"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 19 de outubro de 2013

JORNALISMO: UM OFÍCIO PERIGOSO NA AMÉRICA LATINA

                        
          Internacional - América Latina 
Os esforços de proteção não servirão de nada se não existe um dispositivo de luta contra a impunidade à altura da situação atual.
Ricardo Puentes Melo afirma que sua posição ideológica, as críticas ao presidente Santos e em particular a advertência de que as FARC atentariam contra o ex-presidente Álvaro Uribe, determinaram a retirada de sua proteção.

Investigar e informar não acarreta problemas a um jornalista em uma sociedade democrática, porém, quando ele precisa prealizar suas atividades sob um regime de forças ou em meio de grupos irregulares que dirimem suas diferenças por meio da violência extrema, o jornalismo torna-se um ofício particularmente perigoso. Sob essas circunstâncias, o exercício de informar está sujeito às limitações que impõem as diferentes fontes de poder que concorrem nessa sociedade, por isso quando os jornalistas transgridem os limites que os poderosos impõem, convertem-se para os depredadores no objetivo a destruir, sejam estes governos ou sicariatos.

Isto exemplifica as declarações do presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP por sua sigla em espanhol), Jaime Mantilla, em Honduras, que manifestou que as ações do crime organizado, do narcotráfico, dos governos autoritários e da impunidade, são as maiores ameaças à liberdade de expressão na América Latina.


Mantilla acrescentou: “Agora mais do que nunca o narco-tráfico e o crime organizado atentam contra a liberdade de expressão, assassinando e ameaçando jornalistas”. 

Recentemente o diretor para as Américas de “Repórteres sem Fronteiras”, Benoit Hervieu, disse no Chile que a violência física contra os jornalistas e a elevada polarização política, são as principais ameaças para a liberdade de informação no hemisfério.

Segundo informes da Rede de Intercâmbio Internacional pela Liberdade de Expressão na América Latina e o Caribe, mais de 74 jornalistas foram assassinados no hemisfério entre 2010 e 2012; nesse período só em Honduras foram mortos 21 jornalistas, embora outras entidades afirmem que foram 35 as vítimas.


Repórteres sem Fronteiras destaca em um documento que no Brasil foram assassinados três jornalistas, na Guatemala outros dois, e no Haiti, México, Paraguai, Peru e Equador, foram registrados um assassinato por país só neste ano.


Situações extremas apresentaram-se no México. Desde o ano 2000 até o presente, foram assassinados 103 jornalistas. No Brasil, desde 1992 até os dias atuais, mataram, segundo o Comitê de Proteção aos Jornalistas, 27 comunicadores, onze dos quais foram mortos nos últimos três anos.


Na Colômbia, uma das mais sólidas democracias do continente mas agitada pelas narcoguerrilhas e outros grupos irregulares como os paramilitares, os jornalistas pagaram uma cota de sangue por defender seu direito de informar. Uma jornalista investigativa, Diana Calderón, reportou que entre 1993 e 2008, foram assassinados 1127 jornalistas, 57 dos quais estavam vinculados à prática profissional.


Outro informe do CPJ denunciou o assassinato de um vendedor de jornais de um diário colombiano e o crime de Edison Alberto Molina, um advogado e político que conduzia um programa no qual denunciava atos de corrupção governamental. Por sua parte, Repórteres sem Fronteiras solicitou ao governo colombiano proteção para Gonzalo Guillén, León Valencia e Ariel Ávila por planos de assassinatos contra eles, ao mesmo tempo em que demandava que se investigasse judicialmente a conspiração criminal da qual são vítimas os comunicadores.


Mais recentemente, o “Centro de Pensamento Primeiro Colômbia” avisou sobre o risco que poderia correr o diretor do portal Periodismo sin Fronteras, Ricardo Puentes Melo, após a decisão oficial de retirar-lhe o esquema de proteção designado pelo governo, uma vez que desde o ano de 2000 a Colômbia conta com um Programa de Proteção aos Jornalistas e Comunicadores Sociais.


De acordo como o Primeiro Colômbia, a organização que Pontes Melo dirige fez graves revelações da condução política do governo do presidente Juan Manuel Santos, e que por isso lhe retirou a proteção, situação que o diretor da Unidade Nacional de Proteção, Andrés Villamizar, nega, declarando que as medidas são retiradas quando os estudos de um comitê especializado assinalam que o risco desapareceu.


Entretanto, Puentes afirma que sua posição ideológica, as críticas ao presidente Santos e em particular a advertência de que as FARC atentariam contra o ex-presidente Álvaro Uribe, determinaram a retirada de sua proteção.


Jaime Mantilla, em sua condição de presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa afirma que os Estados Unidos são os responsáveis por garantir a segurança e a liberdade de expressão, porém que muitos governos cumprem com suas atribuições constitucionais, enquanto Repórteres sem Fronteiras afirma que 
“os esforços de proteção não servirão de nada se não existe um dispositivo de luta contra a impunidade à altura da situação atual”, e lembra que “nos últimos tempos multiplicaram-se as ameaças, os ataques e os atentados contra os jornalistas, e também contra defensores dos direitos humanos, representantes sindicais e ativistas das comunidades”.
 
O que foi dito acima leva a uma conclusão: nossas liberdades e direitos estão em perigo até nas democracias. O que vamos fazer? 

19 de outubro de 2013

Pedro Corzo              
Tradução: Graça Salgueiro

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