"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

WOLINSKI SOU EU. ALGUM PROBLEMA?

Braulio Tavares, colunista do Jornal da Paraíba publicou no seu blog Mundo Fantasmo e eu fui lá longe para surrupiar o excelente texto, para gáudio de nossos DGs. 

Vejam se não valeu a pena:

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E os extremistas mataram Wolinski, o único cartunista francês cujo nome e cujo traço eu sabia de cor. Conheci a obra dele lá por 1980, em Olinda, quando eu me asilava na casa de Paulo Santos de Oliveira, perto do Alto da Sé. Paulo era cartunista (hoje é romancista: A Noiva da Revolução) e junto à sua prancheta havia uma estante cheia de álbuns trazidos das andanças européias. Wolinski tinha aquele traço minimalista e acelerado que Henfil, entre nós, levou aos píncaros mais delirantes. Seu personagem típico era um cara careca de nariz batatudo, queixo noel-rosa, sempre cercado por sereias vulcânicas que ou se recusavam ao sexo com ele ou se ofereciam sem que ele percebesse. A sacanagem de Wolinski nada tinha da nossa sacanagem moreno-tropical, era o mundo daqueles magrelos e branquelos franceses, discutindo Godard ou Sartre mas pensando o tempo todo naquilo. Me identifiquei no ato.

Depois saíram álbuns dele aqui, pela Editora Três, se não me engano. Foi um alívio, porque o francês daqueles baluns era um dialeto críptico muito diferente do francês do “Cahiers do Cinéma”, que eu conseguia decifrar às apalpadelas. O humor era escrachado, e, pro meu temperamento cauteloso, ousado demais. Nem a turma do Pasquim pegava tão pesado quanto o daquelas publicações, o Charlie Hebdo, o Canard Enchainé, o Echo des Savanes, outros nomes que agora me vêm brotando na memória, por entre a fuzilaria.

Quando o sujeito passa 50 anos satirizando Deus e o Mundo, um destes dois acaba reagindo. Em geral não é Deus. Vi uma piada ótima na esteira do massacre, um twitter em inglês dizendo: “Eu sou Deus Todo Poderoso, sou Onisciente e Onipresente, o criador dos Tempos e dos Espaços, e posso muito bem aguentar uma porra duma piada”. Já o Mundo, infelizmente, não tem o mesmo senso de humor do Pai Eterno. Não sei ainda (alguém chegará um dia a saber?) se os assassinos são fanáticos ressentidos ou se são paus-mandados para apimentar uma crise geopolítica. Ou uma terceira coisa, ainda pior que estas duas. Mas é no meu artista que penso, o artista cujo rosto só vi, pela primeira vez, nos necrológios.

Disseram os sobreviventes que os Ninja-do-Mal entraram de rifles em punho na redação e “fizeram a chamada”, mandando que todos se identificassem para serem abatidos. Nas linhas que a tinta da História deixa em branco, todo mundo é capaz de rabiscar a lápis a lenda que mais lhe agrada.

Criei para mim a fantasia consolatória de que ao ouvir seu nome, pronunciado com ódio pelos enviados do ódio, Wolinski, 80 anos, uma vida plena, uma vida ganha, ligou o “foda-se”, ficou de pé e disse: “Wolinski sou eu. Algum problema?”

22 de janeiro de 2015
Anhangüera

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