"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

PAREM AS MÁQUINAS! PAULO BETTI CONTRA O LEILÃO DO PRÉ-SAL

“Que cena infame e vil… Meu Deus! Meu Deus! Que horror!”


Tá, eu confesso certas coisas da minha biografia. Eu sei de cor “O Navio Negreiro” desde os nove anos. Meio gordinho, de óculos, declamando “Navio Negreiro”. Eu também tirava boas notas.“Huuummm…”, dirão os inimigos. Mas nada disso deixou sequelas. Não adianta Paula Lavigne tentar arrancar alguma confissão deste escriba. Não sofria bullying. Posava de malandro driblando a vigilância da escola pra fumar. Era o meu contato com o “fundão”. “É CDF, mas fuma…”
 
Os erros compõem nossa vida com a mesma importância dos acertos. Os meus desejos de justiça nasceram junto algum apreço pela estética, como se vê. Mudou com o tempo o meu pendor condoreiro. Mas não vou falar de poesia. É que o verso de Castro Alves pipocou na minha cabeça ao ver um sujeito se esgoelando na televisão:
 
“Que cena infame e vil… Meu Deus! Meu Deus! Que horror!”
 
Não tinha, admito, gravidade nem remotamente parecida com o “sonho dantesco” descrito por Castro Alves. Era só o ator Paulo Betti, falando em nome da FUP (Federação Única dos Petroleiros), contra o leilão do campo de Libra. É uma propaganda (“comercial”, se dizia quando eu era criança) de TV. Lá está o homem, escandindo todas as sílabas, num estilo que lembra Enéas Carneiro, mas sem barba e de topete, a anunciar que o leilão significa a entrega das nossas riquezas a estrangeiros gananciosos.
“Que cena infame e vil… Meu Deus! Que horror!”
 
Esse rapaz não é aquele que, em 2006, na campanha pela reeleição de Lula, referindo-se ao mensalão, deixou inscrita uma frase que jamais vai se descolar de sua biografia — na hipótese de que alguém se interessasse por ela:
 
“Não dá para fazer [política] sem botar a mão na merda”. Ao que emendou, então, Wagner Tiso, o Espinosa dos arranjos: “Não estou preocupado com a ética do PT. Acho que o PT fez um jogo que tem que fazer para governar o país”.
 
Pergunta: Betti aceitou o papel “de grátis”, como diz o povo, ou houve ao menos uma ajuda de custo? Ele fala aquelas coisas vergonhosas por pragmatismo argentário ou por convicção mesmo? Uma coisa depõe contra a moral; a outra, contra a inteligência.
 
Só para deixar a coisa completa, leitor amigo: o diabo é diabo porque é velho, não porque é sábio. A única vantagem de envelhecer é ter uma memória mais longa — para quem a conserva. Betti era militante petista, sim, desde a década de 80. Em julho de 2001, no entanto, a Folha publicava este texto (fragmento em vermelho):
 
Militante devotado do Partido dos Trabalhadores desde os anos 80, o ator e diretor Paulo Betti, 48, admite votar no candidato tucano à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Sem constrangimento aparente, Betti integrou a comitiva presidencial que ontem visitou a metalúrgica Bardella, em Sorocaba, cidade natal do ator. Betti, que capta recursos para rodar o filme “João de Camargo”, foi convidado pelo cerimonial do Palácio do Planalto.
 
Nas últimas três eleições presidenciais, o ator declarou apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas descartou um quarto voto no petista. “Nunca lhe neguei voto, mas Lula jamais foi assistir a uma peça minha”, afirmou. FHC também nunca o prestigiou, mas o ator considera-o mais interessado em cultura do que o presidente de honra do PT. “Com Fernando Henrique posso conversar sobre literatura, antropologia e sociologia. É chato falar com quem só se interessa por futebol”, disse.
(…)
 
Retomo
Cinco anos depois, lá esteve ele a fazer considerações sobre meter a mão na merda. Agora, aparece estrelando a campanha búcefala da FUP. Tudo em nome, estou certo, da literatura, da antropologia e da sociologia.
PS – Ninguém vai perguntar para Chico Buarque, Caetano Veloso e Djavan o que eles pensam sobre o leilão do Campo de Libra?
 
18 de outubro de 2013
Por Reinaldo Azevedo

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