Confira-se ao PT o desconto da surpresa. O partido, assim como todo o mundo político, ainda está aturdido com um movimento que estava fora do radar geral.
Natural, portanto, que as reações sejam desencontradas e em boa medida conflitantes entre si, quando não incongruentes. Enquanto rezavam no altar do governismo, Eduardo Campos e Marina Silva eram irrepreensíveis, mas no momento em que resolveram acumular forças para enfrentar o governo passaram a ser tidos como conservadores, incoerentes, retratos prontos e acabados do oportunismo eleitoral.
Uma lógica fundada no preceito do faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.
De uma hora para outra os petistas começaram mesmo a externar preocupação com o destino do PSDB, lamentando os prejuízos que a filiação de Marina ao PSB levará à candidatura de Aécio Neves. Como se os tucanos não fossem seus adversários tão tradicionais quanto preferenciais.
De um modo geral, as análises construídas no PT ainda sob o calor do fato novo enxergam riscos e problemas na aliança entre a ex-senadora e o governador de Pernambuco.
Os petistas reagem penalizados com a gama de obstáculos que veem no horizonte dessa aliança e avaliam que houve um ganho inequívoco para a campanha da presidente Dilma Rousseff. Nesta versão, a maior - senão a única - beneficiária da união de dois ex-aliados contra sua reeleição.
Ora, se as coisas são tão complicadas assim, se há mais dificuldades que facilidades à frente de Marina e Campos, por que se preocupa tanto o PT? Deveria festejar. Mas, ao que tudo indica, o sentimento real que transparece nessas reações é o receio do desconhecido.
Nesses anos de grande poderio os petistas se acostumaram com a simplificação da disputa com os tucanos, contra os quais têm roteiro pronto, repetido a cada eleição, e se desacostumaram com o enfrentamento. A regra agora mudou: foram desafiados por gente oriunda de seu campo que passa a formar um polo de oposição cujo maior trunfo é não se contrapor às qualidades, mas ter nascido e crescido em terreno semeado pelos defeitos do PT.
Nó a desatar. Uma questão se apresenta para as próximas pesquisas de opinião: o nome de Marina Silva continuará a ser incluído na lista dos candidatos à Presidência? Provavelmente sim, porque os institutos de pesquisas não estão submetidos às condicionantes dos partidos.
Nesta hipótese será difícil, para não dizer impossível, medir o efeito eleitoral da união da ex-senadora com o governador de Pernambuco, cujo nome consta no rol de opções apresentadas aos pesquisados e, assim, em tese um adversário e não um aliado de Marina.
De onde a decisão para a formação da chapa, se mantida a disposição dela de ocupar o lugar de vice, não poderá ter como parâmetro só a leitura numérica.
Calça curta. O senador Aécio Neves falava ao telefone em tom tranquilo, pesava e media palavras logo após a divulgação da aliança Campos-Marina que o alcançou em Nova York.
Até que não aguentou: "Eu chego aqui justamente no meio de um barulho desses!".
Além do limite. É uma armadilha da qual o poder público terá de encontrar um jeito de escapar: se a polícia reprime movimentos violentos, eles ganham adesão social e, em consequência, tornam-se mais ousados e violentos. Se não reprimem o vandalismo, os governos são omissos.
Talvez fosse o caso de figuras proeminentes do País e dos próprios manifestantes de causas legítimas levarem em conta uma evidência: o uso da força é prerrogativa do Estado e a observância da ordem um direito de todos.
09 de outubro de 2013
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