Discípula de Chico Mendes, Marina Silva aprendeu com “o herói dos Povos da Floresta” uma tática de resistência pacífica empregada contra os desmatadores da Amazônia. Chamava-se “empate” e consistia em reunir mulheres e crianças para com elas formar uma barreira humana que era colocada entre os tratores, as motosserras e as árvores a serem abatidas, deixando o inimigo sem ação. Se não o vencia, pelo menos impedia o seu avanço. Em um desses confrontos, que se tornou lendário, cerca de cinquenta policiais armados tentavam garantir o desmatamento diante de cem seringueiros. De repente, estes começaram a cantar o Hino Nacional e os soldados se perfilaram em posição de sentido. Só restou ao comandante da operação suspender a derrubada.
Nessas histórias, que ouvi há mais de 20 anos no Acre, quando a conheci, aparecia sempre uma figura magra como um graveto que se destacava pela coragem e disposição, apesar de portadora de várias doenças da selva, inclusive uma contaminação por mercúrio. Lembrei-me disso ao ouvir esta semana relatos de quem acompanhou de perto a inesperada decisão de Marina de se filiar ao PSB, desarrumando o quadro político e desorientando o adversário, que, como se estivesse num “empate”, ainda está sem saber o que fazer. Foi assim que respondeu à discutível negação do registro de seu novo partido. Tida por alguns como indecisa e por outros como “caótica”, a Marina da madrugada de sexta-feira para sábado, quando se decidiu, foi outra muito diferente, na opinião dos que estavam com ela. Um deles, o deputado Miro Teixeira, que colaborou na criação da Rede, ficou impressionado com a “capacidade de liderança e a firmeza na decisão” da sua aliada. Segundo ele, foi ela quem teve a original ideia da aliança e quem tomou a iniciativa de propô-la ao governador Eduardo Campos.
Não se sabe o que vai ser desse casamento, tão comemorado, depois da lua de mel. De qualquer maneira, ele conseguiu abalar o esquema bipolar FHC x Lula e alterar um panorama que já era dado como definitivo. Foi a grande, inédita novidade política em meio ao marasmo destes últimos tempos.
Até quando será permitido que vândalos mascarados se infiltrem nas passeatas de protesto, promovendo quebra-quebra e saques de lojas? A Ordem dos Advogados do Brasil classificou os policiais como “jagunços” pelos excessos cometidos nas manifestações. Muito bem. Mas que classificação ela daria aos baderneiros que anteontem mais uma vez levaram o caos ao Centro da cidade depois da marcha pacífica dos professores?
09 de outubro de 2013
Zuenir Ventura, O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário