Inclusive, além de usar o tempo reservado para sua defesa, Dilma anunciou estar disposta a responder perguntas formuladas pelos senadores, tanto os favoráveis a sua substituição definitiva quanto daqueles que permanecem a seu lado.
O tema do comparecimento da quase ex-presidente foi destacado por Cristiane Jungblut, O Globo, por Vera Rosa, Isabela Bonfim e Isabela Perón, O Estado de São Paulo, e também por Mariana Haubert e Gustavo Uribe, Folha de São Paulo, todas estas reportagens nas edições de quinta-feira.
DEBATES – Dilma Rousseff, ao aceitar responder as perguntas, tacitamente se coloca à disposição de enfrentar debates que inevitavelmente vão suceder na sessão histórica de 29 de agosto. Alcançará repercussão nacional e internacional o episódio que a terá como protagonista, tentando assumir o papel de vítima de uma injustiça que ela classifica como um golpe antidemocrático.
Importante acentuar que a história do Brasil registra desfechos a favor e contra a democracia. A reação político-militar de novembro de 55 foi para assegurar a posse de Juscelino Kubtscheck na presidência da República, vitorioso nas urnas populares que o colocaram à frente de Juarez Távora, Ademar de Barros e Plínio Salgado. O cumprimento da Constituição encontrava-se ameaçado pelas investidas golpistas, estas sim, de Carlos Lacerda, Carlos Luz e Café Filho.
Em 1961, em consequência da renúncia de Jânio Quadros, houve a solução intermediária de um parlamentarismo de ocasião, para permitir a investidura de João Goulart no Palácio do Planalto. O equilíbrio de forças, na ocasião, levaram ao roteiro adotado.
Em 1964, a deposição de Goulart partiu de um consenso das Forças Armadas legitimado pelo quadro político-partidário, que logo nos primeiros dias do General Castelo Branco no governo foi ultrapassado pelo poder militar que implantou uma ditadura que só acabou em 1985, portanto, 21 anos depois.
EPISÓDIO SINGULAR – O impeachment de Dilma Rousseff não se situa historicamente em nenhum dos lados que revestiram o panorama institucional brasileiro ao longo dos últimos 61 anos. Trata-se de um episódio singular, que está levando a seu afastamento, com os reflexos da enorme corrupção que permaneceu em seu governo, após ter sido instalada a partir da chegada de Lula da Silva ao poder. O que está assegurando o impeachment de Dilma é a atmosfera nacional de revolta contra os crimes praticados pelo PT e pelos grandes empresários do país, numa aliança superconservadora que abalou a economia brasileira fortemente, causou desemprego e a repugnância da população brasileira.
CONFRONTAÇÃO – Mas falei no início no tom dramático que, com sua presença, Dilma Rousseff vai imprimir a sessão final do Senado. Ela vai se defrontar principalmente com aliados que eram de ontem e que estão contra ela hoje. Entre os exemplos, situam-se os senadores Romero Jucá e Edison Lobão, entre outros, além de alguns ex-ministros seus. O confronto não será confortável nem para ela nem para eles, especialmente Renan Calheiros, presidente do Congresso Nacional.
Mas é justamente este clima de acareação e desconforto que servirá para acrescentar uma face ao drama que cada um de antigos companheiros terão de vencer dentro de si mesmos. Ela, Dilma, claro, está perdida. Michel Temer a substituirá agora a partir de setembro quando o julgamento termina, em caráter permanente.
Dilma Rousseff será principalmente acusada de omissão grave quanto a crimes de corrupção praticados, inclusive por ministros e ex-ministros que nomeou ao longo de seus cinco anos no Planalto. Na verdade este é o principal argumento que torna impossível sua permanência na chefia do Executivo.
Sua queda final, no confronto que travará com falsos amigos de outrora, ingressará nas páginas da história como um capítulo dos mais tristes e dramáticos. Não se deve esquecer que entre aqueles que vão condená-la encontram-se muitos que também devem ser condenados. O destino é assim.
19 de agosto de 2016
Pedro do Coutto
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