Orçamento encoberto obtido de Snowden dá detalhes sobre como agências aplicam recursos para vigiar aliados
As agências de espionagem dos EUA montaram um esquema de coleta de inteligência para dar ao presidente informações cruciais sobre ameaças à segurança nacional, segundo orçamento secreto do governo obtido pelo Washington Post do ex-agente Edward Snowden. O orçamento de US$ 52,6 bilhões para o ano fiscal de 2013 dá um panorama do que nunca foi submetido ao escrutínio público.
Embora o governo divulgue seus gastos em inteligência, ele não mostra como usa o dinheiro. O resumo de 178 páginas detalha sucessos, fracassos e objetivos das 16 agências de espionagem dos EUA. O texto descreve tecnologias de ponta, recrutamento e operações. O Washington Post reteve algumas informações após consultar autoridades americanas, que manifestaram temores sobre os riscos para fontes e métodos da inteligência.
"Os EUA fizeram investimentos consideráveis em inteligência desde os ataques terroristas de 11 de Setembro", escreveu o diretor de Inteligência Nacional, James Clapper, em resposta a perguntas do jornal. "Nosso orçamento é confidencial porque poderia fornecer insights para serviços de inteligência estrangeiros discernirem nossas prioridades, capacidades, fontes e métodos que nos permitem obter informações para enfrentar ameaças", disse.
Os gastos da CIA superam os de todas as demais agências de espionagem, com US$ 14,7 bilhões de recursos solicitados em 2013. A cifra supera as estimativas externas e é quase 50% maior do que a da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês), que realiza operações de escuta secreta de conversas privadas e é considerada a gigante da comunidade.
CIA e NSA começaram novos e agressivos esforços para invadir redes estrangeiras de computadores para o roubo de informação e sabotagem de sistemas, adotando o que o orçamento chama de "operações cibernéticas ofensivas".
Muito antes dos vazamentos de Snowden, a comunidade de segurança estava preocupada com "comportamentos anômalos" de empregados e contratados com acesso a material confidencial. A NSA planejou evitar um "comprometimento de informações sensíveis" este ano, reavaliando pelo menos 4 mil pessoas com permissões de segurança de alto nível.
Os agentes de inteligência americanos se interessam tanto por aliados como por inimigos. O Paquistão é descrito como um "alvo intratável" e operações de contrainteligência "são estrategicamente focadas contra alvos prioritários: China, Rússia, Irã, Cuba e Israel. Este último, um aliado americano, mas tem histórico de tentativas de espionagem contra os EUA.
Em palavras, feitos e dólares, as agências de inteligência continuam concentradas no terrorismo como a ameaça mais grave à segurança nacional, que é listada como o primeiro de cinco "objetivos de missão". Os programas de contraterrorismo empregam um em cada quatro membros da força de trabalho e respondem por um terço dos gastos em inteligência.
Os governos de Irã, China e Rússia são difíceis de penetrar, mas o da Coreia do Norte é mais opaco. Há cinco lacunas na inteligência americana sobre o programa nuclear de Pyongyang e analistas não sabem nada sobre as intenções do líder norte-coreano Kim Jong-un.
Conhecido como Justificativa Orçamentária do Congresso para o Programa de Inteligência Nacional, o documento apresenta os níveis de gastos propostos aos comitês de inteligência da Câmara e do Senado, em fevereiro de 2012. Ele descreve agências de espionagem que monitoram milhões de alvos de vigilância e realizam operações que incluem centenas de ataques letais. Elas estão organizadas em torno de cinco prioridades: combater o terrorismo, deter a proliferação de armas nucleares e não convencionais, alertar líderes americanos sobre eventos críticos no exterior, defesa da espionagem estrangeira e realizar ciberoperações.
Na introdução, Clapper diz que as ameaças que os EUA enfrentam "desafiam uma hierarquização". Ele adverte sobre "escolhas duras" a serem adotadas para que a comunidade de inteligência corte gastos. A proposta orçamentária atual considera que os gastos ficarão no mesmo nível pelo menos até 2017. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
31 de agosto de 2013
Barton Gelman e Greg Miller - Washington Post
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