Artigos - Movimento Revolucionário
Toda essa gritaria contra o Tea Party indiretamente justifica o mensalão e a compra de votos do Congresso, tudo em nome da “governabilidade”, um eufemismo canalha para caracterizar um congresso irrelevante ou conivente.
A imprensa brasileira, sempre obediente, continua repetindo o que manda a esquerda americana: o congresso atrapalha o aiatolá. Ah se ele pudesse gastar como quisesse, não? Os ianques têm muito o que aprender com o Brasil!
Nos EUA, como não tem Renan Calheiros, José Sarney e similares, o governo tem realmente que negociar o mérito das questões no congresso, não basta um ministério e uma diretoria de estatal aqui, a liberação de verba para uma ponte acolá, que tudo se resolve. Ted Cruz não é Severino Cavalcanti, para horror da tropa de choque obamista.
Como o voto é distrital e o congressista é cobrado no seu distrito pelas promessas de campanha (por exemplo, repelir o desastroso Obamacare), o político acaba, vejam vocês, realizando em Washington o que ele prometeu que ia fazer aos eleitores. Agora tente explicar isso para um jornalista ou analista político brasileiro.
A batalha no congresso americano pelo orçamento federal é uma prova da vitalidade do sistema democrático, com longa tradição no país, e deveria servir como propaganda para a adoção do voto distrital e do fortalecimento do poder legislativo por aqui, que tem entre suas atribuições formais controlar e fiscalizar o executivo. Pior que o congresso atual, só congresso nenhum, como chegou a sugerir recentemente o inacreditável Cristovam Buarque.
Quem fica escandalizado com a política americana em pleno funcionamento num sistema republicano com reais separações entre poderes, não entende a página um do que é democracia.
Os argumentos mais comuns dos radicais obamistas são risíveis:
1. “O presidente foi eleito, deveriam respeitam a vontade do eleitor.” – Os congressitas não foram eleitos também? Seus eleitores não merecem o mesmo respeito?
2. “Os republicanos possuem uma ala radical” – Os democratas não? Tente conhecer o que pensam diversos congressistas do partido do governo, há todo tipo de radical ideológico e maluco, como por exemplo o deputado Hank Johnson, da Geórgia, que pediu a retirada das tropas da ilha de Guam, no Pacífico, porque o peso deles poderia afundar a ilha.
3. “Os republicanos deveriam se render” – O Brasil não tem oposição, a base aliada do governo aqui é proporcionalmente maior do que na Venezuela. Precisa mesmo explicar a importância de haver oposição?
4. “A estratégia foi impopular” – Os dois lados perderam aos olhos da opinião pública e Obama está com recorde negativo de aprovação no cargo. Além disso, há uma sutileza importante: pesquisas com “registered voters” (eleitores que podem votar) não querem dizer muita coisa, o que importa são os “likely voters”, quem realmente vota.
Os eleitores registrados que não votam normalmente são uma parcela da população pouco informada ou pouco interessada em política, muito influenciada pelo noticiário, e que portanto é ótima para passar a idéia de que o eleitorado pensa o que os jornalistas gostariam que pensassem, o que muitas vezes não tem conexão com o que acontece nas urnas.
Toda essa gritaria contra o Tea Party indiretamente justifica o mensalão e a compra de votos do Congresso, tudo em nome da “governabilidade”, um eufemismo canalha para caracterizar um congresso irrelevante ou conivente.
Quando a imprensa grita contra os congressistas da oposição americana, o que está sentindo falta mesmo é do Renan Calheiros.
Publicado na Reaçonaria
19 de outubro de 2013
Alexandre Borges é diretor do Instituto Liberal.
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