Não importam agora as razões pelas quais o Banco Central repentinamente entendeu que as despesas excessivas do governo deixassem de ser causa de inflação "em horizonte relevante para a política monetária". Importa agora o fato de que o Banco Central não espera, mais contar com a colaboração da política fiscal (aumento de receitas e contenção de despesas) para atacar a inflação.
Se as palavras têm significado e consequência, como advertia nos anos 60 o senador gaúcho Brochado da Rocha, segue-se que, em caso de puxada da inflação, o único antídoto à disposição do Banco Central é o aumento dos juros básicos (Selic), mesmo que seja necessário perfurar o teto dos dois dígitos, tabu do governo Dilma.
Não será o único fator a pressionar os integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) na reunião que teve ontem sua primeira parte e que terminará hoje, com o objetivo de rever os juros.
Desde sábado, o ingrediente político do bolo de rolo monetário ficou mais importante com a adesão da ex-senadora Marina Silva à pré-candidatura de oposição à Presidência da República do atual governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
Se um recado relevante foi passado à presidente Dilma pelos protestos de junho, foi o de que seu governo fora complacente demais com a inflação. Deixou que a alta de preços esmerilhasse o poder aquisitivo do trabalhador a ponto de um reajuste de 20 centavos na tarifa de transporte coletivo urbano (no caso de São Paulo) fizesse diferença no orçamento e o levasse à mobilização. Ou seja, se antes da organização da oposição à candidatura Dilma a um segundo mandato, o combate à inflação exigia mais empenho, mais ainda exigirá agora. Será corrosivo potencialmente forte para a candidatura Dilma se esse flanco exposto for explorado com eficiência pela oposição.
Embora variáveis eleitorais não sejam formalmente discutidas no Copom, o Banco Central sabe agora que está sozinho na parada do contra-ataque à inflação. Mais, que será mais especialmente cobrado a partir de agora.
Embora seus documentos de gerenciamento de expectativas venham dizendo que a inflação continua espalhada e resistente, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, tem repetido que não espera estocadas que exijam redução do volume de moeda na economia maior do que a já encomendada. A principal ameaça ele não controla. Provém da falta de colaboração da política fiscal, como ficou dito acima. Foi este, também, um dos fatores que levaram na semana passada a agência Moody's de avaliação de risco a justificar a ameaça de rebaixamento da dívida pública brasileira.
Por enquanto não se espera nenhuma surpresa dos juros básicos. O Copom deverá puxá-los hoje em mais meio ponto porcentual, para 9,5% ao ano. Continua no ar a pergunta sobre até que ponto, na última reunião do ano, em 26 de novembro, o Copom estará disposto a limitar o aumento dos juros a 0,25 ponto porcentual, apenas para evitar os juros de dois dígitos (a partir de 10% ao ano). O risco é o de que, se faltar neste ano, o resto do corretivo tenha de ser aplicado em hora imprópria, às vésperas das eleições.
09 de outubro de 2013
Celso Ming,
O Estado de São Paulo
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