Ontem à noite, mais uma vez, a cúpula do PSDB reuniu-se com Temer para uma DR (discutir a relação). A relação PMDB-PSDB, o maior aliado de Temer no Congresso, passa sempre por altos e baixos; agora mais notadamente, pois o governo de transição deságua necessariamente no pleito de 2018 em que as 2 siglas devem ter candidato próprio.
Os tucanos têm três candidatos potenciais em disputa interna, o senador Aécio Neves, José Serra, ministro das Relações Exteriores, e o governador Geraldo Alckmin (SP). O projeto de cada um depende do fracasso do outro, numa equação difícil de fechar.
Além disso, se o governo Temer der minimamente certo, haverá pressão no PMDB para que ele tente a reeleição, embora o compromisso de não concorrer seja repetido a cada momento em que a hipótese é levantada.
O lance mais recente foi do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que lançou a ideia de candidatura de Temer, sugerindo que, nesse caso o DEM, tradicional aliado dos tucanos, também o apoiaria.
Mas há outro candidato potencial no governo, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, aliás oriundo do PSDB. Tucanos já veem nas concessões que faz no Congresso para aprovar a lei de limite de gastos sinais de que ele estaria mordido pela mosca azul e, por isso, não teria a disposição devida para realizar reformas estruturais de que o país precisa, muitas delas impopulares.
Aos boatos que dão conta de que os tucanos pediriam uma declaração formal de Meirelles e Temer de que não serão candidatos a presidente, Aécio Neves, presidente do PSDB, responde que a questão central não é essa, mas a disposição de fazer as reformas, que não podem estar subordinadas aos projetos políticos pessoais. Um dos assessores mais influentes do governo, o secretário das privatizações, Moreira Franco, por sinal sogro por afinidade de Rodrigo Maia (sua enteada é casada com o presidente da Câmara), havia saído na semana passada em defesa de Meirelles, dizendo que ele estava sendo vítima de uma manipulação política dos tucanos.
Todo esse desentendimento pontual não impede que a aliança se mantenha, mas demonstra as dificuldades que temos com governo de coalizão, mesmo esse, baseado em projetos políticos similares. Governos de coalizão equivocados como os de Dilma, por exemplo, geram relacionamentos políticos frágeis, pois, como já escrevi anteriormente sobre governos petistas, os ministérios eram transferidos a grupos “de porteira fechada”, e, especialmente Dilma, deixava os ministros em paz para usar politicamente seu feudo desde que a deixassem em paz. Esse comportamento arredio às negociações políticas, por fastio, e não por honradez, como costuma insinuar, vai criar constrangimentos na reunião do Senado que julgará o impeachment, já que vários ex-ministros estão hoje do outro lado.
O cientista político Carlos Pereira (FGV Rio), estudioso dos governos de coalizão, analisa aspectos do que chama de “gerência de coalizão” de governos recentes, em estudo com Samuel Pessoa e Fred Bertholini, que distanciam de modo claro o “petismo” do que considera o “normal” no presidencialismo multipartidário de coalizão brasileiro. Ao compararem aspectos relativos a tamanho, heterogeneidade ideológica, fragmentação partidária, compartilhamento de poder e recursos com parceiros da coalizão, e distância de preferências entre a mediana da coalizão e a mediana do Congresso, “fica claro que as coalizões do PT (não apenas do governo Dilma) se distanciaram marcadamente do que chamamos de ‘normal’ em governos de coalizão, gerando toda a sorte de animosidades e problemas com os parceiros, acarretando alto custo de governabilidade e necessidade crescente de recursos ilegais de recompensa”.
Por outro lado, ele considera que o governo Temer retoma o padrão de normalidade (muito claro nos governos FH), ao montar “a coalizão mais homogênea e mais proporcional desde a transição para a democracia brasileira”. Pereira registra que, “além do mais, a preferência mediana de sua coalizão se aproxima da preferência mediana do Congresso”, o que apontaria maior probabilidade de aprovação de reformas complexas e impopulares. Mas Pereira adverte: “Ainda é muito cedo para previsões definitivas ou mesmo se as escolhas de gerência de Temer serão consistentes ao longo do tempo. Mas é provável se esperar mais sucesso legislativo e menores custos de gerência do novo governo com seus parceiros, a despeito de maior fragmentação partidária”.
