É isso, o Brasil não está dividido: o Brasil sempre foi dividido. E todo o ódio, o rancor e o preconceito despejados nas redes sociais desde a vitória da candidata do Partido dos Trabalhadores (PT), a presidente Dilma Rousseff, causaram espanto, mas também provocaram um resultado extremamente positivo.
A oposição conflitante de setores diferentes da sociedade, muitas vezes ocultada, foi obrigada a sair do armário, ficou explícita.
As reações pós-eleição, desde as mais infantis – como aquela bandeira do Brasil em preto e branco com a palavra “luto” – até as criminosas voltadas contra nordestinos e camadas mais pobres da população, serviram para mostrar o quanto ainda é preciso mudar.
A derrota apertada apenas escancarou a segmentação da sociedade brasileira. O discurso vazio de combate à corrupção usado por parte dos eleitores como principal argumento para derrotar o PT era apenas uma maneira de esconder sentimentos de classe não tão nobres.
Com os atores mais definidos, fica fácil até compreender de forma mais clara as manifestações do ano passado. Era um amontoado de insatisfação dividido entre grupos com interesses próprios. Havia, sim, reivindicação por uma pauta mais social – transporte público, educação, saúde, moradia –, como também havia reclamações de uma classe média-alta insatisfeita com a perda de poder financeiro e simbólico. O erro foi – e ainda é – querer entender aquela massa como um movimento uniforme, sem contradições no seu interior.
FISSURA SOCIAL
Essa fissura social iluminada pela vitória de Dilma pode ser, sim, considerada um saldo positivo, e não se trata de uma divisão entre bonzinhos e malvados, mas sim de visões de mundo divergentes, de ideologias diferentes.
O enorme desafio do próximo governo será justamente aprofundar uma pauta social e econômica diante desse quadro beligerante. Apesar do discurso de união e conciliação, a presidente já é cobrada por grupos contra e a favor da sua reeleição a tomar caminhos opostos.
Quem votou na presidente por convicção ou por rejeição ao candidato da oposição espera na verdade uma tomada de posição mais firme de Dilma em alguns temas negligenciados durante o primeiro mandato.
Há ainda uma enorme expectativa de como será a relação da presidente com o Congresso. Na primeira semana após a reeleição, deputados, inclusive da base, já deram o recado a Dilma ao derrotar o decreto regularizando os conselhos populares. Ali, tudo está como antes.
(transcrito de O Tempo)
A derrota apertada apenas escancarou a segmentação da sociedade brasileira. O discurso vazio de combate à corrupção usado por parte dos eleitores como principal argumento para derrotar o PT era apenas uma maneira de esconder sentimentos de classe não tão nobres.
Com os atores mais definidos, fica fácil até compreender de forma mais clara as manifestações do ano passado. Era um amontoado de insatisfação dividido entre grupos com interesses próprios. Havia, sim, reivindicação por uma pauta mais social – transporte público, educação, saúde, moradia –, como também havia reclamações de uma classe média-alta insatisfeita com a perda de poder financeiro e simbólico. O erro foi – e ainda é – querer entender aquela massa como um movimento uniforme, sem contradições no seu interior.
FISSURA SOCIAL
Essa fissura social iluminada pela vitória de Dilma pode ser, sim, considerada um saldo positivo, e não se trata de uma divisão entre bonzinhos e malvados, mas sim de visões de mundo divergentes, de ideologias diferentes.
O enorme desafio do próximo governo será justamente aprofundar uma pauta social e econômica diante desse quadro beligerante. Apesar do discurso de união e conciliação, a presidente já é cobrada por grupos contra e a favor da sua reeleição a tomar caminhos opostos.
Quem votou na presidente por convicção ou por rejeição ao candidato da oposição espera na verdade uma tomada de posição mais firme de Dilma em alguns temas negligenciados durante o primeiro mandato.
Há ainda uma enorme expectativa de como será a relação da presidente com o Congresso. Na primeira semana após a reeleição, deputados, inclusive da base, já deram o recado a Dilma ao derrotar o decreto regularizando os conselhos populares. Ali, tudo está como antes.
(transcrito de O Tempo)
Murilo Rocha
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