Para quem acredita em coincidências, é um prato cheio. Em 17 de maio, Lauro Jardim divulgou em O Globo que o empresário Joesley Batista havia gravado uma conversa particular com o presidente Michel Temer, no subsolo do Palácio do Jaburu, na calada da noite, em encontro fora da agenda. Para surpresa geral, no dia seguinte, o ministro Henrique Meirelles anunciou na Folha que, se Temer renunciasse ao cargo, ele continuaria à frente da equipe econômica e se encarregaria de aprovar as reformas. Seis dias depois do escândalo, em 23 de maio o presidente da Petrobras, Pedro Parente, enviou mensagem aos funcionários da estatal para avisar que ficaria no cargo até 2019. E no dia 19 de junho o jornal Valor publicou entrevista do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, dizendo que, se Temer fosse derrubado, a equipe econômica continuaria.
Caramba, realmente é muita coincidência, ou então há algo no ar além dos aviões de carreira, como dizia o genial Apparicio Torelly, o Barão de Itararé.
NO CONTROLE – Esta confiança inaudita da equipe econômica não está baseada em simples coincidência. Demonstra claramente quem está no controle do governo. Conforme já assinalamos aqui, desde que Fernando Henrique Cardoso assumiu o poder em 1995, mandando que esquecessem tudo o que havia escrito, o Brasil se transformou num campo experimental do neoliberalismo.
Quando Lula se elegeu e assumiu em 2003, esperava-se que ele desse um freio de arrumação, para defender os interesses do país e dos trabalhadores, mas aconteceu exatamente o contrário. Como bem lembrou aqui na TI o comentarista Rubens Barbosa Lima, Lula tratou de lançar a Carta aos Brasileiros, escrita por José Dirceu, Duda Mendonça, Antonio Palocci e outros mais, para se curvar ao Sistema/Mercado que já vinha comandando o país há oito anos.
Para mostrar que nada ia mudar, Lula entregou o Banco Central ao principal representante dos banqueiros, Henrique Meirelles, que recentemente deixara a presidência mundial do BankBoston e conseguira comprar uma eleição de deputado federal pelo PSDB de Goiás. Ninguém o conhecia por lá, não fez discurso nem visitou um só eleitor, mas a força da grana lhe rendeu 162 mil votos, bateu o recorde estadual.
RENÚNCIA AO MANDATO – O projeto político de Meirelles era ganhar visibilidade, ser eleito governador de Goiás e depois tentar a Presidência da República. Mas o convite de Lula mudou tudo, para assumir o Banco Central ele teve de renunciar ao mandato parlamentar no qual tanto inve$tira.
Meirelles ficou no BC e ia se desincompatibilizar em abril de 2010, para concorrer ao governo de Goiás (desta vez pelo PSD), mas Lula o convenceu a ficar, garantindo que ele seria ministro da Fazenda na gestão de Dilma Rousseff e ganharia visibilidade para ser candidato a presidente em 2014. Meirelles, mais uma vez, topou.
Mas acontece que era uma armadilha, Guido Mantega foi mantido na Fazenda e Meirelles ficou desempregado, digamos assim. Mas não tardou a se contratado pelos irmãos Batista, para presidir o Conselho de Administração da J&F Investimentos, a holding da JBS, ou seja, do chamado grupo Friboi. Além disso, Meirelles também passou a integrar o Conselho de Administração da Azul Linhas Aéreas Brasileiras.
UM MAU BRASILEIRO – O fato concreto é que Meirelles é um mau brasileiro, de mente colonizada e globalizada, pouco se importa com o interesse nacional. Foi ele quem sugeriu e preparou o esquema para transformar a J&F em multinacional, com sede na Irlanda, para pagar menos impostos ao Brasil.
Foi exclusivamente dele também a ideia de eliminar direitos trabalhistas e enfraquecer a Previdência Social, circunstância que inevitavelmente beneficia os planos de previdência privada dos banqueiros, que são uma boa porcaria, funcionam apenas como fundos de investimentos, não tem renda garantida nem dão direito algum ao segurado. Se tiver um acidente grave e ficar inválido, está liquidado, ao passo que na Previdência Social o amparo é garantido.
Meirelles quer transformar o Brasil numa sucursal dos Estados Unidos, com o mesmo sistema previdenciário e as mesmas leis trabalhistas. Mas há uma brutal diferença. Os EUA são o país mais rico do mundo, que imprime a moeda universal, enquanto o Brasil…
APOIO DOS MILITARES – O fato é que Meirelles se tornou a pessoa mais importante do país, o que diz vira lei, a terceirização já avançou, a pejotização virou norma, em breve a carteira assinada nada significará e a Previdência Social será uma pálida lembrança na memória dos brasileiros. Detalhe importantíssimo – para se garantir, Meirelles não vai mexer na aposentadoria dos militares, que serão estrategicamente preservados, para que continuem quietinhos em seus quartéis falidos.
Os militares estão acomodados, não se metem em nada, desde que seus direitos sejam preservados e os parlamentares vão aprovar as perversidades que Meirelles propôe, pois foi tudo ideia dele, o presidente Michel Temer lhe deu carta branca, porque é um boboca que nada entende de economia e não sabe a diferença entre ação ordinária e ação preferencial. Só entende mesmo é de caixa dois e propinas.
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PS – Este é o assunto mais importante do país, mas ninguém discute. Até o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, já se curvou diante de Meirelles, embora os tucanos contem com um excelente economista chamado Armínio Fraga. Mas quem se interessa? (C.N.)
10 de julho de 2017
Carlos Newton
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