Nossos futuros professores se preparam pouco para enfrentar os tablados escolares; quando formados, carecem de educação continuada que aprimore as práticas de ensino
A frase “os professores brasileiros não sabem ensinar” soa grosseira, autoritária, um acinte. Em todo momento, neste imenso país, alguém está ensinando a alguém as primeiras letras, lições de Geografia, questões de Gramática, problemas de Matemática. Cumpre-se a cada dia o sacerdócio e o ofício de ensinar, goste-se ou não dessas expressões. Mas sobram evidências de que temos problemas a resolver quando o assunto é como os conteúdos são ensinados em sala de aula. Não é questão da hora, mas vale relembrar.
Os cursos de licenciatura têm – tradicionalmente – mais horas teóricas que práticas. Na graduação em Pedagogia, em 3,2 mil horas de aula, apenas algo próximo de 400 são numa classe. Conta simples, conclusão imediata. Uma vez no mercado de trabalho, o professor, não raro recém-formado, é tragado pelo tablado. Ganha de imediato uma, duas, três turmas nas quais vai exercer o ensino. Sem preparo, ou repete os modelos que recebeu quando era aluno ou se lança numa experimentação que nem sempre resulta em ganho para os estudantes.
Em certo sentido, tem sempre um grupo de alunos pagando a conta pelo treinamento do professor, feito a fórceps ou debaixo de água fervendo, como se queira. Tendemos a achar essa conta algo natural, justa, tamanha a devoção que temos pelo que é informal, instantâneo, espontâneo, um futebol emotivo que pode terminar em 7 a 1. Mas o tempo – e as estatísticas – têm mostrado que o setor de ensino não faz um bom negócio em perpetuar essa cultura.
Relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) indica que o Brasil dorme em maus lençóis. As faculdades são teóricas em demasia – muitas vezes para suprir as falhas do ensino médio –, e a formação continuada oferecida aos professores tem o mesmo cacoete. Sem uma quantidade razoável de cursos customizados – voltados para o “como se faz” –, o país perde terreno para nações que se ocupam da “prática de ensino”. Não se trata de um “palavrão”, um lesa-debate crítico, mas da garantia de que o conhecimento será dividido.
Entre os países que abraçaram, sem preconceito, o chão de fábrica da sala de aula estão Finlândia, Cingapura e Coreia do Sul. Não são culturas escolares homogêneas, diga-se, mas as três nações alcançam bons resultados no teste internacional Pisa. O assunto deixa muitos educadores nos cascos, posto que se questiona a viva voz a supremacia do Pisa nas análises escolares, como se fosse palavra divina. Não é. Mas o Pisa tampouco deve ir para a fogueira.
Um estudo lançado no início de julho confirma as impressões da OCDE e os resultados do Pisa. Formação continuada de professores no Brasil – do Instituto Ayrton Senna, em parceria com o Boston Consulting Group (BCG) – entrevistou 2,7 mil profissionais de educação e apontou que apenas 2% dos professores são tutelados por mestres mais experientes antes de ganharem uma regência. Sim – eles sentem necessidade de pistas sobre como lecionar de maneira mais adequada. Dizem que os muitos cursos que fazem pouco ajudam a lidar com a transmissão de conteúdos. Também reclamam falta de tempo para estudar. E que a formação recebida nas faculdades contempla pouco a realidade escolar.
Acenam, por fim, uma última problemática – a altíssima rotatividade escolar, verdadeiro pesadelo para eles e para os educandos. A situação já tinha sido explicitada nas pesquisas da Prova Brasil 2011: quase 30% dos professores tinham dois anos na escola em que estavam lotados. Cerca de metade tinha menos de 15 anos de profissão. Apenas 14% vinham de uma carreira no mesmo lugar. É consenso na educação de que há uma relação íntima entre ensino e permanência do professor na escola.
O quadro não é positivo: professores muito jovens, rodando de sala em sala, destituídos de modelos, afundados nos desafios do ensino. Com todas essas evidências, resta clamar por uma reviravolta. Faz sentido aquela piada de que nossas escolas seguem um modelo do século 19, os professores pensam como se estivessem no século 20 e os alunos são do século 21. Pode-se argumentar do quanto é saudável a convivência desses três modelos. Mas se tornou indefensável ignorar que bons exercícios, resolução de problemas, experiências, formas de pesquisa e um sem-número de técnicas bem aplicadas têm poder de levar a escola a cumprir seu destino, ensinando a pesquisar e garantindo o conteúdo para que o aluno siga adiante.
