"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

PIADA DO ANO: NOVA CHEFE DA AGU PROMETE PROCESSAR OS POLÍTICOS CORRUPTOS


A nova ministra chefe da AGU (Advocacia-Geral da União), Grace Mendonça, durante entrevista à Folha, em seu gabinete
Grace é distraída e ainda nem sabe a lista dos políticos corruptos










A nova ministra da Advocacia-Geral da União, Grace Mendonça, afirma que não terá constrangimento em mover ações contra políticos da base de Michel Temer em caso de envolvimento com irregularidades. 
Ela diz “não haver possibilidade” de a instituição “abafar a Lava Jato”.
Grace, 47, recebeu a Folha sexta-feira (16) em seu gabinete redecorado. “Precisamos respirar novos ares”. Em sua primeira entrevista após tomar posse, na quarta (14), a ministra se disse “surpreendida” pelas declarações de seu antecessor, Fábio Medina Osório.
Segundo ele, o governo queria abafar as investigações e Grace, junto com o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), teria dificultado seu acesso a inquéritos da Lava Jato solicitados pela AGU ao Supremo Tribunal Federal.
A ministra rebate o ex-chefe e diz que continuará com o processo, responsabilizando quem for de direito. Após 15 anos como funcionária de carreira da AGU, a advogada afirma que “nunca fez política” e que desenvolverá uma gestão “técnica”, na tentativa de resgatar a credibilidade do órgão que, em sua opinião, sofreu uma “afronta” com as insinuações de seu antecessor.
A senhora assumiu a AGU em meio à polêmica demissão do ex-ministro Fábio Medina Osório, que disse que o governo quer “abafar a Lava Jato”. Ele estava correto?
A Lava Jato desenvolve seu trabalho independentemente da AGU, que atua no que se refere às ações de natureza cível, ou seja, às eventuais reparações ao erário, decorrentes de desvios. Não há nenhuma possibilidade de a AGU abafar a Lava Jato. Essa declaração não guarda nenhuma relação com o que é rotina aqui.
Osório pediu ao STF acesso a 12 inquéritos da Lava Jato para, segundo ele, processar políticos por improbidade administrativa e pedir ressarcimento aos cofres públicos. Foi uma medida acertada?
Sim. Na verdade, isso é rotina da casa. Não teve nenhuma novidade nessa atuação.
E por que o pedido incomodou ao Palácio do Planalto?
Não incomodou. Solicitações de acesso a documentos para analisar a prática de atos de improbidade administrativa integram as atribuições da AGU. Não houve nenhum tipo de inovação em relação a esse processo específico. Foi pedido [pelo ex-AGU] e o ministro Teori Zavascki [relator da Lava Jato no STF] deferiu, mas não quer dizer que, após o deferimento, seja possível qualquer medida imediata. A AGU não tinha sequer sido comunicada da decisão, que só chegou na segunda-feira (12), e somente de um inquérito -são 12. Não estamos em atraso com nada.
Seu antecessor acusou a sra. de, junto com o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), dificultar o acesso dele ao material, que precisava ser copiado em um HD que, diz ele, a sra. afirmava não ter encontrado. O que aconteceu?
Essa informação é equivocada. O STF, quando encaminha o mandado, o faz com CDs, porque os nossos sistemas não são interligados. Eles [técnicos do STF] fizeram contato com uma diretora da nossa unidade para saber como iríamos operacionalizar, considerando o volume dos inquéritos, que não caberiam em CDs. Essa diretora viu a possibilidade de os sistemas se comunicarem, mas não havia ferramenta para isso. Por fim, veio a informação de que a única maneira seria HD externo. Foi um diálogo, meu Deus. Não foi comigo, foi com uma diretora da minha área.
A senhora nunca dificultou o acesso aos inquéritos?
Nem fui eu quem disse a ele [Osório] a respeito do HD. Asseguro que o ofício só chegou essa semana e apenas de um inquérito, dos demais [11] a gente vai receber nos próximos dias. A Casa Civil jamais mencionou qualquer consideração para criar obstáculo para esse caso.
Se não houve tentativa do governo abafar a Lava Jato, como seu antecessor alega, por que ele foi demitido?
Não procurei saber. Não é um assunto que se referia a mim, é algo próprio da chefia [Presidência da República].
A lista que a Polícia Federal enviou à AGU tem 14 parlamentares e ex-parlamentares: oito do PP, três do PT e três do PMDB, entre eles o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Qual será o critério para os processos?
