Aquele apitozinho inconfundível. Atender? Quem seria? Urgência? O chato sem noção? Família? O grupo do trabalho com uma fofoca imperdível ou uma dica imprescindível? Pronto, começou a ansiedade, que, em alguns poucos segundos, já significa um tremendo gasto de energia e muito, mas muito estresse. E se olhar a mensagem e os tais dos dois risquinhos aparecem do outro lado, sem que a pessoa possa responder naquela hora, pois está em reunião ou numa situação em que não possa dedilhar uma resposta? Ansiedade para cá e para lá.
Chateação. Quem passou a mensagem está na sua pressa, na sua angústia, na sua urgência. Ok, mas quem recebeu está noutro tempo, em outras prioridades, em outras situações, com outras preocupações.
Está criado o mal-estar, o mau humor. Entre namorados, pais e filhos, companheiros de trabalho, amigos e quem mais exige conexão o tempo todo. Quer mais neurose? Tente fazer ligação após ter enviado mensagem, pois, apesar dos dois risquinhos azuis, não teve resposta e, mais uma vez, não é atendido. Aí é o caos: é só fazer seu filme mental: “Está me desprezando, não me dá atenção, vou excluir, tirar do grupo”. Até que o namorado e/ou amigo e/ou filho retorna explicando da reunião tensa que impedia retorno, ou a prova que estava fazendo…
TORTURADORES – Os viciados, inconscientes da poluição sonora chatíssima da “apitação” irritante de manhã, de tarde, de noite, enviando piadinhas sem noção, correntes que, se não forem passadas à frente, ameaçam com pragas fatais, ou vídeos de autoajuda fraquinhos; são verdadeiros torturadores da paciência alheia. Deveriam ser submetidos a uma experiência durante sete dias e noites consecutivos, com fones de ouvidos escutando a cada minuto os toques de mensagem dos ‘whats’.
Mais uma vez, a meus “haters” (os que adoram odiar e perseguir os que expõem seus pontos de vista nos multimeios), sou reconhecedor do enorme sucesso desse aplicativo, sua utilidade no campo profissional, principalmente para pessoas de baixa renda que têm gratuitamente enorme poder de conectar-se, vender produtos, prestar serviços, bem como comunicar-se sem custo. Foi genial.
E, mais uma vez, nós seres humanos transformamos o que seria um meio numa finalidade de vida prendendo-nos obsessivamente a telas eletrônicas feitos zumbis tecnológicos, enquanto, no mundo real, os encantos e as magias da natureza e meio ambiente a nosso redor são ignorados, as oportunidades perdidas, a sabedoria, fruto da capacidade de observar e ser curioso, vai rareando.
IGUAL AOS OUTROS – Por isso, não me estranha que, quanto mais viciada e alienada seja uma pessoa em tecnologia e telas, maior a possibilidade de não conseguir ser bem-sucedida na vida, e acabar se tornando dependente de pais, avós. Ter dificuldades de se encaixar no mercado de trabalho ou evoluir no emprego. Pois, se precisa de Google para obter informação, de Wikipédia para esclarecer dúvidas, será igual aos bilhões de outros que bebem da mesma fonte.
O mercado de trabalho quer gente criativa, original, que pensa fora do quadrado. Artesanal, que sabe inventar, improvisar, escuta pais e idosos para adquirir experiência, observa natureza, lê, tem conhecimentos gerais, entende que há um mundo lá fora e um universo com leis naturais que regem desde galáxias até nossas células e átomos, genes.
TOQUES FRENÉTICOS – Redes, selfies e o sucesso absoluto, WhatsApp! Trabalho invade família, família invade trabalho. Ciúmes, invejas, vaidades. Intimidades são invadidas, traições são reveladas. O melhor e pior de nós em toques frenéticos. Preconceitos são disseminados em grupos, ódios de raça, religião, fanatismo são alimentados e radicalizados. Bullying, maldades entre colegas de escola ou trabalho. A colega bêbada dizendo ou fazendo bobagem rapidamente viraliza e estará condenada eternamente por ingenuidade e maldade. Nos Estados Unidos, já é uma das principais causas de suicídio entre 10 e 18 anos.
Nudes (fotos nuas ou seminuas de meninas e meninos) e sexies (em atitudes mais sexuais) são considerados normais pela nova geração, até que em caso, por exemplo, de surgir um namoro, essa imagens compartilhadas acabam gerando violência e preconceito e dificuldades futuras.
Por tudo isso, sempre defendo que tudo na vida é relativo: virtude ou defeito, depende do ângulo que se veja, da forma que se use.
24 de janeiro de 2017
Eduardo Aquino
O Tempo
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