FALANDO EM LIVROS, HÁ IDIOTAS NO MUNDO INTEIRO
Lançado em abril, Adultério, de Paulo Coelho, já vendeu 65.000 exemplares no Brasil e 140.000 na França.
Alguém, que não seja leitor exclusivo das revistas Contigo e Capricho, compraria um livro chamado “Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor?”?
Pois é, esse livro caiu em minhas mãos porque sou um emérito fuçador de lixo. Isso mesmo, lixo. Outro dia, voltando da praia e aproveitando para fazer um exerciciozinho subindo as escadas de serviço do meu prédio, dei de cara com uma pilha de livros e revistas postos no corredor para irem para o lixo. Como eu tenho verdadeiro ódio de ver livros jogados fora, tratei de levá-los para casa, nem que fosse para dar um fim condigno a eles - para desespero da minha mulher, que pena com essas minhas manias.
E não é que para meu espanto e alegria havia uns dez livros “aproveitáveis” e que eu não havia lido ainda, incluindo uma relíquia sobre a obra de Camões? Havia Verissimo, Marcelo Rubens Paiva, Suassuna, Guilherme Figueiredo... Maravilha! Separei os que me interessavam e doei os outros a um bazar de caridade que existe aqui perto. Só que antes de doar o tal “Por que os homens(...)”, resolvi dar uma olhada para ver do que se tratava, afinal, para quem já leu Paulo Coelho, qualquer merda é livro.
Ao abrir a primeira página notei que a editora Sextante fez uma sacanagem. O livro em sua versão original chama-se “Why Men Don’'t Listen and Women Can’t Read Maps” - de Allan Pease e Barbara Pease -, algo como “por que homens não prestam atenção e mulheres não conseguem ler mapas”. Bem diferente de sexo e amor, não é mesmo?
Notei também que o livro estava “virgem”, sem sinais de leituras anteriores. Bom, pensei, quem lê Camões, obviamente não vai ler uma porcaria dessas. Mesmo assim prossegui a leitura e, para meu espanto, quando fui me dar conta estava na página 50! O livro é uma coletânea de pesquisas científicas sobre neurologia, antropologia, sociologia e psicologia, explicadas de maneira absolutamente concatenada, a respeito das diferenças do comportamento de homens e mulheres, desde a Idade da Pedra. E tem um “pique” muito bom.
Ontem, li até a página cem, sem que o livro perdesse seu ritmo de revelações interessantíssimas e surpreendentes, tanto que algumas me obrigaram a dar uma “googleada” para certificar sua veracidade.
Não sei se os donos da editora Sextante ficaram felizes ao dar esse título apelativo ao livro - já que foram vendidas 300 mil cópias - porque quem procura por uma razão no nível da revista Contigo para homens fazerem sexo e mulheres amor, não vai conseguir passar da página dez e quem procura por um assunto tão interessante não vai comprar o livro por causa do título “contigueano”. Enfim, atiraram no que viram e mataram o que não viram.
02 de julho de 2014
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