Primeiro tem que analisar as documentações. Não sei nem confirmar se, de fato, são essas pessoas. Posso assegurar que, tão logo esses dados ingressem na AGU, o tratamento será o ordinário. Vai para a unidade competente da casa e o advogado vai trabalhar sem nenhum tipo de ingerência ou pressão.
A sra. diz que vai dar continuidade ao processo da Lava Jato porque as medidas são “regulares”. A AGU vai processar aliados do governo?
A AGU vai analisar a documentação e proceder como sempre faz. Pode ser que, analisando, não vislumbre nada em termos de desvio e aí o procedimento interno é arquivado. Agora, se a AGU vislumbrar desvio, vai mover as ações cabíveis.
Mesmo contra aliados do governo de Michel Temer?
Independentemente da natureza da autoridade.
Não há constrangimento para a senhora avaliar processos em que são citados políticos da base do governo e, se preciso, processá-los?
Nenhum, imagina. A AGU exerce uma advocacia de Estado, não tem nenhum tipo de orientação do governo em sentido inverso.
Osório dizia ter boa relação -e se gabava ao mostrar troca de mensagens de celular- com o juiz Sergio Moro e com o procurador Deltan Dallagnol. A sra. tem livre acesso a integrantes da força-tarefa da Lava Jato?
Não tenho. O contato que ainda vou ter é com os nossos advogados que são integrantes da casa, de carreira, e atuam em Curitiba. Não quer dizer que eu não venha a dialogar com qualquer outra autoridade do poder público.
Em seu discurso de posse, a sra. afirmou que a essência da AGU é “eminentemente técnica” para cumprir a defesa “judicial e extrajudicial” da União. Qual será a função da AGU sob seu comando?
Uma advocacia de Estado, séria, sempre pautada pelas leis. Nosso ponto de segurança é seguir a Constituição.
A senhora recebeu algum pedido prioritário de Temer?
Nenhum. Do presidente Temer só recebi o convite [para assumir a AGU].
A sra. tem bom trânsito no STF -era quem substituía o advogado-geral nas sustentações orais na corte quando necessário-, e havia três ministros do Supremo na sua posse. O que isso vai significar para o governo?
Respeito pelo trabalho. Desde 2001, tenho conduzido os trabalhos de defesa da União perante o STF e minha pauta com os ministros é exclusivamente vinculada aos processos.
A sra. não faz política?
Posso falar com orgulho: nunca fiz política na minha vida profissional.
Existe uma série de acordos de leniência na fila para serem firmados. Qual deles é sua prioridade?
Vou ser muito franca, ainda nem consegui compor minha equipe. Assim que eu tiver a pessoa responsável pelos acordos de leniência, vou fazer o levantamento para ver o que efetivamente está tramitando na casa. Já pedi os dados de todas as áreas.
Havia uma disputa entre AGU e TCU (Tribunal de Contas da União) sobre os acordos de leniência. O TCU queria acompanhar todos os passos do processo, enquanto a AGU queria que que ele só apreciasse os termos no fim. Houve entendimento?
Nossa ideia é trabalhar com parcerias. Em relação ao TCU, temos ações no Supremo que discutem exatamente isso, se tem ou não que passar os acordos de leniência antes pelo TCU. O que o Supremo decidir vamos cumprir.
A sra. é a primeira mulher a ocupar um cargo no primeiro escalão de Temer, acusado pela oposição de misoginia. Sua nomeação resolveu a questão de gênero do governo?
Se resolve ou não, não posso afirmar, mas acho que é um alento. O trabalho foi visto e coincidiu de vir de uma mulher. O ponto central é o trabalho e o meu falou algo.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG 
– É difícil acreditar que esta jovem senhora venha a processar Renan Calheiros e os demais políticos envolvidos em corrupção, para que devolvam aos cofres públicos os recursos desviados, como seu antecessor iria fazer, mas foi impedido pelo Planalto. O passo inicial é encontrar um HD externo para copiar os inquéritos do Supremo. Aliás, a dificuldade de encontrar um HD na AGU e no mercado de Brasília, alegada pela Dra. Grace para não copiar os arquivos, é favorita para a Piada do Ano na capital federal. 
E como a Dra. Grace diz nem saber os nomes dos primeiros políticos a serem processados, vamos fazer a fineza de informar a ela a relação, que é pública e notória, já fartamente anunciada na imprensa: 
São três do PMDB (Renan Calheiros, presidente do Congresso, Valdir Raupp e Aníbal Gomes), oito do PP (Arthur Lira, Benedito Lira, Dudu da Fonte, João Alberto Piz­zolatti Junior, José Otávio Germano, Luiz Fernando Faria, Nelson Meurer e Roberto Teixeira), e três do PT (Gleisi Hoff­mann, Vander Loubet e Cândido Vaccarezza). (C.N.)
19 de setembro de 2016
Marina Dias
Folha

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