19 de agosto de 2016
Merval Pereira, O Globo
Os tucanos têm três candidatos potenciais em disputa interna, o senador Aécio Neves, José Serra, ministro das Relações Exteriores, e o governador Geraldo Alckmin (SP). O projeto de cada um depende do fracasso do outro, numa equação difícil de fechar.
Além disso, se o governo Temer der minimamente certo, haverá pressão no PMDB para que ele tente a reeleição, embora o compromisso de não concorrer seja repetido a cada momento em que a hipótese é levantada.
O lance mais recente foi do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que lançou a ideia de candidatura de Temer, sugerindo que, nesse caso o DEM, tradicional aliado dos tucanos, também o apoiaria.
Mas há outro candidato potencial no governo, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, aliás oriundo do PSDB. Tucanos já veem nas concessões que faz no Congresso para aprovar a lei de limite de gastos sinais de que ele estaria mordido pela mosca azul e, por isso, não teria a disposição devida para realizar reformas estruturais de que o país precisa, muitas delas impopulares.
Aos boatos que dão conta de que os tucanos pediriam uma declaração formal de Meirelles e Temer de que não serão candidatos a presidente, Aécio Neves, presidente do PSDB, responde que a questão central não é essa, mas a disposição de fazer as reformas, que não podem estar subordinadas aos projetos políticos pessoais. Um dos assessores mais influentes do governo, o secretário das privatizações, Moreira Franco, por sinal sogro por afinidade de Rodrigo Maia (sua enteada é casada com o presidente da Câmara), havia saído na semana passada em defesa de Meirelles, dizendo que ele estava sendo vítima de uma manipulação política dos tucanos.
Todo esse desentendimento pontual não impede que a aliança se mantenha, mas demonstra as dificuldades que temos com governo de coalizão, mesmo esse, baseado em projetos políticos similares. Governos de coalizão equivocados como os de Dilma, por exemplo, geram relacionamentos políticos frágeis, pois, como já escrevi anteriormente sobre governos petistas, os ministérios eram transferidos a grupos “de porteira fechada”, e, especialmente Dilma, deixava os ministros em paz para usar politicamente seu feudo desde que a deixassem em paz. Esse comportamento arredio às negociações políticas, por fastio, e não por honradez, como costuma insinuar, vai criar constrangimentos na reunião do Senado que julgará o impeachment, já que vários ex-ministros estão hoje do outro lado.
O cientista político Carlos Pereira (FGV Rio), estudioso dos governos de coalizão, analisa aspectos do que chama de “gerência de coalizão” de governos recentes, em estudo com Samuel Pessoa e Fred Bertholini, que distanciam de modo claro o “petismo” do que considera o “normal” no presidencialismo multipartidário de coalizão brasileiro. Ao compararem aspectos relativos a tamanho, heterogeneidade ideológica, fragmentação partidária, compartilhamento de poder e recursos com parceiros da coalizão, e distância de preferências entre a mediana da coalizão e a mediana do Congresso, “fica claro que as coalizões do PT (não apenas do governo Dilma) se distanciaram marcadamente do que chamamos de ‘normal’ em governos de coalizão, gerando toda a sorte de animosidades e problemas com os parceiros, acarretando alto custo de governabilidade e necessidade crescente de recursos ilegais de recompensa”.
Por outro lado, ele considera que o governo Temer retoma o padrão de normalidade (muito claro nos governos FH), ao montar “a coalizão mais homogênea e mais proporcional desde a transição para a democracia brasileira”. Pereira registra que, “além do mais, a preferência mediana de sua coalizão se aproxima da preferência mediana do Congresso”, o que apontaria maior probabilidade de aprovação de reformas complexas e impopulares. Mas Pereira adverte: “Ainda é muito cedo para previsões definitivas ou mesmo se as escolhas de gerência de Temer serão consistentes ao longo do tempo. Mas é provável se esperar mais sucesso legislativo e menores custos de gerência do novo governo com seus parceiros, a despeito de maior fragmentação partidária”.
19 de agosto de 2016
Merval Pereira, O Globo
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