"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

BRASIL PODE GANHAR COM A ONDA PROTECIONISTA DA ERA TRUMP, AVALIA GOVERNO



Trump liquidou o tratado que iria prejudicar a China
A saída dos Estados Unidos da Parceria Transpacífico (TPP), confirmada nesta segunda-feira pelo presidente Donald Trump, foi comemorada discretamente pelo governo brasileiro. Entre as razões para isso, a principal é que os produtos em que o Brasil concorre com os EUA (soja, açúcar, suco de laranja, carne bovina, entre outros) nesses mercados do Pacífico, especialmente o Japão, ficariam mais caros em relação aos americanos se o TPP fosse concretizado. Isso porque as exportações americanas deixariam de ser tributadas, ao contrário das vendas provenientes do Brasil.
Na avaliação de fontes que estão na linha de frente da política externa brasileira, outro ponto favorável diz respeito às negociações entre Mercosul e União Europeia (UE). Espera-se que, com essa postura protecionista de Trump, os negociadores europeus voltem a focar o bloco sul-americano. Mesmo porque as perspectivas em torno da conclusão do Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio entre EUA e UE são praticamente nulas neste momento.
“Com o TPP, o produto brasileiro sairia mais caro que o americano. Agora, ficará mais fácil para nós” — afirmou o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

BOA “ENTRE ASPAS” – Para Roberto Abdenur, ex-embaixador do Brasil em Washington, a saída do TPP é boa para o Brasil, mas entre aspas. “O TPP agravaria a marginalização do Brasil no comércio internacional, prejudicaria nosso acesso aos mercados dos países participantes e imporia novos padrões técnicos e regulatórios que iriam além do que nosso visceral protecionismo admite” — completou.
O presidente do Conselho Empresarial Brasil-China, Luiz Augusto de Castro Neves, enfatizou que a saída do TPP já era esperada. Segundo ele, Trump tenta, com isso, proteger industriais americanos mais antigos e menos competitivos. Ele concorda com o fato de o Brasil se beneficiar com a medida, mas acredita que os chineses é que sairão ganhando.
“Será aberto um enorme espaço de negociação comercial para a China” — disse Castro Neves.
BRASIL E EUA – No campo bilateral, equipes dos governos do Brasil e dos EUA começam a se reunir no mês que vem, para construírem uma agenda comum, com itens como facilitação de comércio e investimentos. Os primeiros contatos se darão através das embaixadas dos dois países. Na avaliação do Itamaraty, o aumento do protecionismo a ser patrocinado por Trump não preocupa tanto o Brasil como os outros parceiros internacionais.
“Nós não somos uma fonte de problemas para os EUA. Temos um déficit comercial com eles (US$ 646 milhões em 2016) e, portanto, não somos um país com o qual os EUA precisam consertar a relação comercial” — disse uma fonte do Itamaraty.
Além disso, os EUA são o país com maior estoque de Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs). No acumulado de janeiro a novembro de 2016, os EUA investiram US$ 5,66 bilhões no Brasil, o que o posiciona como o terceiro maior investidor estrangeiro no país. Já os investimentos brasileiros diretos tiveram nos EUA (US$ 1,354 bilhão) o quarto principal destino em 2016, atrás das Ilhas Cayman, Bahamas e Países Baixos.

24 de janeiro de 2017
Eliane Oliveira
O Globo

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