Nas negociações para fechar um acordo de colaboração premiada, o ex-ministro Antonio Palocci sustenta que seu sucessor na Fazenda, Guido Mantega, montou uma espécie de central de venda de informações para o setor financeiro durante os governos petistas. A sede seria o prédio do Ministério da Fazenda em São Paulo, na avenida Paulista, onde Mantega costumava despachar às sextas-feiras.
Palocci implica o sucessor em um suposto esquema de repasse de informações privilegiadas. Segundo ele, Mantega antecipava dados a respeito de juros e edição de medidas provisórias, por exemplo, que eram de interesse de bancos, em troca de apoio ao PT.
ACESSO ANTECIPADO – De acordo com Palocci, agentes do sistema financeiro tinham acesso antecipada ou privilegiadamente a dados importantes e, assim, podiam se preparar ou mesmo se proteger diante de medidas que afetariam o setor.
De acordo com relatos de quem tem acesso às investigações, o esquema começou no governo Lula, em 2006, e seguiu durante o governo Dilma Rousseff, enquanto Mantega foi ministro, até 2015.
Antes de Mantega, quem ocupava a chefia da equipe econômica de Lula era justamente Palocci. Os dois nunca se deram bem.
LULA E EMPRESÁRIOS – Palocci foi condenado pelo juiz Sergio Moro, responsável pelas ações da Lava Jato em Curitiba, a 12 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, envolvendo contratos com a Odebrecht na construção das sondas da Sete Brasil e o Estaleiro Enseada do Paraguaçu.
Mantega, por sua vez, é investigado na Lava Jato e chegou a ter sua prisão preventiva decretada no ano passado – foi liberado em seguida–, acusado de ter pedido ao empresário Eike Batista R$ 5 milhões para saldar dívidas de campanha eleitoral do PT.
Como mostrou a Folha em maio, Palocci tenta negociar, no acordo de delação, que sua pena seja cumprida em um ano de prisão domiciliar e que seus depoimentos sejam focados em banqueiros e empresários, além de Lula.
DELAÇÃO EM PREPARO – Preso desde setembro de 2016, Palocci tem se dedicado à elaboração dos anexos de sua proposta de acordo com a PGR (Procuradoria-Geral da República) e a força-tarefa da Lava Jato.
Como a delação ainda não foi assinada, pode haver mudança no conteúdo do acordo segundo os principais interesses dos procuradores.
Para dar início às conversas, por exemplo, os investigadores exigiram que Palocci confirmasse informações sobre Lula que estão nas delações de ex-executivos da Odebrecht, principalmente no diz respeito à conta “Amigo”, que estaria ligada ao ex-presidente petista. Palocci sinalizou positivamente sobre atender a esta solicitação.
CONTA DE LULA – Segundo o ex-presidente da empreiteira Marcelo Odebrecht, Palocci operava uma conta propina destinada às demandas políticas de Lula.
Outro episódio que Palocci pode esclarecer, de acordo com os procuradores, é o suposto benefício financeiro obtido por Lula na criação da Sete Brasil, em 2010. Para construir sondas, a empresa contratou estaleiros controlados por empreiteiras investigadas pela Lava Jato.
MANTEGA NEGA – A defesa de Guido Mantega afirma que “causa estranheza” a informação de que Antonio Palocci pretende envolvê-lo em um suposto esquema com os bancos em sua delação premiada.
“Qualquer caixa de agência bancária do país sabe que quem representava os interesses do mercado financeiro era o próprio Palocci” diz o advogado Fábio Tofic Simantob. “Guido Mantega, pelo contrário, assumiu sempre posições que desagradavam os bancos, a ponto de ser demonizado. Não houve pessoa mais execrada pelo mercado do que Mantega. A informação, por isso, não faz nenhum sentido”, segue ele.
O advogado faz referência a divergências entre o ex-ministro e os bancos no período em que ele comandou a economia do país, de março de 2006 a janeiro de 2015.
MEDIDA PROVISÓRIA – Em 2008, por exemplo, Mantega baixou uma medida provisória elevando de 9% para 15% a alíquota da Contribuição Social Sobre Lucro Líquido (CSLL) devida por instituições financeiras.
Num ensaio para o livro “As Contradições do Lulismo”, o cientista político André Singer, colunista da Folha, lista uma série de embates entre Mantega e os bancos. Segundo ele, “enquanto Lula foi conciliador”, o governo Dilma decidiu “entrar em combate com frações de classe poderosas”, tensionando “o pacto estabelecido com o setor financeiro”
REDUÇÃO DE JUROS – Ele relata, por exemplo, que na era Dilma/Guido Mantega o governo pressionou os bancos privados a baixarem os spreads, diferença entre as taxas que eles pagam quando captam dinheiro e as que cobram quando emprestam. Mantega dizia que os spreads eram “absurdos”
Em outra medida que desagradou o setor, o Banco do Brasil fez uma redução agressiva nos juros em 2012 e elevou os limites de várias linhas de crédito para empresas e consumidores com o objetivo, segundo relatou a Folha na época, “de acirrar a concorrência com Itaú, Bradesco e Santander e estimular a economia”.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A delação de Palocci está mesmo na reta de chegada, porque ele trocou de advogado. Era defendido por José Roberto Batochio, que também defende Lula e Mantega, que vão ser entregues na bandeja por Palocci. Quanto a André Singer, é suspeito para opinar, devido à sua amizade pessoal a Mantega. Aliás, que mandou reduzir os juros foi Dilma Rousseff, seu ministro Mantega era absolutamento contrário. (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A delação de Palocci está mesmo na reta de chegada, porque ele trocou de advogado. Era defendido por José Roberto Batochio, que também defende Lula e Mantega, que vão ser entregues na bandeja por Palocci. Quanto a André Singer, é suspeito para opinar, devido à sua amizade pessoal a Mantega. Aliás, que mandou reduzir os juros foi Dilma Rousseff, seu ministro Mantega era absolutamento contrário. (C.N.)
10 de julho de 2017
Marina Dias, Daniela Lima e Mônica Bergamo
Folha
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