Deu no jornal: a casa da família da presidente Dilma Rousseff em Uberaba (494 km de Belo Horizonte) foi declarada patrimônio histórico. É uma construção de 1938, de porta, janela e varanda com escadinha, como tantas. Em solteira, a mãe de Dilma morou ali com os pais. Casou-se com Pedro Rousseff e os dois se mudaram para Belo Horizonte, onde Dilma nasceu, em 1947. A menina só conheceu a casa nas vezes em que voltou à cidade para visitar o avô. Deve ter rabiscado seu nome a lápis em algumas paredes, não mais.
Para um imóvel se tornar patrimônio histórico, submete-se a um processo que o considere de utilidade pública. Daí é tombado e desapropriado, pagando-se ao proprietário um valor arbitrado por um órgão oficial. A casa, vazia e em mau estado, ainda pertence à família de Dilma. A ideia é transformá-la num memorial dos presidentes brasileiros, com os recursos do Ibram (Instituto Brasileiro de Museus) e do Ministério da Cultura.
O prédio não tem qualquer interesse arquitetônico ou histórico, mas o prefeito de Uberaba é aliado político de Dilma e capaz de envolver órgãos federais nesse ato de puxa-saquismo explícito. Houve quem se revoltasse ao ler a notícia, mas prefiro vê-la por um ângulo otimista.
Se há dinheiro para salvar o sobradinho do vovô, não deverá faltar para recuperar, por exemplo, as magníficas edificações da antiga Universidade do Brasil, na Praia Vermelha, construídas por d. Pedro 2º, em 1852. A Reitoria era originalmente o Hospital dos Alienados, onde Lima Barreto foi internado em 1914 e 1919. A cultura brasileira deve muito ao complexo por inteiro. Na Faculdade de Arquitetura, aconteceu em 1959 o primeiro grande show de bossa nova.
Ao passar por ali, hoje, a sensação é de abandono. Mas o MinC parece ter outras prioridades em matéria de patrimônio histórico.
09 de janeiro de 2014
Ruy Castro é Jornalista e Escritor. Originalmente publicado na Folha de S. Paulo em 9 de Dezembro de 2013.
Ruy Castro é Jornalista e Escritor. Originalmente publicado na Folha de S. Paulo em 9 de Dezembro de 2013.
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