Desempenho, que será anunciado nesta quinta-feira deve ser o pior dos últimos 13 anos e pode até fechar no negativo pela 1ª vez desde 2001
BRASÍLIA - A crise financeira e a criatividade contábil do governo Dilma Rousseff derrubaram no ano passado o saldo do comércio exterior brasileiro, depois de mais de uma década de superávits acima dos US$ 10 bilhões. O resultado oficial, que será anunciado nesta quinta-feira, tende a ficar no menor patamar dos últimos 13 anos, ou mesmo fechar no negativo pela primeira vez desde 2001.
Importações realizadas em 2012 mas somente registradas em 2013 e exportações de plataformas de petróleo que sequer saíram do Brasil embaralharam a missão de entender o comércio exterior brasileiro, criando uma contabilidade criativa na chamada "conta petróleo", apontam especialistas consultados pelo Estado.
Até a segunda semana de dezembro, o Brasil tinha exportado US$ 1 bilhão a mais do que importado no ano de 2013, resultado que não deve ser alterado pelos dados das duas últimas semanas do mês passado, segundo projeções do setor privado e do próprio governo.
A reversão de 2012 a 2013 foi violenta: o saldo comercial despencou mais de 90%. A queda não teria sido tão grande caso um volume estimado em cerca de US$ 5 bilhões em importações de petróleo e derivados não tivessem sido registradas pelo governo em 2013. As compras do combustível no exterior ocorreram em 2012, mas a área técnica do governo prorrogou a inscrição deste dado para a balança comercial de 2013. Por isso, o ano começou com grandes rombos externos.
No entanto, esse sinal vermelho das contas foi "consertado" por outra operação envolvendo o setor de petróleo. Até a terceira semana de dezembro, as exportações de plataformas de petróleo somaram US$ 7,73 bilhões, resultado 351% superior a igual período de 2012. Mas com um detalhe importante: essas plataformas nunca deixaram o País. Contabilizadas como exportações, auxiliaram a conta do comércio exterior nacional.
Menos força. Na visão de técnicos do governo, a contabilidade criativa nas contas da balança comercial não "mascararam" o quadro inevitável para 2013: diante da piora no cenário global, as exportações como um todo perderam força, uma vez que há menos mercados com recursos para absorver nossos produtos. Ao mesmo tempo, a penetração dos importados no consumo doméstico brasileiro tem sido crescente, apesar da desaceleração da economia.
De acordo com Welber Barral, diretor da Barral M Jorge Consultores Associados e ex-secretário de comércio exterior do Ministério do Desenvolvimento, o quadro deve melhorar em 2014, mas o País não deve voltar a conviver tão cedo com saldos comerciais na casa dos dois dígitos. "Nos últimos anos, concentramos as exportações em produtos primários, e as importações em bens mais sofisticados. Também convivemos com uma valorização excessiva do real, o que dificulta as exportações da indústria", diz Barral. "Nesse cenário, nosso saldo despenca sempre que o preço dos bens primários cai no mercado internacional."
Câmbio. De acordo com a economista Gabriela Fernandes, especialista em comércio exterior do Departamento Econômico do Itaú Unibanco, o saldo da balança deve se aproximar de US$ 7 bilhões neste ano, constituindo uma "leve melhora" sobre o quadro verificado em 2013. "Mas essa melhora será resultado mais da desaceleração das importações, devido à desvalorização cambial, do que uma melhora das exportações."
Entre janeiro e a segunda semana de dezembro, a balança comercial registrou exportações de US$ 236,9 bilhões e importações de US$ 235,9 bilhões.
02 de janeiro de 2013
João Villaverde
Até a segunda semana de dezembro, o Brasil tinha exportado US$ 1 bilhão a mais do que importado no ano de 2013, resultado que não deve ser alterado pelos dados das duas últimas semanas do mês passado, segundo projeções do setor privado e do próprio governo.
A reversão de 2012 a 2013 foi violenta: o saldo comercial despencou mais de 90%. A queda não teria sido tão grande caso um volume estimado em cerca de US$ 5 bilhões em importações de petróleo e derivados não tivessem sido registradas pelo governo em 2013. As compras do combustível no exterior ocorreram em 2012, mas a área técnica do governo prorrogou a inscrição deste dado para a balança comercial de 2013. Por isso, o ano começou com grandes rombos externos.
No entanto, esse sinal vermelho das contas foi "consertado" por outra operação envolvendo o setor de petróleo. Até a terceira semana de dezembro, as exportações de plataformas de petróleo somaram US$ 7,73 bilhões, resultado 351% superior a igual período de 2012. Mas com um detalhe importante: essas plataformas nunca deixaram o País. Contabilizadas como exportações, auxiliaram a conta do comércio exterior nacional.
Menos força. Na visão de técnicos do governo, a contabilidade criativa nas contas da balança comercial não "mascararam" o quadro inevitável para 2013: diante da piora no cenário global, as exportações como um todo perderam força, uma vez que há menos mercados com recursos para absorver nossos produtos. Ao mesmo tempo, a penetração dos importados no consumo doméstico brasileiro tem sido crescente, apesar da desaceleração da economia.
De acordo com Welber Barral, diretor da Barral M Jorge Consultores Associados e ex-secretário de comércio exterior do Ministério do Desenvolvimento, o quadro deve melhorar em 2014, mas o País não deve voltar a conviver tão cedo com saldos comerciais na casa dos dois dígitos. "Nos últimos anos, concentramos as exportações em produtos primários, e as importações em bens mais sofisticados. Também convivemos com uma valorização excessiva do real, o que dificulta as exportações da indústria", diz Barral. "Nesse cenário, nosso saldo despenca sempre que o preço dos bens primários cai no mercado internacional."
Câmbio. De acordo com a economista Gabriela Fernandes, especialista em comércio exterior do Departamento Econômico do Itaú Unibanco, o saldo da balança deve se aproximar de US$ 7 bilhões neste ano, constituindo uma "leve melhora" sobre o quadro verificado em 2013. "Mas essa melhora será resultado mais da desaceleração das importações, devido à desvalorização cambial, do que uma melhora das exportações."
Entre janeiro e a segunda semana de dezembro, a balança comercial registrou exportações de US$ 236,9 bilhões e importações de US$ 235,9 bilhões.
02 de janeiro de 2013
João Villaverde
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