"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

O "JAPONÊS DA FEDERAL" E OUTRAS COISAS MAIS, IMPOSSÍVEIS DE ENTENDER.



Bolsonaro e Mendes fazem “selfie” com o “Japa da Federal”













Começo pedindo aos leitores que, por favor, me expliquem, me esclareçam, porque, sinceramente, não consigo entender.Tomo o “Japonês da Federal” como referência.Ele se chama-se Newton Ishii. E sempre aparece na televisão e fotos de jornais conduzindo aquele pessoal que o juiz Sérgio Moro manda prender e levar para Curitiba. O homem se veste com o uniforme preto da Polícia Federal, usa sempre óculos escuros, está sempre fortemente armado e sempre escoltando, de pertinho, os presos do Doutor Moro, na saída das viaturas da PF até para dentro do prédio da Justiça Federal e vice-versa. É sempre ele. É uma figura que ficou bastante conhecida.
Aqui no Rio teve até uma fábrica que produziu uma máscara de carnaval  do “Japonês da Federal”. É a mesma fábrica que no ano passado tinha a intenção de fazer a máscara do Nestor Cerveró, mas foi impedida pelos filhos.
Nada contra Newton Ishii. Ele está executando ordens superiores e cumprindo o seu dever.  Com toda certeza deve ser um bom filho, bom marido, bom pai, bom vizinho…e muito bom policial. Até aí, nada de mais.
NADA DE EXCEPCIONAL
Nesta quarta-feira, 17 de fevereiro, Newton Ishii esteve na Câmara dos Deputados, em Brasília. Foi participar de um evento de policiais e acabou sendo levado ao plenário pelo deputado Aluisio Mendes (PTN-MA), após ter dado um passeio pelas dependências da Câmara. E quando o deputado levou Ishii ao Salão Nobre da Câmara, o visitante foi, ainda que moderadamente, ovacionado. Cafezinhos, muitos cumprimentos, fotos, selfies e antes de ir embora uma foto ao lado do deputado Tiririca (PR-SP).
O parlamentar mais empolgado com a presença de Newton Ishii foi Jair Bolsonaro (PP-RJ), que fez questão de ser fotografado ao lado do ilustre visitante. E aí que começam as perguntas que não consigo respostas. Por que essa “idolatria”, ou quase “idolatria” por um agente público que aparece na televisão cumprindo o seu dever? Por que uma pessoa ganha fama tão rapidamente assim, ao ponto de já ser cogitado seu nome para competir nas próximas eleições. Sem o menor demérito ao trabalho do “Japonês da Federal”, mas o que tem e o que faz ele de excepcional? Ou escoltar preso(s) é degrau para se tornar celebridade?
Se o “Japa da Federal” desperta tanto glamour assim, o que dizer, então, do encantamento e da fascinação que o juiz Sérgio Moro fez nascer por ele em nossas mentes, nossos corações e esperanças? 
No entanto, nem o agente federal nem o magistrado se tornam ícones, famosos e idolatrados só porque estão cumprindo os seus deveres. 
No contato social e nas relações entre as pessoas, e consigo próprias, honestidade, retidão, fina educação, respeito, nobreza, candura, firmeza, determinação…não são virtudes. 
Nada disso é para ser excepcionalidade, mas são comezinhos deveres que jamais poderiam realçar alguém e distinguir uma pessoa, ou um grupo de pessoas.
UM VEREADOR CHAMADO ‘JAIMINHO”
Esse “Japonês da Federal”, que não vai demorar muito e se tornará um “fenômeno”, me faz lembrar do falecido “Jaiminho”, assim carinhosamente como era chamado. Lembram-se dele? E sem querer, sem pretender e sem gastar um centavo de campanha, “Jaiminho” se elegeu vereador. Foi por São Gonçalo (RJ), se não me engano. O que fazia e o que fez para ganhar uma eleição? Comparecia a todos os velórios de gente famosa. E quando podia, fazia questão de segurar a alça do caixão da capela ao túmulo. Tudo para aparecer nos noticiários das TVs e se tornar conhecido.E como conseguiu!. E como se tornou! Foi alvo de matérias do Globo, da CNN, do “Sem Censura” dos áureos tempos de Lúcia Leme no comando.
Um fato comigo: no velório de Carlos Imperial, na capela B do Cemitério São João Batista, Jaiminho chegou, e sempre vestindo alinhado terno, veio direto na minha direção, estendeu a mão e disse: “Meus pêsames, meus sentimentos. o Senhor perdeu um querido familiar”. E delicadamente disse a ele que eu era apenas advogado do Imperial e amigo de seu filho e de sua nora, a quem apontei  na capela e pedi que fosse até eles abraçá-los. Ele foi.
À ESPERA DE RESPOSTAS
Não consigo entender, confesso. Peço encarecidamente aos leitores, ao Bendl, ao Dr. Ednei Freitas, o destacado psiquiatra e psicanalista que entende tudo sobre isso, ao Tamberlini, ao Moacir Pimentel e a você, Carlos Newton, o mais talentoso e culto jornalista brasileiro e editor deste blog, que me expliquem, por que acontecem esses “fenômenos” na sociedade. Esses “Jaiminho”, “Japonês da Federal”, “Juiz Moro”, “Cacareco”… Por quê?
Émile Durkheim, ao definir “Fato Social”, diz ser a maneira de agir, de pensar e sentir, que uma pessoa exterioriza. Li isso em “As regras do método sociológico” (1895). Seriam então “Fatos Sociais” notáveis e normais? Desde já agradeço por antecipação a todos que me acudirem.

