"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

O TEMOR E O HUMOR

Sempre publico os artigos de Percival Puggina com algum atraso. Explico o por quê: ele coloca o artigo em um determinado jornal (o de hoje foi o Zero Hora) e na maior parte das vezes o jornal não permite a reprodução nem de parte dos artigos. Aí, eu espero que ele poste o artigo em seu site, que nos é liberado. Então, nos manda um e-mail avisando que está lá (liberado). Como vampiros, voamos nele, porque é sempre um texto de primeira linha. Talvez um dia, haveremos de largar o pirulito e as calças curtas e nos tornarmos um passar a pagar salários para nossos articulistas, editores e redatores…  Expliquei bem o atraso? Perdão, pela demora…


Por Percival Puggina. Artigo publicado em 19.01.2015

Percival Puggina

Percival Puggina

 O ataque à revista Charlie Hebdo foi mais uma entre milhares de ações violentas praticadas por fanáticos muçulmanos contra “infiéis” de outros credos e, principalmente, por muçulmanos contra muçulmanos.

No momento em que escrevo, a contagem de tais atos, iniciada depois do ataque às Torres Gêmeas, registra 24,8 mil eventos. À chacina do Charlie, já se somam outros seis atentados no Paquistão, na Nigéria, no Líbano, no Afeganistão, no Egito e, novamente, na França, dia 9.Obviamente, entre 1,5 bilhão de muçulmanos, é pequena a parcela de fanáticos violentos, jihadistas, dispostos a passar o resto do mundo na espada. No entanto, o mundo está apreensivo. A numerosa concentração de chefes de Estado e de governo nas manifestações de Paris mostra que estamos diante de algo alarmante. Por isso, quero lembrar que, antes de ser um problema mundial, o terrorismo e o fanatismo islâmico violentos são, sobretudo, um tema para o Islamismo, tanto quanto o nazismo foi tema para os alemães, antes de se tornar problema internacional. Religião alguma deve se prestar a uma cultura de intolerância e violência! Não é de causar surpresa, portanto, diante dos fatos que estão em pleno desenvolvimento e motivando insistentes matérias jornalísticas, que já se possa identificar a existência de um temor ao Islã.

Não é inteligente nem sensato negar o óbvio. O mundo sabe. O terrorismo é o mal do século. E o medo cria reações irrefletidas ou insanas. Quem pranteia ou desfila pelos milhares de vítimas silenciosas do Boko Haram?

Reflitamos, agora, sobre a criminosa e repugnante execução dos jornalistas, artistas e humoristas da Charlie Hebdo. Seres humanos foram friamente fuzilados para “vingar a honra do Profeta”. Diante do ocorrido, uniram-se, com razão, as vozes do mundo num coro multilíngue, ecumênico e pluriétnico em favor da vida e da liberdade de imprensa, destacados valores da civilização ocidental. Não esqueçamos, porém, que o humorismo da revista, com frequência, é grosseiro, desrespeitoso e de mau gosto. Comete injúria religiosa, como quando representou graficamente o Pai, o Filho e o Espírito Santo em atos de sodomia. Há diferença entre a blasfêmia privada, para ofender a Deus, e a blasfêmia publicada para ofender a sensibilidade religiosa das pessoas. O ataque à revista tornou oportuno exaltarmos a liberdade de criação e de imprensa como apreciadíssimo valor da nossa cultura. Mas é bom lembrarmos – sem relação nem proporção entre causa e efeito – que o respeito aos demais, a seus valores, crenças e etnias é, também, um valor da civilização ocidental.

ZERO HORA, 18 de janeiro de 2015

 
22 de janeiro de 2015
Anhanguera
in Giulio Sanmartini

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