Um dos maiores mistérios do governo de Michel Temer é a manutenção do economista Dyogo Henrique de Oliveira no primeiro escalão da República. Nas gestões de Dilma, ele se tornou um dos destaques da equipe econômica petista e foi ministro interino da Fazenda, tendo participado ativamente das maquiagens das contas públicas e das pedaladas fiscais. Apesar desse currículo que mais parece uma folha corrida, Dyogo Oliveira foi o único membro do primeiro escalão petista a ser mantido no governo Temer, inicialmente como secretário-geral do Planejamento e depois na função de ministro, ocupando a vaga deixada por Romero Jucá.
AMIGO DE MEIRELLES – Não existe justificativa para esse fenômeno de mimetismo político, exceto o fato de Dyogo Oliveira ter se relacionado anteriormente com Henrique Meirelles, que presidia o Banco Central e comandava nos bastidores a equipe econômica, nos dois governos de Lula.
Acontece que, no serviço público, relações pessoais não podem ser sobrepor aos interesses nacionais, especialmente quando se trata de ética e honestidade profissional, dois atributos que Dyogo Oliveira com certeza não ostenta.
ENVOLVIMENTO DIRETO – O fato concreto é o flagrante envolvimento do atual ministro do Planejamento em atos de corrupção, como operador das manobras de compra e venda de Medidas Provisórias pelos governos petistas, é justamente por isso que ele continua investigado na operação Zelotes.
Uma mensagem por e-mail enviada a Marcelo Odebrecht pelo diretor jurídico da empreiteira, Maurício Ferro, comprova que era Dyogo Oliveira quem conduzia a operação fraudulenta, que estava até enfrentando resistências da Receita Federal. “Será importante você ter a reunião com GM (Guido Mantega) amanhã depois da PR (presidente Dilma Rousseff). Receita continua criando dificuldades e Dyogo precisará do apoio do ministro”, sugeriu o diretor Ferro ao presidente Marcelo Odebrecht.
NÃO SE LEMBRA… – Ao depor na Operação Zelotes, Dyogo alegou que cuidava do setor industrial no Ministério Fazenda e, por isso, teve reuniões com representantes de empresas, inclusive automotivas. Disse não se recordar, mas admitiu que, numa dessas reuniões, o lobista Alexandre Paes dos Santos, o APS, que viria a ser condenado na Zelotes, deve ter participado…
Dyogo não se lembra, mas é citado em anotações do lobista, que costumava registrar dados sobre a negociação das Medidas Provisórias. Num dos trechos, APS escreveu “Diogo/José Ricardo”, seguido de “Secretaria de Política Econômica” e “SPE”. Em outro documento, de 2011, a Marcondes e Mautoni Empreendimentos, empresa que atuou na compra das MPs, também registra uma reunião com Dyogo entre 28 e 31 de março.
O Ministério Público Federal criticou a conduta do atual ministro de Temer. “O que chamou a atenção no depoimento de Dyogo Henrique é o fato dele não saber quantas vezes se encontrou com Mauro Marcondes nem explicar por que não existe registro ou ata destas reuniões. A ausência de registro das reuniões com o lobista Marcondes viola o Código de Ética da Alta Administração Federal, a qual Dyogo estava vinculado na época dos fatos”, assinalou a Procuradoria.
FORMAÇÃO DE QUADRILHA – As investigações da Zelotes ainda estão em andamento, para apurar a participação de Dyogo Oliveira, Erenice Guerra, Nelson Machado, Lula da Silva, Gilberto Carvalho, Helder Silva Chaves, Ivan João Guimarães Ramalho e Miguel Jorge, entre outros, numa verdadeira formação de quadrilha.
Além disso, o atual ministro do Planejamento é um dos ex-conselheiros do Banco do Nordeste intimados a depor sobre irregularidades num empréstimo de R$ 375 milhões à Cervejaria Itaipava em 2014. O caso foi revelado pela revista Época. São eles: Dyogo Oliveira, ministro do Planejamento, Fabrício da Soller, procurador-geral da Fazenda Nacional, Demétrius Cruz, assessor especial de Henrique Meirelles, e Nelson de Souza, vice-presidente da Caixa. Detalhe: Dyogo Oliveira não compareceu na data marcada pelo delegado que cuida do caso.
TCU VAI ALIVIAR? – Surge agora a notícia de que o ministro José Múcio, relator do processo no Tribunal de Contas da União que apura as pedaladas fiscais de 2014, pretende pedir que o Dyogo Oliveira não sofra punição, embora até tenha assinado, na condição de ministro interino da Fazenda, uma das portarias que autorizaram o governo Dilma a pedalar. O relator Múcio, que não conhece o conjunto da obra do atual ministro de Temer, entende que a participação de Dyogo não foi significativa, porque havia atos normativos anteriores, assinados pelo então ministro Guido Mantega e por Arno Augustin, que era secretário do Tesouro.
Dyogo pode até se livrar do TCU, mas não se livrará da Zelotes e da Lava Jato. Por isso, aguarda-se sua demissão. Com esse currículo tenebroso, se Dyogo Oliveira for mantido como ministro do Planejamento, será sinal de que nada mudou no governo em matéria de corrupção, e Temer, Padilha & Cia. sonham mesmo em abafar a Lava Jato, como denunciou o ex-ministro Fábio Medina Osório, da Advocacia-Geral da União. O resto é silêncio, diria o genial Érico Veríssimo.
19 de setembro de 2016
Carlos Newton
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