Quer sentar em duas cadeiras ao mesmo tempo e inicia oposição contra o próprio governo.
Preocupados com o impacto do ajuste fiscal nas eleições municipais de 2016 e na imagem do PT, integrantes da corrente majoritária do partido Construindo um Novo Brasil (CNB) fizeram uma avaliação do cenário eleitoral em reunião na segunda-feira e tentaram afinar um discurso que passe a mensagem ao eleitorado de que não haverá prejuízo aos trabalhadores em meio a crescentes críticas internas contra a nova política econômica.
No encontro de mais de seis horas na sede do partido em Brasília, integrantes da corrente fizeram uma extensa avaliação do cenário eleitoral e demonstraram preocupação com o resultado nas grandes cidades diante de um quadro de recessão que pode aumentar o desemprego e reduzir a renda das famílias.
"Temos que dar atenção especial para os governos municipais. Em 2014 o resultado eleitoral foi ruim para nós. Ganhamos a eleição perdendo. Vencemos a disputa presidencial, mas tivemos regressão no desempenho do PT, com redução das bancadas federal e estaduais e desempenho abaixo do nosso histórico nos grandes centros", afirma o ex-deputado Paulo Ferreira, um dos coordenadores nacionais da CNB.
O cenário tende a se agravar, avaliam petistas, se o ajuste executado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, levar à recessão em 2015, com impacto no emprego e perdas para os trabalhadores. As primeiras ações da nova equipe econômica foram mudanças no seguro-desemprego, abono salarial e pensões por medida provisória (MP), seguidas por aumento de impostos sobre gasolina, movimentações financeiras, importações e cosméticos.
A nova política econômica será um dos principais temas do próximo encontro da direção nacional do PT, no início de fevereiro, em Belo Horizonte. A cúpula da corrente majoritária do partido, a CNB, da qual fazem parte a presidente Dilma e o ex-presidente Lula, tenta minimizar o descontentamento de parte do partido e pondera que o sucesso eleitoral de 2018 depende da defesa política inequívoca do ajuste de agora. O respaldo a Levy tem partido da Executiva do partido.
Mensagens dissidentes já aparecem dentro da sigla. Integrante do Diretório Nacional do PT, o deputado estadual Raul Pont (RS) diz que as medidas poderão prejudicar o desempenho do PT em 2016. "Essa visão de política econômica do ministro não combina com o que pensamos e defendemos no PT. É uma negação do discurso da presidente", afirma.
Pont, da corrente Democracia Socialista, a mesma do ex-secretário do Tesouro Nacional Arno Augustin e dos ministros Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência) e Pepe Vargas (Relações Institucionais), compara este início de mandato com os dois primeiros anos do governo Lula, quando Antonio Palocci (Fazenda) e Henrique Meirelles (Banco Central) promoveram uma política de austeridade. "Pagamos um preço enorme por isso nas eleições seguintes, quando o PT teve desempenho ruim nos municípios", diz.
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP), um dos líderes da tendência Mensagem ao Partido, diz que o PT ainda debaterá as medidas internamente e com Dilma. "O que for efetivamente combate à fraude [na Previdência] terá nosso apoio, mas vamos sugerir mudanças quando se tratar de revogação de direitos", afirma. "Me parece que a formulação inicial da MP precisa ser revista quando passar pelo Congresso", diz, ao negar impacto eleitoral.
A Central Única dos Trabalhadores (CUT), ligada ao PT e que fez campanha por Dilma, prepara uma marcha no dia 28, junto com as outras centrais, e um protesto no Congresso em 2 de fevereiro contra as mudanças. "É um governo em disputa. O arco de alianças contém progressistas e conversadores, e nosso papel é cobrar que seja colocado em prática o projeto defendido na campanha", diz o presidente da central, Vagner Freitas (PT). "O governo tem que dizer qual a claramente o que quer. Estamos preocupados com essa política recessiva junto com mudanças no seguro-desemprego."
O ex-ministro José Dirceu, que presidiu a sigla entre 1995 e 2002 e foi cassado no escândalo do mensalão em 2005, retomou reuniões políticas e publicou em ontem seu blog, pelo segundo dia seguido, que o país caminha para uma forte recessão. Citou a redução de 1,4% para 0,3% na previsão de crescimento da economia brasileira neste ano feita pelo FMI e afirmou torcer "para que uma projeção drástica do FMI - de que teremos algum crescimento este ano - se confirme, porque tudo indica que o que vamos ter é uma recessão, e das bravas no Brasil este ano".
A Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT e presidida pelo ex-presidente do IPEA Marcio Pochmann, também destacou ontem, em texto do economista Guilherme Mello, que as medidas "podem afetar a defesa dos ganhos sociais e de empregos dos anos recentes, dado o impacto recessivo". O texto diz que o governo Dilma "parece ver-se obrigado a coadunar parcialmente com os argumentos mercadistas (em particular na esfera fiscal), apesar de manter a orientação de buscar sempre a preservação dos empregos e da renda".
Responsável pela estratégia do PT para as eleições, o secretário de Organização, Florisvaldo de Souza, defende que ainda é cedo para discutir os efeitos das ações do ministro da Fazenda. "É precipitado achar que vai ter impacto nas eleições", diz. " O mais importante é que Dilma não está mexendo nas áreas sociais, que são muito caras ao PT. E não vejo redução dos direitos dos trabalhadores", afirma. "Na verdade o governo está fazendo um ajuste para manter o emprego".
Um Levantamento do Valor nos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre o segundo turno mostra como é justificada a preocupação do PT com o que pode acontecere ao partido nos grandes centros. Nas cidades com mais de 200 mil eleitores, importantes como polos formadores de opinião e de criação de novas lideranças e por terem os maiores orçamentos, o partido registrou queda com relação à 2010.
Há cinco anos, a presidente Dilma Rousseff (PT) bateu José Serra (PSDB) por 20 milhões de votos a 17 milhões nas médias e grandes cidades. Agora, perdeu para Aécio Neves (PSDB) por 22 milhões a 19 milhões. Ou seja, teve um milhão de votos a menos, mesmo com o eleitorado destes locais crescendo cinco milhões.
O que a salvou a campanha à reeleição de Dilma foram as pequenas cidades, com menos de 200 mil eleitores, em que ela abriu 7 milhões de votos de vantagem em relação ao tucano no ano passado. A perda de influência nas grandes cidades já era sentida em 2012, quando o PT só não reduziu o eleitorado governado por vencer a disputa pela Prefeitura de São Paulo.
22 de janeiro de 2015
Valor
in coroneLeaks
No encontro de mais de seis horas na sede do partido em Brasília, integrantes da corrente fizeram uma extensa avaliação do cenário eleitoral e demonstraram preocupação com o resultado nas grandes cidades diante de um quadro de recessão que pode aumentar o desemprego e reduzir a renda das famílias.
"Temos que dar atenção especial para os governos municipais. Em 2014 o resultado eleitoral foi ruim para nós. Ganhamos a eleição perdendo. Vencemos a disputa presidencial, mas tivemos regressão no desempenho do PT, com redução das bancadas federal e estaduais e desempenho abaixo do nosso histórico nos grandes centros", afirma o ex-deputado Paulo Ferreira, um dos coordenadores nacionais da CNB.
O cenário tende a se agravar, avaliam petistas, se o ajuste executado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, levar à recessão em 2015, com impacto no emprego e perdas para os trabalhadores. As primeiras ações da nova equipe econômica foram mudanças no seguro-desemprego, abono salarial e pensões por medida provisória (MP), seguidas por aumento de impostos sobre gasolina, movimentações financeiras, importações e cosméticos.
A nova política econômica será um dos principais temas do próximo encontro da direção nacional do PT, no início de fevereiro, em Belo Horizonte. A cúpula da corrente majoritária do partido, a CNB, da qual fazem parte a presidente Dilma e o ex-presidente Lula, tenta minimizar o descontentamento de parte do partido e pondera que o sucesso eleitoral de 2018 depende da defesa política inequívoca do ajuste de agora. O respaldo a Levy tem partido da Executiva do partido.
Mensagens dissidentes já aparecem dentro da sigla. Integrante do Diretório Nacional do PT, o deputado estadual Raul Pont (RS) diz que as medidas poderão prejudicar o desempenho do PT em 2016. "Essa visão de política econômica do ministro não combina com o que pensamos e defendemos no PT. É uma negação do discurso da presidente", afirma.
