A imprensa está fazendo as mais absurdas especulações sobre o rompimento entre o ex-presidente Lula e sua sucessora Dilma Rousseff, como se isso fosse algo de novo. Na verdade, há mais de dois anos eles já não se falavam direito. O problema começou em 2012, quando Lula percebeu que Dilma não iria abrir mão da candidatura à reeleição. Devagar, devagarinho, a presidente parou de aceitar sugestões dele, passou a nomear ministros por conta própria e começou a tocar o governo sozinha.
Quando o movimento “Volta, Lula” cresceu dentro do PT, no ano passado, Dilma deu um golpe mortal nele, ao ameaçar divulgar os absurdos gastos do cartão corporativo de Rosemary Noronha, feitos no Brasil e nas 32 viagens internacionais em que acompanhou Lula, na ausência da primeira-dama titular Marisa Letícia.
Lula teve de se conformar em sair candidato apenas em 2018. Portanto, não foi por mera coincidência que ele participou o mínimo possível da campanha eleitoral de Dilma e fez uma aparição meteórica na festa da posse. Entrou, tirou fotos protocolares com a presidente reeleita e foi logo embora.
GOVERNO NATIMORTO
O segundo governo de Dilma acabou sem ter começado. Antes de assumir, ela já havia aceitado terceirizar o comando da economia, entregando-o a um representante da banca. Mas não adiantou nada, ela entrou em desespero, pediu ajuda a Lula. Rispidamente, ele respondeu que não iria a Brasília, se ela quisesse encontrá-lo, que viajasse a São Paulo. Na quinta-feira antes do Carnaval, Dilma pegou o avião e foi se reunir com ele.
Dilma ouviu poucas e boas, como se dizia antigamente. Depois de espinafrá-la, Lula mandou que ela procurasse Renan Calheiros e Eduardo Cunha, se recompusesse com o PMDB, restaurasse a base aliada, demitisse Pepe Vargas das Relações Institucionais e Aloizio Mercadante da Casa Civil. Dilma voltou arrasada a Brasília e foi passar o Carnaval na Bahia.
Na semana seguinte Lula foi a Brasília, se reuniu com a cúpula do PMDB e com as lideranças do PT. Dilma até tentou seguir os conselhos dele, mas não demitiu Mercadante nem Pepe Vargas. Lula se aborreceu, a situação se complicou, Dilma teve de terceirizar também a articulação política, pedindo socorro ao vice Michel Temer, que ela desprezara durante quatro anos, trocou Pepe Vargas de ministério e não demitiu Mercadante. Lula ficou furioso, decidiu procurar um Plano B.
PLANO B DE LULA
Como não há perspectivas de reversão da crise a médio prazo e Dilma não tem salvação, Lula resolveu cuidar da vida. Não esperava que o segundo mandato da presidente fosse um fracasso tão grande, a ponto de inviabilizar a candidatura dele em 2018. Por isso, quem entrou no desespero agora foi ele, que está saindo em busca do tempo perdido. E pela primeira vez Lula está dizendo verdades. Suas críticas ao governo Dilma e ao PT são todas procedentes. Ninguém se atreve a responder.
Acontece que seu apregoado sonho de mudar o Brasil não existe mais. Todos já sabem que os petistas deixaram o país em segundo plano. Conforme disse Lula, cada um tratou de arranjar um jeito de se arrumar, esta é a realidade. O programa do partido não existe mais. No PT de hoje, tudo soa falso.
A revolução que Lula prega não virá dos trabalhadores, ninguém mais acredita nisso. Ele mesmo é um líder tão falso quanto o partido. A única esperança dos brasileiros vem do Paraná. Se der certo o esforço da Polícia Federal, do Ministério Público e do juiz Sérgio Morto, realmente haverá algo de novo em que acreditar. Se eles fracassarem, continuaremos perguntando que país é esse… E Lula até terá chances de voltar a ser presidente.
24 de junho de 2015
Carlos Newton
Nenhum comentário:
Postar um comentário