Criação de um banco de desenvolvimento e de fundo para enfrentar problemas no balanço de pagamentos são passos concretos do bloco
Os líderes do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) terão nova oportunidade terça-feira, em Fortaleza, de fazer do grupo mais do que uma sigla. Dois itens da pauta podem tornar isto realidade: a criação do Arranjo Contingente de Reservas, com US$ 100 bilhões para ajudar países membros com problemas no balanço de pagamentos, um FMI do grupo; e um banco de desenvolvimento, com capital de US$ 50 bilhões, para financiar projetos sustentáveis de infraestrutura.
A reunião de Fortaleza ocorre num momento em que o Brics — acrônimo usado pela primeira vez há 12 anos pelo economista inglês Jim O’Neill, do Goldman Sachs, para designar grandes países emergentes em rápido desenvolvimento — não ostenta o brilho do passado. Em todos, o crescimento arrefeceu em alguma medida, um reflexo, para alguns, ainda das turbulências mundiais, embora os Estados Unidos já deem sinais de recuperação com uma certa consistência. No caso do Brasil, as causas são internas. Mesmo a China, na delicada manobra de troca de indutor de expansão, dos investimentos para o consumo, viu seu ritmo de crescimento ficar no patamar dos 7%, abaixo dos 9% a 10% de passado recente. Já que foram reunidos numa sigla por O’Neill, esses países decidiram fazer por onde. O objetivo era unificar o discurso em meio à grave crise financeira que o mundo atravessava. A primeira reunião foi em 2009, em Yekaterinburgo (Rússia), e a última, no ano passado em Durban, África do Sul. Há, evidentemente, dificuldades para se chegar a uma agenda comum entre países tão díspares — econômica, cultural e politicamente. Inclusive porque há interesses conflitantes entre Brasil, China e Índia, como ficou atestado no fracasso da Rodada de Doha, em 2008, em Genebra, criada para e liberalização do comércio internacional.
Os percalços não impedem que esses países se aproximem e falem em conjunto. Naturalmente, em contraposição aos EUA e, às vezes, à União Europeia. Foi este aspecto, aliás, que chamou a atenção da diplomacia companheira: participar de um eixo internacional forte contra “o Norte”. Pois a marca da política externa lulopetista foi ressuscitar, de forma anacrônica, a visão Sul-Sul. Com isto o país se viu capturado na armadilha de um Mercosul em esvaziamento, enquanto o governo se mostrava blasé diante do maior mercado consumidor do mundo (EUA). São vários os equívocos da política externa lulopetista. Um deles, achar que o Brics seria antiamericanista, sem considerar que a saúde financeira da China depende dos EUA. Mas o Brics é importante fórum para o Planalto, na hora em que o país enfrenta percalços, com risco de estagflação, e por ter sua importância diminuída no mundo à medida que aceita com passividade o atoleiro em que a crise argentina o coloca. Quanto mais não seja, permitirá a Dilma o convívio com os líderes presentes — o chinês XI Jiping, o russo Vladimir Putin, o sul-africano Jacob Zuma e, ainda, conhecer o premier Narendra
Os líderes do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) terão nova oportunidade terça-feira, em Fortaleza, de fazer do grupo mais do que uma sigla. Dois itens da pauta podem tornar isto realidade: a criação do Arranjo Contingente de Reservas, com US$ 100 bilhões para ajudar países membros com problemas no balanço de pagamentos, um FMI do grupo; e um banco de desenvolvimento, com capital de US$ 50 bilhões, para financiar projetos sustentáveis de infraestrutura.
A reunião de Fortaleza ocorre num momento em que o Brics — acrônimo usado pela primeira vez há 12 anos pelo economista inglês Jim O’Neill, do Goldman Sachs, para designar grandes países emergentes em rápido desenvolvimento — não ostenta o brilho do passado. Em todos, o crescimento arrefeceu em alguma medida, um reflexo, para alguns, ainda das turbulências mundiais, embora os Estados Unidos já deem sinais de recuperação com uma certa consistência. No caso do Brasil, as causas são internas. Mesmo a China, na delicada manobra de troca de indutor de expansão, dos investimentos para o consumo, viu seu ritmo de crescimento ficar no patamar dos 7%, abaixo dos 9% a 10% de passado recente. Já que foram reunidos numa sigla por O’Neill, esses países decidiram fazer por onde. O objetivo era unificar o discurso em meio à grave crise financeira que o mundo atravessava. A primeira reunião foi em 2009, em Yekaterinburgo (Rússia), e a última, no ano passado em Durban, África do Sul. Há, evidentemente, dificuldades para se chegar a uma agenda comum entre países tão díspares — econômica, cultural e politicamente. Inclusive porque há interesses conflitantes entre Brasil, China e Índia, como ficou atestado no fracasso da Rodada de Doha, em 2008, em Genebra, criada para e liberalização do comércio internacional.
Os percalços não impedem que esses países se aproximem e falem em conjunto. Naturalmente, em contraposição aos EUA e, às vezes, à União Europeia. Foi este aspecto, aliás, que chamou a atenção da diplomacia companheira: participar de um eixo internacional forte contra “o Norte”. Pois a marca da política externa lulopetista foi ressuscitar, de forma anacrônica, a visão Sul-Sul. Com isto o país se viu capturado na armadilha de um Mercosul em esvaziamento, enquanto o governo se mostrava blasé diante do maior mercado consumidor do mundo (EUA). São vários os equívocos da política externa lulopetista. Um deles, achar que o Brics seria antiamericanista, sem considerar que a saúde financeira da China depende dos EUA. Mas o Brics é importante fórum para o Planalto, na hora em que o país enfrenta percalços, com risco de estagflação, e por ter sua importância diminuída no mundo à medida que aceita com passividade o atoleiro em que a crise argentina o coloca. Quanto mais não seja, permitirá a Dilma o convívio com os líderes presentes — o chinês XI Jiping, o russo Vladimir Putin, o sul-africano Jacob Zuma e, ainda, conhecer o premier Narendra
13 de julho de 2014
Editorial O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário