridade de compra. Os países emergentes e em desenvolvimento respondem agora por 56,4% da economia mundial; os desenvolvidos por 43,6%.
A participação do Brics na economia mundial alcança 29,7% do PIB mundial. A China, com 15,9%, já é quase do tamanho dos EUA, cuja participação caiu para 16,5%. A participação da área do euro é 12,2%, não chegando nem à metade da do Brics.
Se tudo correr bem nesta reta final, serão assinados na cúpula da semana que vem os tratados que criam um Banco de Desenvolvimento e um Fundo Monetário do Brics. E Fortaleza ficará para o Brics como Bretton Woods para o Banco Mundial e o FMI.
13 de julho de 2014
Paulo Nogueira Batista Jr., O Globo
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