A frase “os professores brasileiros não sabem ensinar” soa grosseira, autoritária, um acinte. Em todo momento, neste imenso país, alguém está ensinando a alguém as primeiras letras, lições de Geografia, questões de Gramática, problemas de Matemática. Cumpre-se a cada dia o sacerdócio e o ofício de ensinar, goste-se ou não dessas expressões. Mas sobram evidências de que temos problemas a resolver quando o assunto é como os conteúdos são ensinados em sala de aula. Não é questão da hora, mas vale relembrar.
Os cursos de licenciatura têm – tradicionalmente – mais horas teóricas que práticas. Na graduação em Pedagogia, em 3,2 mil horas de aula, apenas algo próximo de 400 são numa classe. Conta simples, conclusão imediata. Uma vez no mercado de trabalho, o professor, não raro recém-formado, é tragado pelo tablado. Ganha de imediato uma, duas, três turmas nas quais vai exercer o ensino. Sem preparo, ou repete os modelos que recebeu quando era aluno ou se lança numa experimentação que nem sempre resulta em ganho para os estudantes.
Em certo sentido, tem sempre um grupo de alunos pagando a conta pelo treinamento do professor, feito a fórceps ou debaixo de água fervendo, como se queira. Tendemos a achar essa conta algo natural, justa, tamanha a devoção que temos pelo que é informal, instantâneo, espontâneo, um futebol emotivo que pode terminar em 7 a 1. Mas o tempo – e as estatísticas – têm mostrado que o setor de ensino não faz um bom negócio em perpetuar essa cultura.
Relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) indica que o Brasil dorme em maus lençóis. As faculdades são teóricas em demasia – muitas vezes para suprir as falhas do ensino médio –, e a formação continuada oferecida aos professores tem o mesmo cacoete. Sem uma quantidade razoável de cursos customizados – voltados para o “como se faz” –, o país perde terreno para nações que se ocupam da “prática de ensino”. Não se trata de um “palavrão”, um lesa-debate crítico, mas da garantia de que o conhecimento será dividido.
Entre os países que abraçaram, sem preconceito, o chão de fábrica da sala de aula estão Finlândia, Cingapura e Coreia do Sul. Não são culturas escolares homogêneas, diga-se, mas as três nações alcançam bons resultados no teste internacional Pisa. O assunto deixa muitos educadores nos cascos, posto que se questiona a viva voz a supremacia do Pisa nas análises escolares, como se fosse palavra divina. Não é. Mas o Pisa tampouco deve ir para a fogueira.
Um estudo lançado no início de julho confirma as impressões da OCDE e os resultados do Pisa. Formação continuada de professores no Brasil – do Instituto Ayrton Senna, em parceria com o Boston Consulting Group (BCG) – entrevistou 2,7 mil profissionais de educação e apontou que apenas 2% dos professores são tutelados por mestres mais experientes antes de ganharem uma regência. Sim – eles sentem necessidade de pistas sobre como lecionar de maneira mais adequada. Dizem que os muitos cursos que fazem pouco ajudam a lidar com a transmissão de conteúdos. Também reclamam falta de tempo para estudar. E que a formação recebida nas faculdades contempla pouco a realidade escolar.
Acenam, por fim, uma última problemática – a altíssima rotatividade escolar, verdadeiro pesadelo para eles e para os educandos. A situação já tinha sido explicitada nas pesquisas da Prova Brasil 2011: quase 30% dos professores tinham dois anos na escola em que estavam lotados. Cerca de metade tinha menos de 15 anos de profissão. Apenas 14% vinham de uma carreira no mesmo lugar. É consenso na educação de que há uma relação íntima entre ensino e permanência do professor na escola.
O quadro não é positivo: professores muito jovens, rodando de sala em sala, destituídos de modelos, afundados nos desafios do ensino. Com todas essas evidências, resta clamar por uma reviravolta. Faz sentido aquela piada de que nossas escolas seguem um modelo do século 19, os professores pensam como se estivessem no século 20 e os alunos são do século 21. Pode-se argumentar do quanto é saudável a convivência desses três modelos. Mas se tornou indefensável ignorar que bons exercícios, resolução de problemas, experiências, formas de pesquisa e um sem-número de técnicas bem aplicadas têm poder de levar a escola a cumprir seu destino, ensinando a pesquisar e garantindo o conteúdo para que o aluno siga adiante.
13 de julho de 2014
Editorial Gazeta do Povo, PR
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