"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 13 de julho de 2014

FRACASSO NÃO SE CULTIVA

Brasileiros ficaram atônitos como franceses assistindo à entrada das tropas alemãs em Paris

Bem sei, leitor, que a seleção é a “pátria de calção e chuteiras, dando botinadas em todas as direções”. E que o jogo de terça-feira foi um desastre de proporções inimagináveis. Se estivesse vivo, Nelson Rodrigues escreveria páginas de Dickens sobre a tragédia que se abateu sobre o escrete brasileiro.

Mas não vamos cultivar o fracasso. Todo grande país sofre grandes derrotas. Os Estados Unidos tiveram o seu Vietnã. A França teve o seu verão de 1940, quando as forças alemãs desmontaram a defesa francesa em questão de semanas, na mais impressionante das Blitzkriege (guerras-relâmpago) que os alemães fizeram na Segunda Guerra Mundial. O que sofremos terça-feira foi nada mais nada menos do que uma “guerra-relâmpago”. Os brasileiros ficaram tão atônitos quanto os franceses assistindo estarrecidos à entrada das tropas alemãs em Paris.

Acabou. Vamos em frente. A disputa pelo terceiro lugar com a Holanda será uma oportunidade de mostrar que o jogo de terça foi um acidente grotesco, um ponto totalmente fora da curva para a grande seleção brasileira.

O próximo evento internacional no Brasil depois da Copa será a Cúpula dos líderes do Brics, em Fortaleza, na semana que vem. Virão ao Brasil os presidentes de Rússia, China, África do Sul e o primeiro-ministro da Índia. Trata-se da sexta cúpula anual do Brics, presidida desta vez pela presidente do Brasil.

O brasileiro tende, de modo geral, a subestimar a importância do Brics. Alguns porque dão pouca importância a temas internacionais — países continentais tendem à introversão. Outros preferem ver o Brasil como parte do “mundo ocidental”, um sócio menor de um sistema de governança internacional dominado pelas potências tradicionais — Europa e, principalmente, Estados Unidos.

As potências tradicionais não nos dão, entretanto, o espaço que legitimamente pretendemos ter nas instituições e foros internacionais, tais como as Nações Unidas, o FMI, o Banco Mundial. Americanos e europeus estão agarrados ao status quo e não pretendem ceder espaço aos emergentes.

Isso cria enorme descompasso entre a arquitetura institucional e a realidade da economia mundial. Foram divulgadas há pouco novas estimativas de PIB, calculadas por paridade de compra. Os países emergentes e em desenvolvimento respondem agora por 56,4% da economia mundial; os desenvolvidos por 43,6%.

A participação do Brics na economia mundial alcança 29,7% do PIB mundial. A China, com 15,9%, já é quase do tamanho dos EUA, cuja participação caiu para 16,5%. A participação da área do euro é 12,2%, não chegando nem à metade da do Brics.

Se tudo correr bem nesta reta final, serão assinados na cúpula da semana que vem os tratados que criam um Banco de Desenvolvimento e um Fundo Monetário do Brics. E Fortaleza ficará para o Brics como Bretton Woods para o Banco Mundial e o FMI.

 
13 de julho de 2014
Paulo Nogueira Batista Jr., O Globo

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