Os partidos que lutam para cassar o mandato de Eduardo Cunha (PT, PCdoB, PSOL e Rede) resolveram radicalizar. A partir da semana que vem, pretendem obstruir todas as votações previstas, numa tentativa de pressionar publicamente o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para que demonstre maior empenho no sentido de garantir quórum para a sessão em que hipoteticamente ser votado o parecer da Comissão de Ética.
As lideranças desses partidos pretendem que Rodrigo Maia procure se entender com os dirigentes das demais legendas, para que eles se articulem e garantam a presença de seus deputados na sessão marcada para dia 12 de setembro, uma segunda-feira, em meio à campanha eleitoral.
Rodrigo Maia não se mexe e insiste em garantir que haverá mais de 400 deputados em plenário, mas ninguém sabe em que ele se baseia para fazer essa previsão. Até agora, o bloco anti-Cunha conseguiu apenas que o presidente da Câmara deixasse em aberto as pautas dos dias 13 e 14, caso não seja alcançado o quorum na segunda-feira.
À MEIA FORÇA – O fato concreto é que a Câmara já está esvaziada desde o início de agosto e vem funcionando à meia força, devido ao período eleitoral, quando os deputados federais voltam às suas bases, para tentar eleger prefeitos e vereadores que possam depois retribuir o apoio na eleição parlamentar. É assim que a política funciona, especialmente nos municípios do interior, de onde provém a maioria dos deputados federais.
Em setembro, mais perto da eleição, o esvaziamento da Câmara será ainda mais acentuado, dificultando que possas ser garantida a presença dos 400 deputados em plenário. O quorum para abrir a votação é de 257 parlamentares, número exigido para aprovar a cassação (maioria absoluta, de metade mais um).
SEM PRESTÍGIO – Rodrigo Maia não tem prestígio nem carisma para convencer os líderes a exigirem presença em plenário. Conseguiu chegar à presidência da Câmara por eliminação. Havia candidatos demais e nenhum deles tinha merecimento para o cargo. O mais experiente e conceituado era Osmar Serraglio (PMDB-PR), mas seu partido fez questão de descartá-lo, porque ele parecia ser íntegro demais, circunstância que na política brasileira ainda é considerada negativa.
É nesse ambiente apodrecido que vicejam lideranças como Eduardo Cunha, que é comprovadamente corrupto, mas está conseguindo adiar a cassação com apoio de grande número de deputados. E la nave va, sempre fellinianamente, à deriva nesse mar de lama.
19 de agosto de 2016
Carlos Newton
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