Pont, da corrente Democracia Socialista, a mesma do ex-secretário do Tesouro Nacional Arno Augustin e dos ministros Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência) e Pepe Vargas (Relações Institucionais), compara este início de mandato com os dois primeiros anos do governo Lula, quando Antonio Palocci (Fazenda) e Henrique Meirelles (Banco Central) promoveram uma política de austeridade. "Pagamos um preço enorme por isso nas eleições seguintes, quando o PT teve desempenho ruim nos municípios", diz.
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP), um dos líderes da tendência Mensagem ao Partido, diz que o PT ainda debaterá as medidas internamente e com Dilma. "O que for efetivamente combate à fraude [na Previdência] terá nosso apoio, mas vamos sugerir mudanças quando se tratar de revogação de direitos", afirma. "Me parece que a formulação inicial da MP precisa ser revista quando passar pelo Congresso", diz, ao negar impacto eleitoral.
A Central Única dos Trabalhadores (CUT), ligada ao PT e que fez campanha por Dilma, prepara uma marcha no dia 28, junto com as outras centrais, e um protesto no Congresso em 2 de fevereiro contra as mudanças. "É um governo em disputa. O arco de alianças contém progressistas e conversadores, e nosso papel é cobrar que seja colocado em prática o projeto defendido na campanha", diz o presidente da central, Vagner Freitas (PT). "O governo tem que dizer qual a claramente o que quer. Estamos preocupados com essa política recessiva junto com mudanças no seguro-desemprego."
O ex-ministro José Dirceu, que presidiu a sigla entre 1995 e 2002 e foi cassado no escândalo do mensalão em 2005, retomou reuniões políticas e publicou em ontem seu blog, pelo segundo dia seguido, que o país caminha para uma forte recessão. Citou a redução de 1,4% para 0,3% na previsão de crescimento da economia brasileira neste ano feita pelo FMI e afirmou torcer "para que uma projeção drástica do FMI - de que teremos algum crescimento este ano - se confirme, porque tudo indica que o que vamos ter é uma recessão, e das bravas no Brasil este ano".
A Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT e presidida pelo ex-presidente do IPEA Marcio Pochmann, também destacou ontem, em texto do economista Guilherme Mello, que as medidas "podem afetar a defesa dos ganhos sociais e de empregos dos anos recentes, dado o impacto recessivo". O texto diz que o governo Dilma "parece ver-se obrigado a coadunar parcialmente com os argumentos mercadistas (em particular na esfera fiscal), apesar de manter a orientação de buscar sempre a preservação dos empregos e da renda".
Responsável pela estratégia do PT para as eleições, o secretário de Organização, Florisvaldo de Souza, defende que ainda é cedo para discutir os efeitos das ações do ministro da Fazenda. "É precipitado achar que vai ter impacto nas eleições", diz. " O mais importante é que Dilma não está mexendo nas áreas sociais, que são muito caras ao PT. E não vejo redução dos direitos dos trabalhadores", afirma. "Na verdade o governo está fazendo um ajuste para manter o emprego".
Um Levantamento do Valor nos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre o segundo turno mostra como é justificada a preocupação do PT com o que pode acontecere ao partido nos grandes centros. Nas cidades com mais de 200 mil eleitores, importantes como polos formadores de opinião e de criação de novas lideranças e por terem os maiores orçamentos, o partido registrou queda com relação à 2010.
Há cinco anos, a presidente Dilma Rousseff (PT) bateu José Serra (PSDB) por 20 milhões de votos a 17 milhões nas médias e grandes cidades. Agora, perdeu para Aécio Neves (PSDB) por 22 milhões a 19 milhões. Ou seja, teve um milhão de votos a menos, mesmo com o eleitorado destes locais crescendo cinco milhões.
O que a salvou a campanha à reeleição de Dilma foram as pequenas cidades, com menos de 200 mil eleitores, em que ela abriu 7 milhões de votos de vantagem em relação ao tucano no ano passado. A perda de influência nas grandes cidades já era sentida em 2012, quando o PT só não reduziu o eleitorado governado por vencer a disputa pela Prefeitura de São Paulo.
22 de janeiro de 2015
Valor
in coroneLeaks
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