O dólar subiu mais de 5% na última semana, e quase 20% desde o início deste ano. A disparada da moeda americana não é fruto de uma ação infundada e inconsequente de especuladores. Ao contrário, é um sintoma de mudanças dos fundamentos econômicos no Brasil e no mundo. Não é, portanto, um fenômeno transitório que possa ser revertido simplesmente pela venda de reservas cambiais pelo Banco Central.
A mudança de fundamentos econômicos diz respeito às expectativas de crescimento aqui e lá fora. Após a grande crise financeira de 2008-2009, os países emergentes se tornaram as fronteiras de crescimento da economia mundial.
Os Estados Unidos entraram em colapso pelos excessos cometidos por seus financistas à base de anabolizantes, o dinheiro barato do Federal Reserve (Fed). A Europa também desceu ao inferno quando foram desnudados pela moeda única os excessos promovidos no paraíso perdido da social-democracia. E a economia japonesa era um cadáver insepulto havia duas décadas. Pois bem, tudo isso mudou.
De um lado, temos a recuperação ensaiada pelos americanos, o abrandamento da turbulência europeia e a ressurreição japonesa. De outro, o esfriamento das economias emergentes. Essa mudança nas expectativas de crescimento, a favor das economias avançadas, provoca um redirecionamento nos fluxos internacionais de capitais.
Embora se diga superficialmente que a alta do dólar se deve ao iminente processo de retirada de estímulos à economia americana e à alta de juros pelo Fed, o fato é que essa normalização da política monetária deve-se, por sua vez, às expectativas de melhor desempenho da economia. Já estamos também subindo os juros aqui, bem mais até do que se espera que subam lá fora, ainda que por motivos menos nobres: pela alta da inflação, e não pela expectativa de maior crescimento.
Prossegue há bastante tempo uma importante realocação de portfólios financeiros brasileiros em direção ao exterior. A saída de recursos reflete a piora dos fundamentos fiscais e a percepção de que o Banco Central brasileiro está “correndo atrás” da inflação. O teto virou a meta, e o impacto inflacionário da desvalorização cambial vai agravar o problema. Enquanto se deteriorarem nossos fundamentos, o dólar terá fôlego para continuar sua escalada.
19 de agosto de 2013
Paulo Guedes, O Globo
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