O novo pronunciamento do ex-presidente Lula, publicado pela reportagem de Juliana Granjeiam Tatiana Farah e Fernanda Kraconiks, na edição de hoje de O Globo, significa seu rompimento quase definitivo com Dilma Rousseff e o PT, partido do qual foi fundador em 1980 e que se transformou num bloco fisiológico. Luiz Inácio da Silva, surpreendentemente, não se referiu ao maior desastre do atual governo que sem dúvida foi o gigantesco assalto à economia da Petrobrás e que tantos problemas causou e causa, tanto no plano interno quanto na área internacional.
O ataque que desfechou pode ser visto e analisado sob vários ângulos. Primeiro, seu afastamento do Palácio do Planalto, cuja equipe principal já tinha sido objeto de suas restrições fortes. Segundo, com suas palavras, ele isolou ainda mais sua sucessora, que, além da perda da popularidade acentuada, ficou praticamente sozinha no palco político. Em terceiro lugar, o fato de não ter se referido aos roubos em massa na área do petróleo, que incluiu sobrepreços astronômicos, principalmente nos casos da Refinaria Abreu Lima e no Complexo Petroquímico do Rio de janeiro, pode ser apontado como um lance para desviar atenção de sobre o envolvimento evidente de integrantes do PT nos assaltos praticados.
Neste ponto, vale lembrar, que João Vacari ex-tesoureiro do partido e que se encontra preso no Paraná, foi aplaudido de pé no encontro nacional da legenda um mês atrás na cidade de Salvador. Lula estava presente, Dilma também. Ambos não fizeram qualquer ressalva àquela atitude extemporânea.
ENDOSSANDO MARTA?
Um outro ângulo de análise conduz à perspectiva de que Lula endossou o posicionamento assumido pela Senadora Marta Suplicy, que se desligou do Partido dos Trabalhadores basicamente em função dos pontos a que agora se refere o ex-presidente da República. O rompimento de Marta Suplicy constitui um fato eleitoralmente importante porque abre uma cisão no maior colégio eleitoral do país, cisão esta que vai se refletir nas urnas de 2016 para a Prefeitura da capital e, por extensão, nas eleições residenciais de 2018.
Mas esta é outra questão. O essencial, agora depois da nova fala de Lula, é sem dúvida o isolamento a que ele conduziu Dilma Rousseff. Que poderá ela fazer? Aprofundar o rompimento com Lula, ou demitir as figuras que Lula detesta e que estão junto a ela no Palácio do Planalto? Uma tempestade. No meio dela, a hipótese de Lula vir a deixar o partido, seguindo outro caminho. Mas esta é uma perspectiva remota. Tanto assim que Lula, em suas declarações, fala em renovação dos quadros partidários. Portanto, o desligamento é apenas uma ameaça. Por ser ameaça, entretanto, não deixa de ser importante, até porque só se pode renovar o que envelheceu e o que ficou para trás na memória do tempo.
SEM PREVISÕES
Seja como for, em política concretamente não se pode fazer previsões antecipadas, todas elas fracassaram. Agora mesmo, pergunto eu quem poderia prever a ruptura entre o grande eleitor de Dilma e sua sucessora no poder? A política é algo em movimento permanente, um processo criativo que muda de rumo com facilidade e frequência. Por isso temos que esperar novos fatos que vão se desencadear em consequência do distanciamento inevitável entre Lula e Dilma.
Uma dessas consequências vai atingir provavelmente a política econômica do atual governo. Num maremoto fica a dúvida se Joaquim Levy permanece no convés comandando as rotas da política econômico financeira. O mar está revolto, não há porto a vista para o governo. Pode surgir, mas não será um caminho fácil.
24 de junho de 2015
Pedro do Coutto
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