18 de fevereiro de 2016
Jorge Béja

NOTA AO PÉ DO TEXTO

Em meio a tantas práticas políticas patológicas e patranhas que assolam o mais desditado momento republicano brasileiro, parece-me fácil entender a rapidez com que se criam ícones e modelos de honestidades salvacionistas, ainda que se argumentem que "virtudes e moralidades públicas" são deveres de qualquer cidadão.
Penso cá comigo, que seriam realmente "comezinhos deveres", se não fossem exceções no mar de lama que se derramou no país. Não seriam "excepcionalidades", mas lugar comum no exercício público do poder político em qualquer instância.
Acontece que se transformaram em atos excepcionais, instituintes de novos paradigmas e valores, que afrontam a velha ordem "dos mais iguais perante a Lei".
O desmonte dos "direitos" dos poderosos de agir com a certeza da impunidade, afetou a descrença de uma coletividade social cansada dos velhos truques legais de uma advocacia cúmplice de uma justiça capenga. Há um sentimento coletivo de esperança de novos tempos, um sentimento de renovação, e diria até mesmo, um sentimento de certa 'vingança' pelos muitos sofrimentos que há séculos são impostos ao povo brasileiro.
Seguindo essa ordem de entendimento, creio que fica fácil compreender a 'iconização' de figuras públicas que assumiram a bandeira de justiçar os 'pecadores' .
Não entra no mérito a hierarquização dos atores, mas a presença midiática desses personagens-heróis, que respeitando as interpretações que possam ser dadas a tais contextos, continuam a cumprir formalmente a legalidade do dever, desmascarando o grande teatro das fantasmagorias que assombram o país e quiça o mundo.
Sem muitas complicações de ordem antropológica, sociológica ou psicológica, o povo cansou da gandaia, da esbórnia, do descaramento com que essa suposta "elite" política desfila suas mordomias pagas com os impostos saqueados dos que trabalham. E não satisfeitos  ainda se colocam no mercado das propinas a serviço dos senhores que manipulam desavergonhadamente as fraquezas desonestas dos vendilhões.
O sentimento que se expressa é o "delenda Cartago"... 
m.americo




Nenhum comentário:

Postar um comentário