"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

PELEGADA DA CUT REVÊ, AOS 30 ANOS, ELO COM GOVERNO MENSALEIRO DO PT

"Apartidária" na fundação, CUT revê, aos 30 anos, elo com governos petistas.  Ata de criação da maior central sindical do País, localizada pelo 'Estado' a partir da Lei de Acesso à Informação, pregava importância da independência; fundadores defendem rompimento da entidade com o PT para que ela sobreviva e resgate seu DNA
 
 
Principal central sindical do País, a CUT (Central Única dos Trabalhadores) imbricou-se com o PT e com o Planalto e, às vésperas de completar 30 anos, é criticada por fundadores que pregam um rompimento para resgatar o DNA original "apartidário" da entidade. O dilema sobre a vinculação sindical com o governo petista tornou-se ainda mais evidente com as manifestações de junho, quando levantaram-se questionamentos sobre a falta de conexão dos movimentos sociais, umbilicalmente ligados ao Planalto, e a sociedade.
 
Veja também:
 
Congresso de criação da CUT, em 28 de agosto de 1983 - Vera Jursys/AE - 29.08.1983
Vera Jursys/AE - 29.08.1983
Congresso de criação da CUT, em 28 de agosto de 1983


A ata de fundação da CUT já registrava esse impasse fundamental entre a central e o Partido dos Trabalhadores. O documento, tido como perdido pelos próprios autores, foi obtido pelo Estado por meio da Lei de Acesso à Informação. Lavrada em cartório por Jair Meneguelli, então sucessor de Luiz Inácio Lula da Silva no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, e por Delúbio Soares, que viria a fazer a ponte entre a tesouraria da CUT e a do PT poucos anos depois, a ata é clara: "A CUT será uma entidade de âmbito nacional, sem caráter partidário".
 
Primeiro presidente da entidade, Meneguelli diz que a CUT perdeu uma oportunidade histórica ao não aproveitar a relação com Lula e Dilma Rousseff para fazer avançar suas principais bandeiras. Para o especialista em sindicalismo da Unicamp, também fundador da CUT, Ricardo Antunes, a única saída para a central é o rompimento com o Planalto. "A CUT perdeu quase que completamente suas bases, mas fortaleceu-se enquanto cúpula, e praticamente toda a sua direção foi para o aparelho do Estado nos últimos 10 anos", afirma.
 
Cofre cheio. Com 2,2 mil sindicatos e 2,7 milhões de trabalhadores associados, a CUT é a entidade que mais recebe o dinheiro repartido pelo governo. Segundo a entidade, o imposto sindical refere-se a cerca de 65% de seu orçamento anual.
 
Mesmo contrária ao imposto sindical desde a fundação, a central aceitou receber o dinheiro em 2008, quando Lula criou lei permitindo o repasse às centrais, e nos últimos cinco anos, a central abocanhou mais de R$ 270 milhões.
 
A relação com o PT gerou frutos políticos a lideranças da central. Na ata de fundação há cinco dirigentes que depois deixariam a CUT para seguir carreira partidária nacional. Além de Delúbio, o documento registra a participação de Olívio Dutra (PT-RS), que viria a ser governador do Rio Grande do Sul e ministro das Cidades no governo Lula, Paulo Paim, hoje senador pelo PT-RS, e dos deputados federais pelo PT-SP Arlindo Chinaglia e Vicentinho. Jorge Lorenzetti, o "churrasqueiro de Lula", e Osvaldo Bargas, ambos denunciados pela Polícia Federal como organizadores do "esquema dos aloprados", em 2006, também assinam a ata.
 
Primeiro vice-presidente da CUT no Centro-Oeste, Delúbio foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no ano passado por envolvimento no escândalo do mensalão a oito anos e 11 meses de prisão por formação de quadrilha e corrupção ativa.
 
Zona de segurança. De acordo com Meneguelli, a CUT não soube manter uma distância segura do partido de seus dirigentes, especialmente após a chegada do PT ao governo federal (veja entrevista abaixo).
 
Segundo o atual presidente da CUT, Vagner Freitas, o governo Lula mudou completamente a conjuntura social brasileira, e, por isso, a atuação da entidade foi diferente nos últimos anos. "Lula é fruto da luta da CUT, da construção do PT, e ele é o maior exemplo do sindicalismo cutista. Não foi um presidente convencional, como Dilma também não é", diz Freitas. "Não posso tratar o governo Dilma da mesma forma que o Meneguelli tratou os militares, o Sarney e o Collor, nem como o Vicentinho tratou com FHC. Os tempos são outros."
 
"Todos os fundadores da CUT tiveram participação na história do Brasil", afirma o deputado Vicentinho. "Nascemos em plena ditadura militar e lutamos contra o empresariado conservador. Conseguimos chegar ao poder, e tivemos a chance de fazer o País crescer, com a incorporação de diversas bandeiras da central em forma de políticas públicas."

19 de agosto de 2013
João Villaverde - O Estado de S.Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário