Com preocupação, mas dispostos a demonstrar uma nova autoconfiança, líderes europeus reagiram de forma contundente à primeira entrevista do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, à imprensa estrangeira — ao jornal britânico “Times” e ao alemão “Bild Zeitung” — que causou um abalo sísmico. Disparando sua metralhadora giratória verbal, Trump criticou a União Europeia (UE), a Otan, o acordo nuclear com o Irã e a resposta da Alemanha à crise dos refugiados, classificando de “erro catastrófico” a decisão da chanceler Angela Merkel de abrir as portas do país a mais de um milhão de fugitivos de guerras e da pobreza extrema em países de Ásia, África e Oriente Médio.
Em uma primeira reação, Merkel afirmou que “a Europa é dona do seu próprio destino”. A chefe de governo alemã, que como presidente (rotativa) do G-20 deverá visitar Trump em abril ou maio, apelou aos colegas no continente a não se deixarem confundir pelas declarações dele.
Reunidos em Bruxelas, os chanceleres europeus apelaram para a unidade dos 28 membros da UE. O chanceler francês, Jean-Marc Ayrault, foi enfático:“A melhor resposta à entrevista do presidente é a unidade dos europeus”.
GUERRA À EUROPA – Já o ex-premier e pré-candidato à Presidência da França, Manuel Valls, chamou as falas de Trump de provocação: “Uma declaração de guerra à Europa”.
O presidente da França, François Hollande, também se juntou ao coro que desancou Trump. “A Europa não precisa de conselhos extremos para dizer o que tem de fazer” — pontuou o francês.
Depois de um encontro com o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, o ministro das Relações Exteriores alemão, Frank-Walter Steinmeier, lembrou que as declarações de Trump sobre a Otan vão contra as ideias do futuro secretário de Defesa dos EUA, James Mattis. Segundo Steinmeier — que dentro de poucas semanas deverá ser eleito o novo presidente da Alemanha — Trump causou “surpresa e agitação” na Europa.
NADA DE NOVO – A inquietação indica que os europeus esperavam que, depois de eleito, o republicano deixasse de fazer declarações incendiárias. De fato, Trump não disse nada de novo. Na campanha, criticou Merkel, elogiou o Brexit (a saída do Reino Unido da UE), e antecipou que iria adotar medidas protecionistas para proteger as empresas americanas — ele já anunciou uma taxa de 35% para os carros da montadora alemã BMW produzidos no México.
De carona no populismo de Trump, os direitistas europeus contam com mudanças radicais em 2017, que começariam com a possível vitória de Geert Wilders, do Partido da Liberdade, na Holanda, e de Le Pen, na França, em março e em maio. Para o cientista político italiano Giulietto Chiesa, a extrema-direita continuará contando com a influência do americano para acabar com o fluxo de refugiados e reduzir o papel da UE nos países-membros.
No Leste, da Rússia à República Tcheca, no entanto, Trump é admirado. Irina Sherbakova, historiadora e ativista da ONG Memorial, lembra que os russos — que detestavam Barack Obama — associam o novo governo à possibilidade de melhoria nas relações entre Moscou e o Ocidente e, com isso, o fim das sanções e superação da crise econômica.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Trump disse algumas verdades e esqueceu de dizer outras. A crise dos refugiados só existe devido à interferência dos EUA e seus aliados em países do Oriente Médio e da África. Se os americanos e os europeus respeitassem a soberania dos povos ricos em petróleo, nada disso ocorreria. Os países europeus estão com população decrescente e precisam de imigrantes para fazer o trabalho subalterno. O racismo e o nacionalismo estão aumentando, e a culpa não é de Donald Trump. (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Trump disse algumas verdades e esqueceu de dizer outras. A crise dos refugiados só existe devido à interferência dos EUA e seus aliados em países do Oriente Médio e da África. Se os americanos e os europeus respeitassem a soberania dos povos ricos em petróleo, nada disso ocorreria. Os países europeus estão com população decrescente e precisam de imigrantes para fazer o trabalho subalterno. O racismo e o nacionalismo estão aumentando, e a culpa não é de Donald Trump. (C.N.)
17 de janeiro de 2017
Graça Magalhães-Ruether
O Globo
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