"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

NOITE DOS MASCARADOS

 

Vamos ver se ficou entendido: o governo federal propõe a proibição do anonimato nas manifestações de rua, exige que os cidadãos se identifiquem à autoridade policial, mas não vê empecilho no uso de máscaras e pinturas para quem desejar assim, de maneira anônima, participar dos protestos.

A justificativa é a de que cada um é livre para se expressar como bem entender e que seria - na expressão do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo - "complicado" a polícia intervir para enquadrar "quatro ou cinco mascarados".

Pessoas que sem a menor complicação já estão avisando, como fizeram na edição de domingo do Estado, que durante a Copa do Mundo estão dispostas a "tacar molotov" para "dar susto em gringo". A intenção não é machucar, dizem, mas se for preciso, se ninguém os "ouvir", não haverá outro jeito a não ser abrir fogo.

E como o farão? Mascarados, claro. Para dificultar a identificação. Na ideia do ministro da Justiça isso se resolve com a polícia pedindo aos rapazes e moças a carteira de identidade ali no meio da confusão. Documentos estes que serão prontamente apresentados pelos jovens que estão ali com a intenção de colaborar, pois não?

Parece brincadeira. Trata-se de um raciocínio que, no limite, reserva a um delinquente com um morteiro, uma pedra, um rojão ou um coquetel molotov nas mãos e na cabeça a ideia da destruição o mesmo tratamento dado ao folião fantasiado num bloco de carnaval.

Ambos portam alegorias, têm o mesmo direito de se manifestar livremente nas ruas e, em princípio, não podem ser acusados de sair de casa para fazer o mal. É o que parece pensar o governo federal.
Essa é uma teoria tola tão distante da crueza da realidade que deve estar mal explicada. Falta alguma coisa, não deve ser exatamente esse o pensamento do governo. Aguardemos, logo possivelmente haverá uma correção.

Essas ações violentas já produziram muitos feridos, causaram uma morte e causarão outras. Está escrito. O uso da máscara protege o potencial criminoso e é sobre isso que fala o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, quando propõe a proibição inexplicavelmente rechaçada pelo governo federal.

O ministro da Justiça defende o aumento das penas dos crimes cometidos nas manifestações, mas assume uma posição que dificulta a prevenção à ocorrência dos delitos.
É contra a exigência de aviso prévio dos atos de protesto por temer a restrição a manifestações espontâneas tais como, exemplifica, "uma ação em defesa de algum professor por parte de alunos de uma escola".
Comparação tão descabida que em breve certamente será corrigida. Queira o bom senso, antes da próxima vítima fatal.

De titãs. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, poderia até ter vontade de se candidatar a presidente nesta eleição.
Mas não dará o gosto ao PT de acusá-lo de uso eleitoral do julgamento do processo do mensalão. Na nota que o ministro divulgou sobre o assunto, deixou aberta a possibilidade de entrar na disputa eleitoral no futuro.
Interpretou-se que em 2018. Eleição em que o ex-presidente Lula também admite concorrer.

Volta do cipó. Nessa toada de deserções e contestações às regras trabalhistas, área sensível ao partido do governo brasileiro, o programa Mais Médicos corre o risco de se transformar em fator de menos votos para Alexandre Padilha, o ministro da Saúde executor do projeto e candidato do PT ao governo de São Paulo.

A avaliação não é da oposição que, atarantada com o sucesso inicial, deu apoio e ainda não sabe como alterar a rota sem cair em contradição.

18 de fevereiro de 2014
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário