Lula cruzou o Rubicão. Depois de ter, na semana passada, criticado pesadamente Dilma Rousseff e seu governo, na segunda-feira ele dirigiu sua devastadora artilharia contra o PT, que “precisa, neste momento, construir uma nova utopia”.
Ao incorporar a seu discurso os argumentos básicos dos opositores do lulopetismo – inclusive a mídia independente –, o ex-presidente da República lançou a sorte para si mesmo: não poderá, senão a um custo político altíssimo, voltar atrás na condenação de seu próprio legado e terá de sobreviver politicamente, de agora em diante, por conta exclusiva de sua condição de “metamorfose ambulante”.
Mas, o que quer que pense fazer doravante, continuará sendo exatamente o mesmo. Só mudará o figurino talhado no desespero da sobrevivência.
Em seu pronunciamento improvisado – assistia, em seu instituto, a uma palestra do ex-primeiro-ministro espanhol Felipe González que, ao final, o convidou para a mesa e ele resolveu então falar –, Lula fez uma crítica radical ao PT, declarando que “é chegada a hora de se fazer uma revolução interna”. “Temos que decidir se queremos salvar nossa pele e nossos cargos ou salvar nosso projeto.” Os petistas, afirmou, “perderam a utopia”: “A gente acreditava em sonhos. Hoje a gente só pensa em cargo, em emprego, em ser eleito. Ninguém hoje trabalha mais de graça”.
Essa “autocrítica” – se é que se pode chamar assim uma crítica quase que exclusivamente dirigida a terceiros – só não foi completa porque o chefão do PT evitou cuidadosamente qualquer referência explícita ao mar de lama em que o lulopetismo transformou a administração pública.
Em seu pronunciamento improvisado – assistia, em seu instituto, a uma palestra do ex-primeiro-ministro espanhol Felipe González que, ao final, o convidou para a mesa e ele resolveu então falar –, Lula fez uma crítica radical ao PT, declarando que “é chegada a hora de se fazer uma revolução interna”. “Temos que decidir se queremos salvar nossa pele e nossos cargos ou salvar nosso projeto.” Os petistas, afirmou, “perderam a utopia”: “A gente acreditava em sonhos. Hoje a gente só pensa em cargo, em emprego, em ser eleito. Ninguém hoje trabalha mais de graça”.
Essa “autocrítica” – se é que se pode chamar assim uma crítica quase que exclusivamente dirigida a terceiros – só não foi completa porque o chefão do PT evitou cuidadosamente qualquer referência explícita ao mar de lama em que o lulopetismo transformou a administração pública.
Em nenhum momento Lula mencionou o mensalão ou o escândalo da Petrobrás, nem mesmo para se defender ou ao PT.
Mas a denúncia dos desvios de conduta dos correligionários que “perderam a utopia” e agora só pensam em eleger-se e em manter seus cargos inclui, implicitamente, a condenação da corrupção. Pois, se o idealismo já não mais existe, qual a razão pela qual os petistas lutam para manter seus cargos ou se eleger?
Lula dá razão ao ex-governador fluminense Anthony Garotinho quando, com inegável conhecimento de causa, definiu o PT como o “partido da boquinha”.
O que Lula ainda não admitiu é que o abandono da utopia começou em seu primeiro ano de governo, em 2003, quando o Fome Zero – um programa complexo de inclusão social, que além de prover auxílio financeiro aos mais necessitados preparava para eles a chamada “porta de saída” de sua condição de miséria – foi trocado pelo Bolsa Família, pragmaticamente destinado, sem maiores complicações e a custo bem menor, a botar o cabresto em “40 milhões de votos”, como proclamava com orgulho o então ministro José Dirceu.
Desde que se deu conta, nos últimos meses, de que Dilma Rousseff, com sua desastrada gestão econômica e as mentiras que disse para se reeleger, acabou por precipitar o País numa grave crise política, econômica e social, levando de arrastão sua própria credibilidade e o prestígio do PT em todos os estratos sociais – diante, enfim, desse panorama devastador para o futuro do lulopetismo –, Lula deu início a uma escalada de críticas à sucessora que ele mesmo escolheu. Críticas públicas e, principalmente, privadas, no âmbito de seu relacionamento mais íntimo e em reuniões com a própria Dilma.
O que Lula ainda não admitiu é que o abandono da utopia começou em seu primeiro ano de governo, em 2003, quando o Fome Zero – um programa complexo de inclusão social, que além de prover auxílio financeiro aos mais necessitados preparava para eles a chamada “porta de saída” de sua condição de miséria – foi trocado pelo Bolsa Família, pragmaticamente destinado, sem maiores complicações e a custo bem menor, a botar o cabresto em “40 milhões de votos”, como proclamava com orgulho o então ministro José Dirceu.
Desde que se deu conta, nos últimos meses, de que Dilma Rousseff, com sua desastrada gestão econômica e as mentiras que disse para se reeleger, acabou por precipitar o País numa grave crise política, econômica e social, levando de arrastão sua própria credibilidade e o prestígio do PT em todos os estratos sociais – diante, enfim, desse panorama devastador para o futuro do lulopetismo –, Lula deu início a uma escalada de críticas à sucessora que ele mesmo escolheu. Críticas públicas e, principalmente, privadas, no âmbito de seu relacionamento mais íntimo e em reuniões com a própria Dilma.
Há poucos dias deixou passar a oportunidade de fazer essas críticas no local mais apropriado, o 5.º Congresso do partido reunido em Salvador. A corrente partidária majoritária que lidera houve por bem “dar um tempo” e salvar as aparências num documento oficial anódino e conciliador.
Mas agora, talvez movido por sua proverbial intuição, Lula dá uma guinada significativa em sua trajetória política, abrindo caminho para descolar sua imagem do governo Dilma e reunir em torno de si uma militância partidária pelo menos temporariamente disposta a trocar o manso desfrute das delícias do poder pelo antigo aguerrimento em desafios eleitorais. E já no ano que vem haverá eleições municipais, que poderão ser um esclarecedor teste para 2018.
Como não poderia deixar de ser, em sua “autocrítica” Lula voltou a atacar a imprensa. Sem liberdade de opinião, Lula não teria chegado onde chegou – e ele sabe disso. Ato falho?
24 de junho de 2015
Estadão
Mas agora, talvez movido por sua proverbial intuição, Lula dá uma guinada significativa em sua trajetória política, abrindo caminho para descolar sua imagem do governo Dilma e reunir em torno de si uma militância partidária pelo menos temporariamente disposta a trocar o manso desfrute das delícias do poder pelo antigo aguerrimento em desafios eleitorais. E já no ano que vem haverá eleições municipais, que poderão ser um esclarecedor teste para 2018.
Como não poderia deixar de ser, em sua “autocrítica” Lula voltou a atacar a imprensa. Sem liberdade de opinião, Lula não teria chegado onde chegou – e ele sabe disso. Ato falho?
24 de junho de 2015
Estadão
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